Liguei a TV agora pela manhã e vi uma Paris hollandaise cinzenta e chuvosa. Mesmo assim, certamente cheia de turistas brasileiros macaqueando em frente à Torre Eiffel, aqueles mesmos que apontam São Paulo como cidade cinzenta, chuvosa e… poluída por excelência. (Bien, aqui já vimos que SP, justo por conta da síndrome do Patinho Feio, não é exatamente a cidade mais poluída do Brasil).
Pois bem, agora é o verde: a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente estudou o índice verde da cidade e chegou aos seguintes números (do Estadão):
A mancha urbana de São Paulo tem 2,6 metros quadrados, em média, de área verde pública de lazer – que engloba praças e parques – por pessoa. […] alguns bairros, na região central e na periferia, enfrentam paisagens ainda mais cinzentas. Mesmo com a maior área de mata da cidade, Parelheiros, por exemplo, tem 0,29 m² de praças e parques por habitante, pior resultado.
Para medir o verde da cidade, a Prefeitura usa dois índices diferentes. No primeiro, composto apenas por áreas públicas que podem ser frequentadas pela população, a capital deixa a desejar. O segundo, que inclui grandes áreas de preservação ambiental fora do perímetro urbano e nos extremos da cidade, como as Serras do Mar e da Cantareira, é de 12,5 m² de área verde por pessoa, atingindo a meta internacional de 12 m² por habitante.
Apesar de ter a segunda maior área de Mata Atlântica do País (atrás de Santa Catarina), São Paulo tem resultado geral menor do que Curitiba, por exemplo, com 64,2 m² por cidadão.
Os critérios de medição criam polêmica entre os especialistas. “O problema de São Paulo é distribuição espacial de cobertura vegetal, com índices bons em áreas rurais e em bairros como Pacaembu e Jardim Europa, e baixíssimos no centro” […]
A Mooca, na zona leste, por exemplo, é um dos locais que apresentam situação crítica. Lá, o índice de verde por habitante é de 0,35 m². Como na maioria da cidade, a falta de planejamento é responsável pelo excesso de concreto. “Na Mooca, o que predominou foi o uso industrial. Nas periferias, a ocupação foi irregular”, diz Patrícia.
Os índices de áreas de lazer são menos de 1 m² por pessoa em mais de um terço das subprefeituras da cidade. Enquanto isso, bairros de classe média de zona oeste estão bem acima de média geral.
Concorrência. A falta de verde faz com que o pouco que exista seja disputado. É o que ocorre em Pinheiros, na zona oeste, com seus bem distribuídos 5,25 m² de verde de lazer por habitante. A Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro, mais conhecida como Praça do Pôr do sol*, fica lotada nos fins de semana. “É democrático que pessoas de toda a cidade usem espaços como este nos bairros nobres”, diz a professora Sílvia Bittencourt, de 58 anos, moradora do bairro.
Com o objetivo de difundir áreas verdes, a Prefeitura tem a meta de criar cem parques. Hoje, são 81 – 43 criados desde 2005. “Estamos correndo atrás do prejuízo, não se muda uma realidade de 50 anos em quatro ou cinco anos”, diz Patrícia.
A ambientalista e integrante da Rede Nossa São Paulo, Nina Orlow, alerta que não basta a criação dos espaços. “A secretaria aumentou o número de parques e praças, mas a manutenção é desleixada”, diz Nina. No Parque Linear do Taboão, na zona leste, a reportagem do Estado encontrou até barracos.
Um dos principais problemas enfrentados pela Prefeitura na criação de novos espaços verdes é a supervalorização dos terrenos. Uma das alternativas para amenizar o problema é investir nos parques lineares, nas margens dos rios, que são áreas públicas, aponta o ambientalista Mário Mantovani, da SOS Mata Atlântica. “Além disso, não faltam áreas públicas ocupadas de maneira irregular”, diz.
Patrícia afirma que uma das apostas para tornar São Paulo mais verde é dar benefícios financeiros para particulares preservarem seus terrenos. “Já há uma lei que dá desconto no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) para quem preservar terrenos particulares. Mas muita gente não conhece “, diz.
Bem, em SP tudo precisa partir do pressuposto de que o Brasil continua vindo pra cá, o que leva a cidade a um patamar de considerações bem diferente do de outras cidades. Aqui não há lugar mais para uma pulga sequer. A cidade está imensa, supervalorizada, e a expansão sem controle continua.
E você há de concordar comigo que é um tanto cretino creditar índices ótimos de verde a um invasor da Cantareira ou da Serra do Mar. Não vale. Não vale nem pra artista eu-quero-uma-casa-no-campo, nem pro invasor comum:
Se a foto servisse pra apontar os telhados cinzas (tudo favela), seria injustiça com os favelados. As classes média e alta também são dadas a uma invasão “em busca do verrrrde”, a passos bem mais largos que os pobres, via incorporadoras poderosas. É a coisinha do “refúgio”. E onde todo mundo se refugia, já viu! Aliás, essa esquizofrenia individualista do cidadão paulistano merece algumas linhas:
Faz umas semanas houve um massacre do jornalista Raul Juste Lores, que questionava o protesto de moradores de Pinheiros e Vila Madalena “contra a verticalização” do bairro. Os comentários não são exatamente dignos de pessoas felizes respirando ar puro numa pretensa área a ser preservada (aliás, não gostaria de cruzar com elas em lugar algum).
Pelos ferozes, malcriados e nonsense argumentos dos leitores, fiquei pensando em o que exatamente os reclamantes entendem por verticalização e falta de verde. Naturalmente referem-se ao que acontece depois de eles mesmos terem se aboletado por lá, em seus prédios sujos sem garagem e em seus sobradinhos aumentados ad infinitum e feios de doer, onde o jardim deu lugar, pelo menos, a uma garagem monstrenga.
Sinceramente, Pinheiros e Vila Madalena!… Bem melhor prédios “neoclássicos” (onde vocês morariam ao menor convite), com área construída mínima, jardim, garagem e manutenção, do que aquelas gaiolinhas plenas de cimento e piso, umas grudadas às outras, cheias de grades improvisadas, num visual geral mais feio que vender a mãe.
Sou partidária de quanto mais área verde, melhor. Acho ótimo que a gestão Kassab tenha aproveitado qualquer brecha de terreno pra fazer parques. Idem o governo do estado.
Mas não acho, sinceramente, que o povo mereça, muito menos que tenha moral para reclamar do que quer que seja. Vai dar uma olhada na tumba onde a criatura mora e me diz se ela está preocupada com o verrrrrlrlrlrlrrrrrde da cidade.
De qualquer modo, ambos os governos – prefeitura e estado – vêm lutando na contramão para reverter a tal “lógica urbana” que vigorou por décadas em SP, e vem conseguindo. Resultado: São Paulo, hoje, tem muito mais parques do que muito município metido a natureza-com-arara-e-mico-leão-dourado. Os problemas existem, mas são pontuais. É melhor assim do que deitar em berço eslêndido, não é mesmo?
* A praça do Por do Sol realmente oferece paisagens lindas, mas certos frequentadores dão medo.