Arquivo da categoria: Tietê

Parabéns à população!

É triste o governador ter de falar que o Tietê serve a nós como um piscinão, mas aquela fantasia classe média de famílias felizes fazendo piquenique nas beiras floridas do Tietê, ó, esquece! O rio é e sempre foi depósito de entulho de qualquer coisa.

Se o miolo da cidade de São Paulo conseguiu, através de medidas de governo e certa morigeração coletiva envolvendo indústrias e consciência geral, lidar um pouquinho mais civilizadamente com o rio, o mesmo não acontece com tribos periféricas à cidade que se aglomeraram em suas margens.

Graças a gestões desleixadas e oportunistas, o rio Tietê continua firme e forte como lata de lixo de entulho, automóveis que têm de sumir, cadáveres, esgoto, agrotóxicos. Isso tudo gera uma papinha cinza que estende suas gosmas por léguas, e há anos lá vem o governo, tal qual uma mula, tirando isso como um trabalho de Sísifo. Do Estadão:

O governo do Estado de São Paulo afirma que, até o fim do ano, o Rio Tietê voltará a ter a mesma vazão de 2005, quando foi entregue a obra de rebaixamento da calha do rio. Com a retirada de 900 mil m³ de sedimentos por obras de desassoreamento, o rio retomaria a capacidade de vazão de 1.048 m³ por segundo na altura do Cebolão. As chances de ocorrer uma chuva capaz de fazer a calha transbordar serão de 1%.
Após a construção de 29 piscinões nos últimos 16 anos, sem que o problema das enchentes fosse resolvido na cidade, o governo agora afirma que a prioridade é manter as calhas do Tietê livres para o escoamento de água de toda a cidade. “Vamos fazer do Tietê um grande piscinão”, disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB), durante evento realizado às margens do rio, com objetivo de divulgar o balanço das obras de desassoreamento, aceleradas desde o início de 2011.

Histórico. De 2002 a dezembro de 2005, o rio teve a calha aprofundada em dois metros e meio, com investimento de R$ 1,7 bilhão. A obra foi feita em 40 quilômetros de extensão, da Barragem da Penha, na zona leste da capital, ao lago da Barragem Edgard de Sousa, em Santana do Parnaíba, na Região Metropolitana. Foram retirados 6,8 milhões m³ de rochas e sedimentos do fundo do rio. Nos anos seguintes, no entanto, o governo do Estado não conseguiu impedir o acúmulo de pelo menos 3 milhões de m³ de resíduos até o fim de 2010.

Atualmente , de acordo com o Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), a maior parte do desassoreamento já foi refeita. “Estamos concentrando nossos esforços entre a ponte da Vila Guilherme e o Corinthians”, diz o superintendente do departamento, Alceu Segamarchi Jr.

Investimento público. O Daee investiu R$ 317 milhões para desassorear três trechos que, somados, atingem 66 quilômetros. O trabalho é feito com escavadeiras. O resíduo é levado em caminhões e barcaças para aterros sanitários na Grande São Paulo.

Além do Tietê, o Rio Pinheiros e seus afluentes também passam por obras de desassoreamento. Do Pinheiros, foram retirados 882 mil m³ de resíduos e dos afluentes, 1,4 milhão de m³. Ao todo, removeu-se 4,4 milhões da bacia desde 2011. “O que tiramos de material assoreado equivale a 86% da capacidade de todos os piscinões”, afirma Alckmin.

O coordenador da área sanitária ambiental do Instituto de Engenharia, Júlio Cerqueira Cesar Neto questiona a eficácia do plano do governo estadual e afirma que o aumento da capacidade de escoamento do Tietê chegará já defasado. Segundo o engenheiro, a vazão do rio deveria atingir aproximadamente de 2 mil m³. “Em 1998, já se verificou que a vazão estava ultrapassada em cerca de 25%”, afirma o engenheiro. Para o especialista, não há soluções fáceis para o problema. Uma delas seria um novo rebaixamento de toda a calha do rio. O Daee, no entanto, alega que esse tipo de obra seria cara demais e os estudos demonstram que seria inviável.

Limpeza de piscinões. De acordo com o governador, a segunda prioridade na luta contra as enchentes é manter os piscinões limpos. Em dezembro de 2011, o governo estadual passou a responsabilizar-se pela limpeza dos reservatórios, antes um encargo das prefeituras.

Depois disso, sete piscinões tiveram um total de 90 mil m³ de sujeira recolhida. De acordo com o superintendente do Daee, Segamarchi Jr., é importante que os piscinões estejam com sua capacidade total para que retardem a chegada das águas ao Tietê. “Para que, quando a água chegue ao rio, ele já esteja em condições melhores”, afirma.

Segundo o site do governo estadual, as obras de desassoreamento no rio Pinheiros estão sendo realizadas pela EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), ligada à Secretaria de Energia e no rio Tietê e afluentes e pelo DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), vinculado à Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos.  Já foram investidos R$ 388,8 milhões na redução das enchentes, cerca de 15 mil pneus foram retirados e 300 máquinas e caminhões trabalham diariamente.

É nisso que gastamos nossa grana…

Bem, olhando daqui, da minha ignorância, eu investiria numa iluminação com câmeras, tipo sambódromo, ligadas com a polícia, em boa extensão do rio. Desde Salesópolis até Barra Bonita mesmo.

Ah, é impossível…

Impossível é gastar tanto dinheiro pra consertar um comportamento que não tem fim.

Mais marginal

Do Estadão, o anúncio de mais 8 quilômetros de Marginal, Interlagos adentro.

A margem direita da Marginal do Pinheiros, sentido zona sul, vai ganhar 8 quilômetros de pista na região de Interlagos. O prolongamento faz parte do novo plano viário apresentado pela Prefeitura para desafogar o trânsito local. Com investimento previsto em R$ 1,8 bilhão, o projeto lista ainda outras nove intervenções em vias próximas, como as Avenidas Guarapiranga, Cachoeirinha e M’Boi Mirim, em um prazo de quatro anos.
A extensão começa na Avenida Guido Caloi, na altura da Ponte Transamérica. Para esse ponto, estão programadas três novas faixas de tráfego, além de uma ciclovia com 3 metros de largura até a Ponte Vitorino Goulart da Silva, já nas proximidades do Autódromo de Interlagos. O conjunto ainda prevê uma nova ponte sobre o rio e outra sobre um dos canais da Represa do Guarapiranga.

[…] O motorista que segue pela Marginal na direção de Interlagos enfrenta hoje um estrangulamento na Ponte Transamérica, que será sanado com as mudanças propostas” […]

A expectativa da Prefeitura é licitar o pacote em até 90 dias. As obras, no entanto, não devem ser iniciadas nesta gestão, apesar da intenção do prefeito Gilberto Kassab (PSD) em assinar o contrato de execução logo depois de receber aval e “patrocínio” do Estado.

Daí, claro, vêm os especialistas achando ruim. Trocando em miúdos, qualquer obra grande no trânsito da cidade atrairá mais carros, e a solução é o transporte público.

Fica parecendo que uma coisa exclui a outra.

Não, não exclui.

Se grandes obras viárias fossem a causa direta de mais automóveis nas ruas, Londres seria igual à avenida Brasil, RJ, em horário de pico.

O motivo de mais automóveis nas ruas é a mentalidade nativa, resultado de uma série de fatores: o crescimento concentrado, a má distribuição de empregos (no Brasil e na cidade), os interesses da indústria automotiva, o significado do carro na ascenção pessoal e a rejeição à ideia (também ligada a status) de usar transporte público.

A saturação das grandes vias asfaltadas é apenas consequência disso.

Também fico pensando se, ao longo do século XX, o estado tivesse dado preferência radical ao transporte público e à preservação do verde. Teríamos uma considerável malha metroviária e a marginal do Pinheiros assim, como era antes do engenheiro Billings:

Seríamos todos felizes. Durante a semana iríamos trabalhar de metrô, satisfeitos, e aos sábados e domingos chapinharíamos com a família em alegres piqueniques ao ar livre.

As pessoas não querem a vida que os urbanistas lhes sonham. As pessoas querem conforto, limpeza, beleza e rapidez.

Sugiram, então, especialistas. Aqui e agora.

As cidades e as águas

Artigo de Andrea Matarazzo publicado hoje no jornal Brasil Econômico sobre cidades e águas. Um trecho:

As cidades brasileiras cresceram e foram se desenvolvendo sem planejamento, com poucas exceções. Mesmo as áreas urbanas frutos de intervenções planejadas são hoje objeto de olhares críticos.

A regra foi, infelizmente, uma expansão bastante desordenada, pautada por ocupações privadas de alta e de baixa renda seguidas pela pressão para a instalação de infraestrutura e de serviços públicos.

Como resultado desta trajetória, as cidades herdaram espaços cheios de problemas e de difícil gestão.

Na paisagem urbana e na vida das cidades, a água é o elemento que mais ferozmente sofreu degradação, com consequências amargas e de custosa reversão.

A listagem de danos causados pela ocupação desordenada é longa e chocante. Rios foram canalizados e tornados invisíveis.

Áreas  lindeiras foram ocupadas até suas margens, consideradas nos níveis de seca mais intensa. Ignorou-se que, na estação das chuvas, o espaço necessário para o escoamento das águas é bem maior. […]

Lembrei do que li ontem no G1, sobre um ensaio de murmúrio de moradores de Vila Itaim, em São Miguel, que alaga há alguns anos porque se instalou na várzea do Tietê.

Bem, amore, se você invade aguente as consequências das águas, que também são chegadas numa invasão básica, não é mesmo?

A Prefeitura, porém, diz que os moradores devem sair dali.

Duvido muito que saiam, por a área é bem colada no Jardim Romano, que dona Marta fez o favor de urbanizar. Urbanizar uma área de várzea:

Essa minhoca verde-escuro é o Tietê. O Jardim Romano fica logo à direita, a cinco quadras da marcação em vermelho. A gestão seguinte à de Marta não viu outra alternativa a não ser fazer uma obra caríssima de bloqueio das chuvas. E o rio, óbvio, botou seus olhos garanhudos na área ao lado: agora Vila Itaim alaga mais do que antes.

Não sairão. Dá mais trabalho procurar outro lugar para invadir do que resistir firme, num braço de ferro com o Poder Pùblico.

Da sanha invasora passam agora aos depoimentos emocionados cavados em reportagens; e desses, à gritaria. Enquanto isso, mais e mais “líderes comunitários”, militantes de esquerda e adêvogados porta-de-cadeia vagamente ligados aos direitos humanos adotarão a causa. E os fefeléchi-qual-a-festinha-de-hoje? por último.

Cês vão ver: cedo ou tarde virá uma chuva braba, a prefeitura arrumará alojamento, inscreverá em programas habitacionais e mandará técnicos de saúde pra recomendar que as pessoas não andem na leptospirose. Não adiantará.

Até o dia em que a justiça bater o martelo e houver confronto.

Aí, sim, entram o PT, o PSOL, o PSTU, senador denunciando estupro, isso e aquilo.

Portanto, sugestãozinha para Kassab: ergue longo um CDHU pra esse pessoal. No Jardim Romano, que já está todo blindado. Depois autoriza um shopping lá.

Geraaaaaaldo e o Tietê

Do Estadão, R7 e Diário do Grande ABC:

Logo após a primeira reunião com seu secretariado, Geraldo Alckmin anunciou nesta segunda-feira, via decreto, a destinação de R$ 24 milhões ao DAEE, para desassoreamento do rio Tietê.

Serão retirados do rio até um milhão de metros cúbicos de resíduos. A meta do governo, explicou Alckmin, é retirar todo o material assoreado em dois anos.

No ano passado, o rio tinha 2,7 milhões de metros cúbicos de resíduos e foram retirados um milhão. Alckmin detalhou que, a cada ano, os afluentes trazem para o Tietê uma média de 400 mil metros cúbicos de resíduos.

O governo estadual calcula que o rio tenha hoje 2,1 milhões de metros cúbicos de resíduos. Segundo Alckmin, a previsão é que sejam investidos R$ 64 milhões para o processo de retirada desse material assoreado do rio – R$ 40 milhões já previstos no Orçamento do DAEE para este ano. O restante foi suplementado pelo decreto assinado hoje.

A medida integra a terceira fase do Projeto Tietê, iniciada em novembro de 2010. Nela, amplia-se a coleta e o tratamento do esgoto lançado no rio. Os investimentos totais desta terceira fase, que deve terminar em 2015, somam US$ 1,05 bilhão. Até hoje, a Sabesp já investiu US$ 1,6 bilhão no Projeto.

Segundo Alckmin, em torno de 60% dos recursos assoreados serão reaproveitados pelo governo estadual na construção civil. “Uma grande parte do material assoreado é de areia, que poderá ser utilizada na construção, reduzindo os custos da gestão pública”, disse Alckmin. O governador anunciou ainda que o decreto autorizou a DAEE a fazer licitação do projeto de desassoreamento.

Os R$ 24 milhões foram tirados da secretaria de Comunicação, que foi extinta. A medida faz parte de um enxugamento de despesas. Áreas como saúde, educação e segurança, porém, se mantém com seus orçamentos.

  • Foto (Ayrton Vignola, AE): Primeira reunião do secretariado novo, nesta segunda-feira pela manhã: agradeço ao eleitorado paulista a graça alcançada.

Estou gostando do esporte…

chuva.rio.praça.da.bandeira

Alagamento no Rio: “Fortes chuva têm castigado”, “choveu um terço do total do mês”. Detail: a Praça da Bandeira alaga desde que o mundo é mundo. Tradição do subúrbio carioca.

chuva.paraná
Alagamento no Paraná: “Ocorrência frequente de chuvas e enchentes”. Coidideus…

chuva.rondônia
Alagamento em Rondônia: “Chuva intermitente”, “drama dos moradores”; apesar do estado de calamidade, “o prefeito faz o que pode, tadinho!”

chuva.RS
Alagamento no Rio Grande do Sul: a barragem “rompeu por causa da chuva forte”.

chuva.sabesp
Alagamento em São Paulo: culpa da incompetência da Sabesp no sangramento das barragens.

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Alagamento em São Paulo: “a cidade é impermeabilizada”, “não tem estrutura”, é um “caos” porque está sob a égide maldita DEM/PSDB.

chuva.sp

Como se vê, a imprensa está se esforçando. Mas, lamento informar, o povo  daqui está falando e andando.

Jornalista, escritor, fotógrafo e consultor de feng shui, ou Aproveitamento da água da chuva

benedito calixto

É por essas e outras que esta cidade não anda mais do que deveria.

A chuva da semana passada, que, sabe-se, foi mil vezes atípica e inundou tudo o que não inundava há anos – graças a obras tucanérrimas -, foi o momentinho certo, a oportunidade, o buraquinho que  o Ministério Público Estadual clamava aos céus para pedir a interdição das obras da Nova Marginal. Isso tudo acompanhado de onguistas, petistas, arquitetos e engenheiros – estes últimos, invariavelmente, motivados pela frustração de não terem sido chamados para as obras.

Reinaldo Azevedo destacou na ocasião que a obra não tem que ver com o transbordamento do Tietê. Até porque ela mal começou. E esta semana estive com um engenheiro do balacobaco que me disse a mesmíssima coisa.

Já expressei minha opinião sobre a ampliação da Marginal quando ela foi anunciada, e ela não se relaciona com um amor súbito à natureza: como tudo em São Paulo, qualquer ampliação não traz conforto; traz é mais demanda.

Mas isso é minha opinião: a de uma criatura leiga, que, assim sendo, tende a imaginar adaptações fofoletes para o melhor dos mundos.

Mas a realidade não é assim. Há um problema, hoje, agora. A marginal está saturada. Se o governo é que estava pensando nisso havia algum tempo,  e se o considero sério, esta deve ser a solução menos pior, e a mais adequada para o que se tem em mãos. Aqui, agora.

Sem contar que a compensação ambiental está sendo amplamente divulgada: serão repostas/plantadas árvores, haverá uma ciclovia e um big parque longitudinal.

Então, o que se quer mais? Que o Tietê volte a serpentear entre várzeas floridas?

Portanto, chego quase a pensar que o Ministério Público estadual serve mesmo é para os rancores de arquitetos e políticos desempregados, sabe?

E isso eu tinha escrito ontem. Hoje, ainda no Reinaldo Azevedo, o currículo de Roberto Watanabe, que junto com Jorge Wilheim, está em lágrimas de aflição junto ao MP pelo destino de nossa cidade tão ecológica:

[…]

O que não dá é para dois auxiliares de Marta Suplicy aparecerem atacando uma obra como se falassem apenas em nome da ciência. Wilheim é quem é. Já serviu a vários governos e de várias colorações. O único que não o contratou está levando porrada. É constrangedor que assim seja, mas não surpreendente.

E Watanabe? Quem é esse que aparece pontificando contra a duplicação da Marginal Tietê no SPTV, nos jornais e nas emissoras cuja seriedade começa abaixo da linha da cintura? Além de também ter sido auxiliar de Marta, o que mais se sabe dele, o “professor da Unicamp”?

[…]

Se vocês clicarem aqui, encontrarão um dos múltiplos currículos de Watanabe espalhados na rede. Além de formando em engenharia civil, ficamos sabendo:
“Desejando conhecer as influências das energias YIN e YANG em seu ambiente de trabalho ou na sua residência, contrate o professor Watanabe.
Com muito profissionalismo, ele irá orientá-lo acerca da localização das energias YIN e YANG do Feng Shui (Sucesso, Prosperidade, Saúde, Relacionamento, Dificuldade, Obstáculo, Acidente e Obstáculo) e de como essas influências podem ser empregadas para potencializar ou neutralizar as ações na sua vida.
Para ambientes externo, oferece consulta de I CHING e identifica as formas de influências das energias YIN e YANG do I Ching (Amizade, Trabalho, Espiritualidade, Família, Prosperidade, Sucesso, Relacionamento e Criatividade).”

Estamos merecendo um currículo desses! Ainda bem que a justiça rechaçou a patacoada.

  • Detalhe de tela de Benedito Calixto, Inundação da Várzea do Carmo, 1892. Esse aí era o Tamanduateí: muito bucólico, lá pras nêgas do meio ambiente.

Ampliação da demanda. Em seis pistas.

marginaltiete

O governador José Serra e o Prefeito Gilberto Kassab anunciaram essa semana a ampliação da Marginal Tietê. Serão 3 pistas a mais de cada lado, desde a Lapa até o Tatu-on-Foot (15,2 km); do viaduto da CPTM até o Cebolão (rodovia Anhanguera) (4 km); e o trecho  para além do Tatuapé, até a Ayrton Senna (3,5 km). Total de R$ 1,3 bilhão (governo do Estado e concessionárias  Bandeirantes/Anhanguera e Ayrton Senna/Carvalho Pinto).  Tudo pronto até outubro de 2010. E um parque longitudinal todo arborizado e com ciclovia (alguma coisa boa tem de ter…).

Assim sendo, não sei pra que servem os urbanistas. Os diversos órgãos e departamentos que são pagos para pensar a cidade. A ampliação do Metrô. A integração com a CPTM. O esforço de uns gatos-pingados pra enfrentar o transporte público em vez de usar seu automóvel. Qualquer outra coisa.

As marginais e a cidade estão assim porque municípios e estados vizinhos se aboletaram num conforto que a cidade um dia ofereceu de graça, sem cobrar um mísero pedágio e sem administrar o troço como de direito.  Grosso modo,  os automóveis e os caminhões que circulam por lá vêm de outros municípios, de outras paragens, de outros países, grande parte em direção a outros lugares. Isso sem contar os núcleos de trabalho e renda que estão aqui: o Ceasa, a 25 de Março,  a Zona Cerealista, o turismo de negócios (feiras, convenções), a pirataria.

A marginal Tietê apresenta, hoje, congestionamento de 30 km, em média, nos períodos críticos do dia. Isso se um caminhão não entalar numa ponte, enguiçar ou tombar. (E enquanto isso o Rodoanel vai a passo de tartaruga com milientraves ambientais, orçamentários e administrativos…)

Como já mencionei em relação a outros assuntos (aqui, aqui e aqui), essa ampliação não surtirá efeito nem a curto prazo. Porque aqui a oferta é que cria demanda, e não o contrário. Com a nova obra, o povaréu do entorno achará o máximo não ter mais de cortar caminho por dentro e todos acharão muito bom seguir pela marginal. E virá mais gente. E vai virar um inferno de novo.

Meu sonho dourado: mandar o Ceasa pra longe. Mandar a 25 de Março pra longe. Mandar o Brás pra longe. Fazer um outro Anhembi em Pirituba. mandar a Rodoviária Tietê (a segunda maior do mundo – o que não é um título, é uma aberração) pra longe. E o Governo Federal (um próximo, porque esse…) criar um polo de desenvolvimento em Cacuí das Antas.

  • Foto: Divulgaçã.

A volta triunfal de dona Osm

Se, por excesso de trabalho, de vez em quando perco o prumo e fico meio alheia às escabrosidades que acontecem pela cidade, tenho meus fiéis escudeiros pra me lembrar (e os fiéis leitores pra não me deixarem só, pelo que agradeço a paciência e compreensão).

Não, Marcelo não me deixa esquecer o mimo que ele comentou comigo outro dia, e me manda hoje o link. Vale a pena assistir todo, pra avaliar  a capacidade gestáltica de dona Osmerdina de não achar nada demais em jogar tinta no córrego.

O vídeo faz parte de uma série de reportagens da Globo sobre os Rios de São Paulo, que enfatizou bastante o trabalho feito no rio Han, na Coreia do Sul,  limpo em dois tempos. (Mas comparar dona Osm com a população coreana não tem graça. Então vamos a outro parâmetro:)

O Tâmisa, por exemplo, levou cem anos pra remover a nojeira de suas águas. É isso que me dá alento. Quem sabe um dia, daqui a quinhentos anos, o Tietê, né?  O Estado está fazendo a parte dele. O rio já não sofre mais com  os dejetos industriais e o que havia de esgoto doméstico foi corrigido em uma certa fase. Mas, sabe como é, a populêichon é forte, pródiga e animada…

PS.: E Marcelo ali, ó, na cola! Veja a continuação da saga.

Pequeno making of da ida a Itúúúrrrrr

Falei outro dia que fomos eu e Ricardo a Itu, em busca da república perdida.

tietePois é, os dias se passaram e só estou postando agora, por preguiça. Não preguiça de postar, mas de descarregar a maquineta, até porque ela não anda bem dos olhos e nem dá gosto de olhar nada produzido a partir dela.

Na foto acima, no meio do caminho, na Estrada dos Romeiros (que é linda de morrer), o queridíssimo Tietê. Nesse trecho ele ainda carrega um monte de sacos plásticos e garrafas pet, mas já dá pra perceber sua água naturalmente barrenta, mas bem mais livre de nossa urbanidade distraída.

cabreuvaAcima, a quietude provinciana de Cabreuva, neste cena de beira de estrada que valeu um quase-cavalo-de-pau de Ricardo pra gente não perder a cena.  Tadinho do cavalo!

Bem, chegando ao berço da República, o Museu Republicano estava fechado e o calor já nos cozinhava os miolos. Nem por isso deixamos de ver coisas interessantes por lá. O que mais me chamou a atenção foi o Museu da Energia.

luminaria

A-do-rei, achei um luxo só essa luminária anos 40/50, ao mesmo tempo ventilador e aquecedor. Queria uma dessas pra mim.

enterprise1

Quer saber? O museu é um verdadeiro remake do casamento dos meus pais. Acima, a batedeira e o liquidificador que minha mãe ganhou no casório, e que usou até há bem poucos anos atrás, quando finalmente foram aposentados. A batedeira da foto é completíssima. A da minha mãe, eu nem conheci a caçamba maior, que havia quebrado antes de eu nascer. Mas lembro desse acessório inutilíssimo que se acoplava na parte de cima – não seu se era pra fazer suco ou para moer carne. O de mamãe ficou rolando pelos armários da casa durante décadas, sem que tenha usado uma vez sequer.

O liquidificador eu também conheci desfalcado. Esse copo de vidro quebrou antes de eu nascer também, e deixou uma cicatriz pequenininha na mão da dona.

Fora isso vi chuveiro, ferro de passar, aquecedor de gás e o diabo a quatro, que lembrava, se não lá de casa, da casa de parentes e coisa e tal.

O museu fica num sobrado impecavelmente bonitinho, e os demais centros de cultura da cidade também são caprichados na manutenção e no restauro.

Há também o Museu dedicado ao conterrâneo Almeida Junior, com reproduções horrorosas de suas pinturas (a maioria dos originais estão na Pinacoteca, aqui em São Paulo). Achei um desplante com o pintor, se quer saber.

Um post bem mais completo e contando a bela história da cidade e do caminho dos bandeirantes está no link do Ricardo que sublinhei no começo do post. E que só corrobora o imenso orgulho que temos da nossa terra, justamente porque ela não se resume à avenida Paulista.

Só leio socialmente…

A bruma fétida do Tietê inundava a agonia da cidade…

Quer coisa mais desagradável, quer saia mais justa do que lhe pedirem pra avaliar pretensões literárias? É tãããooo chato…! Primeiro que a pessoa, por mais honestidade que te peça, é um ser humano comum e está esperando uma opinião positiva. Segundo que, geralmente, ou a coisa é de uma medianidade (hummm…) constrangedora, ou então é literatura underground, para o que, sinceramente, não tenho paciência alguma. Terceiro que não sou a pessoa mais fofa pra dar nota a essas coisas.

Quando o livro/conto começa com frases do tipo dessa com que iniciei o post, daí então é pra apelar: diga que está com conjuntivite, e pronto.

Será que sou só eu que odeio parágrafos descritivos, cheios de adjetivos românticos (no sentido amplo) pra descrever lugares? Acho que sim.

Chega a ser fácil traçar o perfil do escritor urderground. Tirando, naturalmente, os candidatos classe média-alta cheios de referências etilico-gastronômicas degustadas na calçada (lembre-se: é trash), que é outra coisa batidíssima, há também os matutos. Os matutos são a praga da literatura marginal.

Conversava com um amigo sobre um desses (e conheci mais de um): vem, sabe lá Deus de onde, e começa a tentar coisas em São Paulo. Acha que a internet será um canal para que, finalmente, as grandes editoras se rendam a seu talento (êpa! Então não quer ser tãããão marginal assim, hein?). A coisa não dá certo e ele some nas brumas fétidas do Tietê de volta pra seu mocó, e passará o resto da vida brandindo um texto que alguém tungou e pôs na rede – sinal de que era bom, sinal de que foi barbaramente roubado e alguém montou nos louros de seu talento.

Ou então, caso pior, conquista certa notoriedade urderground, sejá lá o que isto signifique. Quando o cara consegue alguma coisa mas sente que ainda não chegou onde queria, aí sai de baixo. Alguns tópicos que o caracterizam:

1) Não tem blog porque “não escreve de graça”.

2) Fala “porrrrrrta” e “Marrrrrcia”.

3) Em seus textos descritivos sobre São Paulo ou Rio, chegam a ecoar nos ouvidos do leitor o “porrrrrrta” e o “Marrrrrrcia”. É o urbano descrito pelo não-urbano. O problema é que o urbano varia. O não-urbano, não.

4) Deixa entrevêêêrrrrr, em seus contos e romances, todo o choque que foi vir para a cidade grande, e entender, segundo seus complexos e sua estatura pessoal, que a urbe o rejeitou porque esqueceu de estender um tapete vermelho na rodoviária quando de sua chegada.

5) Suas paqueras são de cambulhada, e ele paga mico com as citadinas polidas. Só se dá bem com universitárias de Letras, de calcanhar sujo. São elas, ainda, que digitam (de graça) seus rabiscos, escritos quase que num acesso de psicografia bukovskiana em um botequim do centro da cidade. Esses manuscritos ainda cheiram à cerveja do momento e elas acham isso histórico. (Cês tão achando que é invenção minha? Nãnão…)

6) Acha que programa em Copacabana é arrumar mulher no calçadão e não ter de pagar por isso.

7) Quer a cabeça do editor que finalmente lhe publicaria os contos, porque um dos textos era pra ser composto com uma palavra por página (imprescindível, senão tira todo o sentido), e o cara não quis fazer porque era inviável editorialmente. O editor é, portanto, um verme.

8) Ele põe, num livro só, TODO o mandrová mental que acumulou em sua adolescência revoltada. O cara sofre de incontinência literária, e é incapaz de contar uma história X com uma ideia X. Não. Tem de falar tudo ao mesmo tempo, porque, afinal, o mundo espera por ele.

Então, de pretensas celebs literárias o mundo está cheio.

O resto da humanidade é preenchido por pessoas: 1) que não leem. 2) Que enfiam na cabeça que são obrigadas a ler o livro X, senão não será ninguém perante seus amigos e, pior, perante a mulherada.

Tia Cris havia publicado, e Luiz Antonio Ryff também, sobre uma pesquisa na Inglaterra (a pesquisa é SEMPRE na Inglaterra) sobre os que as pessoas não leram e dizem que leram, e sobre o que as pessoas de fato leram mas juram de pés juntos que não leram; e os comentários no Nonsense meio que estouraram, deixando transparecer uma honestidade muito legal, o que poderia gerar até uma pesquisa similar em terras tropicais.

Não sou parâmetro bom de normalidade humana, dizendo o que li e o que não li, porque  por ofício sou obrigada a ler cada jaca… Literatura marginal eu tive de ler, sim. Geralmente é uma droga aqui neste país, mas frila a gente não recusa, né?