Arquivo da categoria: Zoológico

Como gerir uma bolada

Nada mais patético que uma pessoa sem verniz qualquer diante de dinheiro a dar com o pau.

Além de tudo o que sabemos, desde plásticas duvidosas até shows idem em cruzeiros idem, Rosemary também achou de bom tom ela mesma comandar a decoração do gabinete de Lula na base presidencial em São Paulo – um andar no prédio do Banco do Brasil, aquele lá na esquina da Paulista com a Augusta.

Ainda estou para entender o racional disso aí, esses quilômetros de sofás (cama?) pretos com almofadas temáticas azuis, que certamente combinam com o painel do tio e com o carpete (touché!).

Na foto não dá pra ver direito (até gostaria de ver mais fotos do ambiente), mas aqueles quadrinhos na parede devem ser imagens do chefinho também.

É certo que o brasileiro médio não tem muita intimidade com quadros na parede, o que me faz imaginar que Rose poderia ter contratado, sei lá,  a cunhada, para dar uma assessoria na coisa e, assim, ter ajeitado pra sempre a vida da parenta mediante módica participação.

Mas não, acho que foi ela mesmo a pendurá-los lááááá em cima, quase no teto, o que me dá certa aflição estética.

Conheci vários gabinetes na vida, uns “mais”, outros “menos”. O que ficou em minha memória foram os aposentos do Bispo Macedo na Rádio Copacabana, no centro do Rio, onde eu trabalhei.

O mesmo caso: “dinheiro sobrando, como vamos gastá-lo?” Você via que era o melhor revestimento, o melhor sofá, o melhor abajur, os melhores móveis, os melhores lustres, o melhor-melhor, numa mistura infeliz para um ser humano de qualidade inferior. Tudo feito por funcionariazinhas, sem qualquer verba participativa.

No caso presente, percebe-se que o arsenal decoratório de Rose nunca passou dos padrões de uma sede de sindicato. Isso aí é um escritório comum melhoradinho. Só.

Imagino até que Rose tenha encomendado tudo do bom e do melhor. Mas perdeu a oportunidade de transformar essa saleta num trono episcopal, e assim multiplicar sua verba intermediatória.

Bobinha…

Pannunzio e o terror do Judiciário

O jornalista Fabio Pannunzio decidiu encerrar as atividades de seu blog devido às pressões judiciais. A gota d’água foi processo movido pelo Secretário de Segurança de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, em virtude de posts críticos à atuação da polícia no estado de São Paulo, notadamente um, intitulado “A indolência de Alckmin e o caos na segurança pública”.

A Justiça ordenou que Pannunzio tirasse o texto do ar. Me parece que foi este, republicado numa página de cunho policial, onde o caso está detalhado.

Quando soube por alto estava longe, e agora procurei me informar melhor. Já sabia que Pannunzio tem posições- digamos – conflitantes em relação à polaridade PT X PSDB, mas até aí normal. Já havia notado também que ele faz parte da turma que bate na polícia com o cassetete da esquizofrenia, isolando SP do resto do país e sem comparar números. Até aí, tudo bem também.

E, quer saber? Estou com Pannunzio. É muito bonito dizer que na democracia a gente resolve as coisas na Justiça, mas há filigranas cruéis nisso aí. Pannunzio sempre manteve o blog por conta própria. Não tem anúncios ou apoio e nem pertence a qualquer grupo poderoso de mídia. Enfim, ele mesmo banca sua defesa, e bancar defesa no BR é abrir mão do que tem e do que não tem para pagar advogados e seus desdobramentos (peritos, etc.).

Não é questão de fazer juizo sobre o conteúdo das matérias de Pannunzio no blog. Posso discordar ou concordar, tantufas. Ainda mais que Fabio Pannunzio não é um alugado, como alguns por aí. O ideal seria discutir, debater, rebater, se defender, coisa que o Secretário não se sentiu instado a fazer.

É bom deixar claro que não foi o governo do estado ou o governador Alckmin quem processou o jornalista. Foi a pessoa do secretário de segurança do estado quem o fez.

Ferreira Pinto poderia achar ruim qualquer textículo saído em editoriais da Folha, ou do JEG, mas voltou-se unicamente para um blog “simples”, sem vínculos financeiros ou grandes organizações a lhe valer.

Eis aí a censura atuando por seu canal preferido: a força do dinheiro.

A medicina marromenos a seu alcance

Do Estadão:

Os médicos do estado de São Paulo vão paralisar o atendimento a pelo menos 12 planos de saúde a partir da próxima quarta-feira (10). Até o dia 18, apenas as urgências e emergências serão mantidas. De acordo com a Associação Paulista de Medicina (APM), do dia 11 ao dia 17, a greve será feita em esquema de rodízio, ou seja, apenas determinadas especialidades deixarão de ser atendidas em cada dia.

De acordo com a entidade, o atendimento será suspenso no grupo de operadoras “que não aceitaram negociar com a classe médica ou não enviaram propostas suficientes até o momento”. Os planos inicialmente afetados serão Golden Cross, Green Line, Intermédica, Itálica, Metrópole, Prevent Sênior, Santa Amália, São Cristóvão, Seisa, Tempo Assist, Trasmontano e Universal. A lista completa será apresentada no próximo dia 9.

Nos dias 10 e 18 todos os médicos credenciados aos planos de saúde alvo da ação farão paralisação. No dia 11 serão afetadas as áreas de ginecologia e obstetrícia, anestesiologia e cardiologia; dia 15, endocrinologia, cirurgia de cabeça e pescoço, e pneumologia; no dia 16, ortopedia e traumatologia, angiologia, cirurgia vascular e medicina do esporte; e no dia 17, endoscopia, dermatologia e alergia, e imunologia.

“São Paulo está em consonância com o movimento nacional, que terá ações em diversos estados e regiões. O mês do médico será marcado pelo posicionamento firme da classe em busca da valorização de seu trabalho, sempre em prol do atendimento de qualidade aos pacientes”, destacou o presidente da APM, Florisval Meinão.

Em São Paulo, a pauta de reivindicações inclui o aumento do valor da consulta para R$ 80, a atualização dos valores cobrados pelos procedimentos conforme a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos, e o reajuste desses valores a cada 12 meses.

Enfim, pela lista preliminar apresentada, são os planinhos, aqueles que muitos de nós alimentamos com mensalidades estratosféricas e que só oferecem tratamento de resfriado.

Na hora em que você precisa de um atendimento mais especializado, bora entrar numa via-crúcis de burocracia e humilhações, passando até pelo terror do tal cheque caução, como se o pagamento em dia de suas mensalidades não bastasse para comprovar idoneidade.

Isso se você não for jogado pro SUS paulistano, naquela horinha em que precisa tratar uma doença mais grave e seu plano simplesmente não tem equipamento para exames complexos ou não quer pagar cirurgia/internação.

Hospitais de São Paulo já tentaram ajeitar essa situação, mas opositores e governo entenderam tudo errado e barraram, preferindo medidas populistas a enfrentar os planos de saúde.

 

P: Essa casa é sua? R.: Sim

A urbanista Raquel Rolnick é o tipo de analista que me provoca os instintos mais dúbios. As vezes gosto, às vezes não. Reconheço nela um valor acadêmico bem bom, mas várias vezes senti sua pesquisa talhada por laivos ideológicos um tantinho além da conta. Mas, enfim, quando a coisa se mostra coerente…

Então segue o texto, publicado inicialmente em YahooBlogs e reproduzido em seu próprio blog. Trocando em miúdos, Dilma e o PT querem, na marra, transformar o Brasil num paraíso. Uma nódoa para o futuro do IBGE, que virou casa da sogra:

Casa própria de quem, cara pálida?

27/09/12

Na semana passada, alguns veículos de comunicação estamparam em suas manchetes a informação de que 75% dos domicílios brasileiros são próprios. O dado foi retirado da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada recentemente pelo IBGE.

Os dados da PNAD mostram que 75% das pessoas entrevistadas responderam que compraram ou herdaram as casas ou apartamentos onde moram. Essa é a única conclusão que podemos tirar. Isto porque o fato de as pessoas dizerem que compraram ou herdaram as casas onde moram não significa que estes imóveis são “propriedade” destes moradores e que eles tenham legalmente assegurada sua posse.

O universo das moradias “próprias” em nosso país inclui um número X, desconhecido das estatísticas brasileiras, de moradores em favelas, loteamentos irregulares ou clandestinos. Além disso, este universo inclui também um sem número de situações de posse, muitas delas, por décadas e gerações, não formalmente tituladas no nome da pessoa, família ou comunidade que ali vivem. Muitas vezes, no conjunto dessas situações, estas pessoas pagaram para morar nestes locais e por isso respondem que a casa é “própria”.

Por incrível que pareça, embora tenhamos institutos de pesquisa e estatísticas consolidadas e confiáveis, simplesmente até hoje não sabemos quantos domicílios estão nestas condições. Em 2008, a pesquisa do Perfil dos Municípios do Brasil, realizada pelo IBGE, perguntou a cada um deles se possuem favelas ou loteamentos irregulares ou clandestinos. De um universo de 5.564 municípios, 33% afirmaram possuir favelas e 53% disseram ter loteamentos irregulares ou clandestinos. O total de municípios com alguma dessas ocorrências ou com ambas foi de 61%.

As favelas, ocupações e loteamentos irregulares aparecem também nos cálculos de “déficit” habitacional — em referência quase sempre à inexistência ou precariedade da infraestrutura nestes locais. Mas a pergunta que não quer calar é: afinal, quantos são os domicílios, que por ter uma condição de posse distinta da propriedade registrada em cartório em nome de seu possuidor, de alguma maneira estão imersos em uma trama de ambiguidades em relação ao pertencimento da casa e da terra onde habitam?

Ao anunciar que no Brasil 75% dos domicílios são “próprios”, o IBGE esconde — e isso não ajuda nada — o imenso conflito que ainda é no nosso país questão da posse da terra.

Testemunha de favela

Eu aqui continuo com trabalho em excesso. Gostaria de escrever sobre tudo, inclusive sobre capas retumbantes de revistas semanais, mas cadê tempo pra elaborar texto?

Uma passada rápida pela repercussão da Veja de ontem, que exibe declarações “indiretas” de Marcos Valério a respeito das piabas grandes do Mensalão, foi a esperada: petistas cobrando a “suposta” gravação”, mal percebendo que estão numa encruzilhada de macumba.

Tudo foi feito pela Veja comme il faut para evitar o efeito Celso Daniel, não é mesmo? As declarações estão lá, mas foram feitas “por pessoas chegadas a Marcos Valério”.

Pois bem, acho que é assim que se deve agir num país que virou bangue-bangue graças ao PT. No lugar deles (Veja e Marcos Valério) eu faria a mesma coisa.

Pra não acordar com a boca cheia de formiga.

Testemunhos indiretos, típico de lugares onde reina o banditismo.

E se a justiça abrisse um telefone só pra denúncia anônima do Mensalão?

Quem tem medo da privatização?

Artigo de ontem no Estadão, da jornalista e professora de comunicação da PUC-RJ Suely Caldas, que tungo na íntegra, com título e tudo:

Quando a globalização dava sinais de avanço no mundo, lá pelas décadas de 1980/1990, os resistentes a ela no Brasil não queriam nem ouvir falar, manifestavam-se contra e ponto final. Diziam que ela aprofundaria a desigualdade social no planeta, já que os países pobres tinham muito a perder e os ricos, só a ganhar. Queriam simplesmente barrá-la (como se isso fosse possível!).

Os que viam a globalização como um fenômeno inevitável e sem volta argumentavam que os países pobres deveriam unir forças para enfrentá-la, inverter a equação apregoada pelos resistentes e usar a globalização a seu favor. Como? Atraindo capital dos ricos, aplicando-o em progresso econômico, importando novidades tecnológicas e difundindo novos conhecimentos.

Os anos passaram. É verdade que Brasil, México, Rússia e Argentina enfrentaram transtornos em seus programas de estabilização nos anos 1990. Mas a primeira crise econômica pós-globalização em escala mundial tem sido muito dura com os países ricos e leve com os pobres. O ex-presidente Lula até já a chamou de marolinha! O feitiço, então, virou contra o feiticeiro? Nada disso, simplesmente o diagnóstico dos resistentes estava errado. A globalização beneficiou o Brasil, internalizou riqueza; trouxe capital, empresas e progresso econômico; gerou empregos; possibilitou a expansão das exportações; e contribuiu para a ascensão de milhares de pobres à classe média. Os resistentes ao novo – aqueles que preferem nada mudar para manterem seu domínio, em vez de usar a inteligência e do novo extrair benefícios – só conseguem adiar a História e atrasar o progresso.

É o que vem acontecendo nos governos do PT em relação à privatização.

Quem chega ao Palácio do Planalto conhece as limitações do Estado. Não só as de capacidade financeira, mas também as de eficácia em gestão – aí incluídas as práticas de corrupção, que muitas vezes duplicam ou triplicam o valor de uma obra pública. Ao reconhecer isso, o mais lógico seria o governo transferir para o capital privado projetos não estratégicos para a segurança do País.

Ajudado pelo ex-ministro Antonio Palocci, Lula também reconheceu a importância do capital privado, ao desembarcar em Brasília, em 2003. Mas a odiosa rivalidade com os tucanos – que privatizaram estatais no governo Fernando Henrique Cardoso – levou Lula a recorrer às parcerias público-privadas, as famosas PPPs, que nunca decolaram. Seria mais fácil e de resultados mais rápidos licitar projetos de infraestrutura para a iniciativa privada.

Simples? Não para o PT. Como as PPPs não vingaram, o governo não tinha dinheiro para investir nem cedia à privatização, o País foi castigado e o crescimento econômico, emperrado pela falta de rodovias, portos, ferrovias, aeroportos, hidrelétricas, enfim, por causa dos gargalos que impedem o progresso. No segundo mandato, Lula licitou algumas rodovias, mas o modelo foi tão ruim que hoje os consórcios vencedores não conseguem cumprir as metas acertadas em seus contratos.

Aeroportos. Atuando mais uma vez como conselheiro, o ex-ministro Antonio Palocci convenceu a presidente Dilma Rousseff a ceder à privatização. Com a proximidade da Copa do Mundo e a urgência em ampliar a capacidade dos aeroportos para receber visitantes, ela concordou em transferir a gestão dos Aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília para consórcios privados.

Porém, como no caso das rodovias, o modelo da licitação foi ruim e não conseguiu atrair operadoras estrangeiras competentes nem as maiores construtoras brasileiras. Insatisfeita com o resultado, Dilma enviou uma missão à Europa, comandada pela ministra Gleisi Hoffman, para tentar atrair grandes operadoras – com experiência em aeroportos de 30 milhões e 35 milhões de passageiros por ano – para participarem dos leilões dos Aeroportos do Galeão (no Rio de Janeiro) e de Confins (em Belo Horizonte).

Dilma é mais pragmática do que Lula, mas também é mais ideológica. Seu projeto de fazer de privilegiados grupos privados nacionais grandes players internacionais acabou morrendo, carregando junto muitos bilhões de reais do BNDES. Mas o fracasso não serviu de aprendizado. No caso dos Aeroportos do Galeão e de Confins, o estatismo/nacionalismo novamente aflorou, mas o pragmatismo responsável também: ela quer operadoras competentes, sim, mas que aceitem a estatal Infraero como sócia controladora, com 51% das ações, e que se contentem com 49% divididos com outros sócios brasileiros.

Diferentemente da pressa e da euforia com que o governo do PT costuma anunciar feitos de sucesso, desta vez a ministra Hoffman foi extremamente econômica e discreta ao responder sobre o resultado de sua missão: limitou-se a dizer que a viagem foi “boa e produtiva” e que “há investidores interessados no Brasil”. Horas depois, a Secretaria de Aviação Civil divulgou nota com generalidades: “Os encontros contribuíram para a troca de informações” e “não há decisão sobre novas concessões de aeroportos no Brasil”. Nos bastidores em Brasília, informa-se que os investidores europeus consultados rejeitaram a ideia de se submeter ao poder majoritário da Infraero. Mas informa-se, também, que o governo não desistiu e vai procurar outras operadoras antes de preparar as regras de licitação.

Tudo indica que Dilma Rousseff terá de optar entre competência operacional e ideologia. Ou trazer para o Galeão e Confins quem sabe operar ou manter a Infraero no comando, com investidores inexperientes prestando um serviço de má qualidade. Com grande chance de repetir os erros cometidos nas licitações das rodovias.

Ao entregar a gestão dos Aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília a investidores estrangeiros, a própria Dilma Rousseff reconheceu que administrar a aviação comercial não põe em risco a segurança do País. Portanto, fora razões estritamente ideológicas, não há nenhum motivo para agir diferentemente em relação ao Galeão e a Confins.

Em mais de 20 anos, além de penalizar o mundo rico na atual crise, a globalização deu inúmeras provas de que ideologia e investimento não combinam. Pelo contrário, quando atuam em parceria, a única coisa que conseguem é adiar a História e atrasar o progresso. A Copa está pertinho e o Brasil tem pressa.

Aloysio Nunes desenha

Serra afirmou, no último debate, que encontrou o cofre da Prefeitura raspado  por Marta, Haddad & Cia. em 2005. Ok, porque foi isso mesmo. Marta deu piti no Twitter, dizendo que era mentira, e pá e coisa.

O senador Aloysio Nunes, pacienciosamente, acaba de desenhar para que todos possam, talvez, perder um pouquinho de tempo e entender o imbróglio. Na íntegra:

Resposta a Marta Suplicy 

Às 9h51 do primeiro dia de trabalho na Prefeitura, José Serra puxou no computador o extrato da conta corrente do município e verificou que só havia R$ 16.986,46 para todas as despesas de administração da maior cidade da América Latina.

Sabíamos que a situação era ruim. Estávamos errados, era péssima. Confira o extrato:

Veja também no extrato: há 55.264.519,18 bloqueados. Sabe por quê? A gestão Marta Suplicy, irresponsavelmente, deixou de pagar a parcela da divida com a União vencida em dezembro de 2004.

A equipe de Serra chegou à Prefeitura no escuro. O Secretário de Finanças da Marta tomou chá de sumiço e recusou-se a conversar com o grupo de transição do novo governo.

No penúltimo dia da gestão Marta, a Prefeitura emitiu ordens de pagamento de mais de R$ 10 milhões a diversos credores. Detalhe: não havia recursos suficientes para honrar esses pagamentos.  É o conhecido cheque sem fundo.

Contrariamente ao que afirma a senadora, Serra não inventou credores da Prefeitura. A administração petista deixou dividas de cerca de R$ 8 bilhões, dos quais R$ 2, 1 bilhões são relativos à divida com cerca de 13 mil fornecedores da Prefeitura.

Esse pessoal ficou na mão e foi fazer fila no Edifício Matarazzo para receber o que lhes era devido.

Chama-se empenho a parte do orçamento reservada para honrar compromissos financeiros da administração. Sem conseguir fechar as contas de 2004, a prefeita Marta determinou o cancelamento dos empenhos para pagamento de serviços já realizados por uma multidão de pequenos fornecedores, tungados pela administração petista: mais gente fazendo fila na porta da prefeitura.

Os cerca de R$ 300 milhões citados por Marta referiam-se a recursos transferidos pelo Governo Federal destinados apenas a áreas de objeto dos convênios: Saúde Educação e Transporte, entre outros.  Eram recursos “carimbados”.

Exemplo: os R$ 40 milhões referentes ao convênio para obras na Jacu-Pêssego.  Esses recursos não poderiam ter sido usados para pagamento de despesas em outras áreas.

Tem razão a ex-prefeita quando afirma que havia saldo financeiro no final do primeiro semestre. Qualquer prefeito sabe que o grosso da arrecadação municipal ocorre no primeiro semestre por conta de tributos como IPTU e IPVA. Depois, diminui.

Marta desconheceu essa regrinha básica e gastou em 2004 mais do que deveria, afinal a eleição aconteceu no segundo semestre. Nos últimos meses, a fonte secou, contas não fecharam e ela perdeu a eleição.

A análise dos técnicos do Tribunal de Contas do Município de São Paulo não deixa dúvidas quanto às irregularidades da gestão financeira da administração petista. Veja as conclusões do relatório anual das contas de 2004 assinado não por um tucano, mas por dez técnicos daquele tribunal: http://bit.ly/TjnX3z.

Miss porpetone

O cônsul russo em São Paulo Mikhail Troiánski, a respeito das simostrettes nativas que vieram prestar solidariedade ao Pussy Riot na última sexta-feira, em frente ao Consulado, na Lineu de Paula Machado:

A propósito, recomendo que da próxima vez que vierem desnudar-se na frente do consulado façam dieta se querem parecer com aquelas moças da Ucrânia que mostram suas bondades. Devem comer menos pão.

Tal negócio, né? Ser gordo, magro, feio ou bonito é um direito fundamental do ser humano. Mas sair mostrando as banhas por aí é dar carta branca para os comentários. E ponto.

Repescagem bovina

Saiu ontem na Monica Bergamo (sem link a partir de agora, porque a Foia deu pra regular qualquer matéria. Morra.):

A ex-ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello afirmou que seu romance com o colega Bernardo Cabral, da Justiça, no governo Collor, aconteceu por assédio da parte dele – que era casado. “Tenho até medo de me crucificarem, mas vou falar. Hoje acho que fui vítima de um… Como é que se chama no Brasil ‘sexual harassment’?”, disse em entrevista à Claudia de agosto.

“Ele já tinha sido indicado ministro, eu ainda não”, disse Zélia. “Eu estava vulnerável. Não estou querendo me justificar, mas minha visão é que me deixei levar por uma situação de poder. […] A pessoa em questão não tem nada a ver comigo. Zero! Não teve hábitos, educação e cultura parecidos com os meus. É como se me apaixonasse hoje por um cara qualquer que estivesse passando aí na rua.”

Não sou daquelas que condenam Fernando Sabino por ter defendido o leitinho das crianças ao escrever Zélia, uma paixão. Deu conta da encomenda, ganhou a graninha dele, o que é que tem? Todo mundo faz isso, oras! O importante é o profissional fazer seu trabalho com retidão e honestidade, o que nada tem que ver com conteúdo.

Essas coisas são muito subjetivas. No meu métier, p. ex., você pode revisar Mein Kampf, mas fica estranho revisar um novo livro sobre o assunto, tendeu? Vai da hora, da circunstância.

No caso de Sabino, alguns meses depois o livro foi parar no sebo. Ele naturalmente sabia que isso ia acontecer, mas e daí?

Mas, é o tal negócio: pra que a gente guarda tranqueira, não?

Adquiri o tal livro há uns anos, tipo leve 3 por 5 reáu. Além da firme convicção de que a gente deve ter à mão a memória recente do país, não resisto a uma coleção. Da Editora Record, a capa, a tipologia, o design todo igualzinho à famosa coleção de obras de Sabino. Em ótimo estado (não é do tipo de narrativa que passe de mão em mão),  a lombada ficou linda na estante:

Daí é que essa declaração tardia de “sexual harassment” está com pinta de quero voltar à cena. Zélia mora em Nova York e é sócia de uma firrrma que flerta em investimentos no Brasil. Voltou ao noticiário quando veio ao sepultamento de seu ex-marido, o humorista Chico Anísio. Anda dando entrevistas por aí. Aparições demais, sabe como é?

Mas vamos ao assédio sexual, uma falácia. Tá tudo lá, em Zélia, uma paixão. Bernardo Cabral começou a dar em cima dela, com direito a presentes, champã, flores e declarações melosas, pequenas e ordinárias artimanhas masculinas bem comuns, que acabaram encantando a fofa. Vale dizer que Zélia não era menininha, não. Quando assumiu a pasta da Fazenda, já ia lá pelos seus 37 anos. Quer dizer, quando concluiu, “pasmada”, que “Ele está me paquerando!” (p. 124), você entrevê nessa exclamação não uma indignação – a circunstância era de poder e audácia masculina -, mas de encantamento mesmo. Depois de macaca velha, veja só…

Ou outro episódio em que, ao desligar o telefone depois de monossílabos (típica cena em que se ouve uma bronca da mulher), Cabral lhe disse “Solidão… Brutal solidão”. Aquilo lhe impressionou e virou mote do namorico, repetido em cartas chorosas.

Fora o Besame Mucho que dançaram de rostinho colado em Brasília, no aniversário dela, em 1990, escancarando o caso para o país inteiro. Fora o elogio barato à saia curta, fora os bilhetinhos passados sob a mesa em reuniões de governo…

O mico da mulher boboca que se impressiona com cantada barata se completou com o lançamento do livro meloso, ghotswriteado por Fernando Sabino.  Ela achava sua história importante, sabe?

Zélia vive dando pistinhas de que pode voltar ao Brasil. Que volte, pois. Desejo do fundo do coração que entre no lugar que lhe cabe duplamente no país: o reality show A Fazenda.

Helicóptero era novidade… em 1950

Moradores da Lapa reclamando, e com razão, dos helicópteros que “cortam” caminho por lá.

Explicando: até uns dez anos atrás, a cidade de São Paulo era uma várzea na questão “sair voando por aí”. Qualquer zé-mané, qualquer emissora de TV, qualquer dondoca se enfiava num helicóptero e andava onde bem entendesse, na altura que lhe conviesse e no horário que lhe fosse conveniente.

Pela manhã, em dia de semana, era o inferno: simplesmente todas as emissoras tinham como regra, diariamente, cobrir o trânsito às seis horas da manhã bem em cima das residências, com seus Robôs, seus Cops, seus gaviões não sei de quê, não sei que lá dourados…

Eu mesma lembro um dia feriado, desses desertos, quando fui acordada às 5 e meia da manhã por um monstrengo da Rede TV! que cobria sabe o quê? Um troncho que destruía a grade de um prédio porque havia brigado com a namorada na madrugada.

Ah, tenha dó, né?

Desde então a Prefeitura botou a banca e baixou umas normas. Helicóptero só pelas marginais e acabou. Exceção, é claro, à PM (e ao comandante Hamilton, vá, mas mesmo assim, ele ainda pede autorização).

Entonces, voltando à Lapa. É um bairro que fica numa ponta, na junção das marginais Tietê e Pinheiros:

Veja as marginais, num amarelo mais destacado, formando como que a cabeça de um cachorrinho. A de cima, marginal Tietê. A de baixo, marginal Pinheiros. E a coitada da Lapa no meio. Lapa, Lapa de Baixo, Anastácio, Vila Leopoldina, Vila Hamburguesa, é tudo Lapa, e está tudo sob a vontade dos pilotinhos que economizam o quê? Dois minutos na barbeiragem? (Abaixo, a seta vermelha indica onde os pilotinhos cortam caminho):

A matéria do Estadão diz que a Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (Abraphe) está lançando uma “campanha”.

Que campanha, pô? Se até cicista tem de seguir regra agora, por que piloto não seguiria? É multa e pronto.

Chega de achar helicóptero uma novidade, um jet-ski aéreo, um lazerzão sem mais nem aquelas.