Primeiro, me desculpem o hiato. Estava trabalhando como uma moura e só agora dou um respirozinho pra, mais tarde, voltar ao lesco-lesco.
Segundo que a cereja do bolo nessa falta de tempo foi dar um plá no chuveiro do papai (cê não acha que eu deixo ele subir em escada, cadeira, né? Ele bem que tenta, mas eu acabo descobrindo, baixa a pomba-gira e o tempo fecha). Portanto, hoje de manhãzinha me dediquei às artes da manufatura reversa doméstica.
Primeiro que não é vergonha alguma consertar coisas em casa. Quem apoia sua vida prática na disponibilidade do zelador e não troca uma lâmpada sequer é porque ainda vive nos tempos da Colônia.
Segundo que seria de imensa alvíssara para o planeta que a pessoa pensasse em consertar ela mesma a coisa antes de jogá-la fora e comprar outra. Não há mundo que baste pra tanto lixo. (“Ah, assim você tira o emprego das pessoas”. Hueda-se! Não fui eu que inventei o sistema de consumir como o diabo pro mundo se manter. Além de tudo, o homem não nasceu pra apertar parafuso. Isso as máquinas fazem. Mais dia menos dia isso será o padrão. )
Então vamos lá (instruções para pessoas normais, e não normas ABNT, ok?):
1) Vá até a caixa de força, desligue o disjuntor relativo ao chuveiro, que geralmente é o de 200 Volts (não sabe qual é o disjuntor em questão? Vai testando um por um).
2) Uma vez desligado da força, desfaça as uniões (que geralmente são as mais porcas possíveis) entre os fios do chuveiro e os que saem da parede. Pode ser que você precise de um alicate pra ajudar, porque os fios são grossos e podem machucar as mãos). Remova também a mangueira do chuveirinho.
3) Feito isso, desenrosque o chuveiro do cano. Não imprima força excessiva, imprima jeitinho. Lembre-se que a maioria dos chuveiros hoje são de plástico e os canos, de alumínio. Portanto, podem se inutilizar se você forçar a barra ou usar ferramentas.
4) Antes de se dedicar ao chuveiro em si, verifique as condições internas do cano. Água encanada vem com bastante sujeirinha que se acumula lá dentro (pedrinhas, ferrugem, cimento), o que pode obstruir o fluxo. Futuque o cano com uma chave-de-fenda, faca ou outro instrumento, mas – lembre-se – não force muito. Por fim, abra a torneira no máximo e deixe sair bastante água pra limpar o caminho.
5) Vamos ao chuveiro: desmonte-o: desenrosque parafusos, a tampinha furadinha, o que der – com raciocínio e devagar, memorizando o caminho pra poder montar depois. Não é tão complicado.
6) Localize a resistência, que é uma peça cilíndrica envolvida com um fio helicoidal (como se fosse uma mola). Retire a resistência (ela é fixada no fundo do chuveiro com parafusos ou por encaixe). Verifique se esse fio não se rompeu em algum ponto. Se sim, você precisa comprar outra (leve a velha para comparar). Se não, procure eliminar, com uma lixa (de metal ou de madeira), aquele acumulado verde nas partes de metal da resistência e do chuveiro que se põem em contato.
7) Antes de recolocar a resistência no lugar e remontar o chuveiro, limpe as peças. Limpe especialmente a tampinha furadinha, que também costuma acumular sujeira, obstrui os furinhos e acaba causando estragos no aparelho, além de prover um banho péssimo. Use uma agulha de costura para tanto. Coloque a peça contra a luz pra ver se todos os furinhos ficaram livres e – agora sim – enrosque-a com cuidado na peça. (Esse procedimento vale também para chuveiros a gás).
8) Detail: chuveiros vêm com um redutor de pressão, uma peça opcional, de plástico, redonda, com um furinho no meio, colocável logo na entrada do cano do chuveiro, pelo lado de fora mesmo. Ele é recomendável para apartamentos, em que a pressão da água é muito forte. Papai o usa como se fosse um dogma da igreja. Eu nunca usei e estou viva.
9) Montado o chuveiro, enrosque novamente o cano de entrada dele no cano da parede. Se for preciso, envolva a rosca do cano com uma fita teflon (só cuide para não usar muita. Remember: o chuveiro é de plástico e o cano, de alumínio). Gire a peça até obter um rosqueamento razoável, de modo que a saída da mangueirinha fique para trás. Feito isso, recoloque a mangueirinha.
10) Verifique o estado da ponta dos fios, tanto do chuveiro quanto da parede. Se for preciso, descasque a proteção até que apareçam fios de cobre não atingidos, e corte fora as pontas enegrecidas. Refaça a união dos fios do chuveiro com os fios da parede. Se você é fofo e caprichoso, compre um conector, facilmente encontrável em lojas de ferragens. Se você for brasileiro, brasileiro mesmo, torça a ponta de cada fio do chuveiro na ponta respectiva dos fios da parede. Faça isso também com o fio-terra que sai do chuveiro (é o mais fininho). Se sua augusta parede não tiver um fio-terra, deixe o fio-terra do chuveiro ao ar livre, fazer o quê?
11) Feitos os dois imbróglios de fios de cobre, envolva cada ligação com uma fita isolante, de modo que cubra totalmente aquela maçaroca de cobre exposta.
12) Importante: antes de religar a força, abra a torneira para que o chuveiro e a mangueirinha se encham de água. Feito isso, aí sim, vá à caixa de força, religue a energia e pronto! (não se esqueça de passar um pano úmido no chuveiro. A coisa mais porca que há é chuveiro sujo!)
13) Se não der certo, tente inverter as ligações dos fios do chuveiro com os fios da parede. Faça também uma checagem de todos os passos pra ver se não esqueceu de nada.
14) Se ainda não der certo, mande a responsabilidade ambiental e seus dotes domésticos às favas e compre um chuveiro novo.
Bjo,
- Foto: Ai, ai… Chuveiro pós-bolivariano, com luz e musiquinha, da Zucchetti Rubinetteria. Se formos boas crianças, cuidarmos direitinho do que temos e economizarmos dinheirinho como a Dona Baratinha, um dia a gente chega lá.