Josias de Souza andou criticando a fala do governador Alckmin sobre a percepção da imprensa a respeito da situação do estado no combate às ações da facção criminosa:
Para o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) há um quê de exagero nas notícias sobre o surto de violência que o rodeia. Acha que é preciso levar em conta o tamanho do mapa. “Aqui é maior que a Argentina; é a terceira maior metrópole do mundo, com 22 milhões de pessoas”, disse, referindo-se à capital e região metropolitana.
A conta de 2012 ainda não foi fechada, mas já soma algo como 200 civis e mais de 90 policiais assassinados. Alckmin acha inadequado chamar o flagelo de ‘guerra’ da criminalidade contra a polícia. “É preciso dar o devido [critério]”, do contrário, “se cria uma situação muito injusta, quase que uma campanha contra São Paulo. E não é possível fazer isso e ainda criar uma situação de pânico na população.”
Alckmin não se deu conta, mas flerta com o inusitado. Governador de Estado que reclama do noticiário é como comandante de navio que se queixa da existência do mar.
Acho que quem não se dá conta é a imprensa mesma. Ou não se dá conta, ou finge não se dar. Que há campanha contra São Paulo, é inegável. Isso existe com política ou sem política, com bandidos ou sem, desde os tempos de Amador Bueno.
Em segundo lugar, São Paulo é maior que a Argentina, sim. É a terceira maior metrópole do mundo, sim, e, pior, a nossa “pobreza” – sim, vamos aliar criminalidade com pobreza – é rica, acentuando a tendência nacional de todo bandido ser motorizado e tecnologicamente aparelhado à larga. Em terceiro, mesmo com as mortes recentes, os índices de homicídios no estado continuam mais baixos do que no Rio de Janeiro, por exemplo, contando com o fato de que só últimamente o RJ teve uma queda acentuada de mortes per capita pelo simples (simples mesmo) expediente de conseguir, com a ajuda das parcas forças federais, avançar morro acima e acabar com os feudos dos traficantes, espalhando-os alegremente Brasil adentro.
Assim que começaram os recentes ataques a policiais em SP surgiram algumas opiniões precipitadas, incluindo a do especiaista Walter Maierovitch, de que o ideal seria chamar o Exército para “tomar” as áreas estratégicas do tráfico, como se aqui fosse RJ e como se SP fosse um último bunker de implicância e resistência à glória lulesca do Governo Federal. E mais, como se a polícia paulista tivesse institucionalizado as milícias e como se as ações desde 2006 não ivessem dado certo. Ora, isso não faria sentido aqui, já que não há áreas onde a polícia não entra, assim como não faz em Santa Catarina, alvo mais recente desses ataques e que também acaba de recusar tal hipótese.
Ora, não há prova maior da eficiência da polícia paulista do que o próprio fato de a facção criminosa ter decidido das cabo da vida de seus integrantes. A polícia paulista incomoda os bandidos, coisa que não ocorre nos demais estados da Federação, onde, parece, todos convivem na mais santa harmonia. Talvez seja esse o estado de coisas ideal para algumas opiniões, mas aqui não é (somos estranhos mesmo).
Diante das bravatas do Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo de que “o governo federal não era Casa da Moeda” pra ficar mandando dinheiro para São Paulo (como se isso não fosse obrigação), a presidente Dilma deu-lhe uma enquadrada e resolveu sentar-se com o governador para ver o que era possível fazer no estado e, parece, as demandas daqui venceram. Não queremos ações espetaculares e, sim, que o governo federal cumpra com suas obrigações.
Note que todas as “ofertas” conseguidas por Alckmin do Governo Federal não passam de compromissos que Dilma e seus ministros deveriam exercer normalmente, mas que não são cumpridas por desleixo, incompetência geral e incompetência específica do governo petista: atuação na fiscalização de estradas – “autorização” da PM paulista para atuar nas estradas federais do estado -, transferência de presos, atuação em portos e aeroportos, agilização da burocracia diária na Justiça e estreitamento da atuaçao conjunta com a Polícia Federal.
Neste feriado a artilharia da imprensa é contra a entrada de celulares nas prisões. Ora, as abordagens da imprensa fazem crer que esse seja um problema apenas do governo paulista. Não é, há muito tempo.
Alckmin afirmou que o monitramento de celulares nas prisões ajuda no trabalho de inteligência. É o que temos por ora. Custo a crer que o governo paulista não teria adotado medidas drásticas de revista em presídios caso a lei ou o orçamento permitissem. Também é de ponderar a hipótese de ser esse um dinheiro (instalação de raios x nas prisões) jogado pelo ralo caso fosse medida atodata apenas em presídios paulistas e não no resto do país.
O que realmente estranha é a imprensa tratar o governo paulista como incompetente. Primeiro porque não é. Segundo, a imensa diferença de tratamento em relação aos demais governos e suas ações nem sempre eficientes, abordadas pelo mesmo jornalismo como messiânicas. Terceiro, a quem interessa insuflar um clima de pânico maior do que já é? – e não me refiro ao jornalismo popular.
Resumindo, minha pergunta: Paraisópolis vai virar novela ou não?