Paulo Maluf é pré-candidato à Prefeitura. Ele não tem esses pruridos de ir para o governo do estado, depois voltar para o município, depois virar senador, depois isso e aquilo. Pra ele qualquer parada é boa, desde que tenha bastante concreto.
Bem, sua plataforma agora é fazer um puxadinho nos rios Pinheiros e Tietê, dando aos motoristas mais oito faixas de rolamento. Fez as contas e diz que cabe no orçamento ao longo de três anos.
Eric Ferreira, doutor em Engenharia dos Transportes e ex-diretor do Institute for Transportation and Development Policy (ITPD), entidade internacional que estuda alternativas sustentáveis de transporte, acha isso uma aberração e um crime ambiental.
Na opinião dele, Maluf é de uma geração de engenheiros que acredita se resolver o problema do trânsito com mais estradas ou mais espaços para os carros: “Isso só gera mais congestionamentos. Criar mais infra-estrutura para os veículos só aumenta o problema”. Ferreira explica bem: a idéia de Maluf joga com o sonho da classe média de andar de carro pela cidade.
Por outro lado, Ferreira acha uma bobagem a opinião geral de que a ampliação do Metrô solucionaria os deslocamentos na cidade: “A rede metroviária hoje cobre 0,36% do território de São Paulo. Vamos imaginar que esse número seja triplicado nos próximos anos. Iríamos atender a pouco mais de 1% do território paulistano a um custo gigantesco”. Sob esse ponto de vista, mandar ver no asfalto é mais barato e mais rápido de fazer.
De uma maneira ou de outra, todo mundo sabe como funcionam as coisas aqui na capitár: as infra-estruturas ampliadas, longe de aliviar e dar conforto aos usuários, transformam a vida em um definitivo inferno. Isso porque tais melhorias acabam atraindo mais negócios, maior facilidade de deslocamento, mais gente, a compra de mais carros… Quando tais movimentações e conceitos estão implantados pra todo mundo, fica difícil de a pessoa largar o hábito.
Hoje li um ‘cadinho de uma entrevistinha de Olivier Anquier para uma publicação aqui do bairro. Ele mora em Vila Madalena e falou de seus três fusquinhas, mas diz que gosta mesmo é de andar a pé, costume que traz de sua vida européia: ir ao supermercado, ao açougue… tudo a pé. Contou que uma vez saiu de seu dentista na Paulista e veio pra casa batendo perna (é uma distância considerável e por vezes inóspita, por causa de viadutos e avenidas de trânsito pesado).
Eu já fiz isso bastante quando batia ponto. Hoje trabalho muito em casa e uso o carro umas duas, três vezes por semana, mais por falta de tempo do que por conforto. Mas quando encontro umas horinhas vagas, saio andando. Quando tenho companhia, é ótimo. Quando não tenho, vou sozinha. Às vezes ando o dia inteiro, sob as bronquinhas de mamã (desde que éramos pequenos, seu sonho é que: 1) descansemos; 2) estouremos de tanto comer; 3) fiquemos gordinhos; 4) corados; 5) agasalhadíssimos; 6) brincando à sua volta. Às vezes ela consegue os números 2 e 3. Mas os números 1, 4 e 5 e 6, sinceramente, tá difícil).
Mas que o paulistano adooooora seu sonho crassimédia, ah, isso gosta. E Maluf sabe muito bem disso.
- Fonte: Terra.
- Foto: Iwi Onodera, Globo.com.