Cê vê, né…

Cesare Lombroso foi um cara que, basicamente, achou de definir um criminoso nato pela aparência. Tamanho do crânio, pontinha do nariz, jeito das orelhas… Tá certo que um estudo desses já nasce desacreditado, porque um camarada desse jamais vai concluir que um degenerado pode ser parecido consigo. Lombroso definiu, por exemplo, que quem tem o lóbulo da orelha curvo, fazendo uma entradinha quando se junta com o rosto, é superbonzinho. Os lóbulos que chegam direto é característica dos celerados. Aí então eu estaria frita, e na minha família o único que se salvaria do inferno eterno é o pai de Periquito Augusto de Orléans e Bragança.

Mas lembrei imediatamente de Lombroso quando vi o PM tenente Fernando Neves, que deu um tiro nos cornos pra não pagar mico na corporação. Ele era um pedófilo tarado, degenerado, sem-vergonha e celerado, mas tinha uma aparência tãããão limpinha, tão boazinha…

Mas o lóbulo da orelha dele vinha direto, como se pode comprovar na entrevista que ele deu quando atendeu ao caso do Edifício Londznnnnnn. E a orelhinha de Lombroso, pode olhar na foto, faz uma curvinha. Ééééé….

Mas eu não confio em homens que não aparam seus cavanhaques. Não confio meeeeesmo…

A megera domada

O Teatro do Ornitorrinco estréia amanhã A megera domada, de Shake, com tradução customizada de Cacá Rosset. Cristiane Tricerri fará Catarina, e o Petrucchio – básico – será feito pelo próprio Cacá. Eu gostaria muito de ver, mas qualquer pessoa mais chegada sabe que as chances são mínimas, pois a rotina não está mole. Pena…

Teatro Sergio Cardoso, na Rui Barbosa. Ingressos super pópis: vintinho, e dez a meia entrada. Até 31 de agosto.

  • Foto: Cacá Rosset e Rosi Campos no longínquo 1985, encenando Ubu-Rei, momento memorável para moá: meu sobrinho mais velho começou a se agitar na barriga da mãe no início da peça, quando a Marselhesa tocava numa guitarra pesada. Mas tarde, soube-se, ele estava era dançando mesmo.

Manda ver, Flávia!

Flávia Cristiane Fuga e Silva tem 26 anos. Ela fala com dificuldade, tem limitações de movimento e coordenação motora comprometida.

Contra todos os pruridos, tããããõ normais em pessoas que rezam muito e se chocam facilmente com qualquer coisinha, Flávia se formou normalmente em Direito pela Universidade do Vale do Paraíba (Univap) e acaba de receber o número 269.203 da Ordem dos Advogados do Brasil. Ela torna-se, assim, a primeira defensora com paralisia cerebral do estado de São Paulo. Ao mesmo tempo, uma pá de gente toda flozô, perfeita, com papai e mamãe “apoiando”, não consegue passar na OAB nem por decreto divino.

Hoje o STF finalmente aprovou as pesquisas com células-tronco embrionárias, o que dá esperança a milhares de pessoas portadoras de inúmeras doenças e deficiências, incluindo a paralisia cerebral. Quem sabe a Flávia ainda se beneficia com isso? Eu rezo pra que consiga. Aliás, acho que é pra isso que servem as rezas em gerais.

Diapé…

Paulo Maluf é pré-candidato à Prefeitura. Ele não tem esses pruridos de ir para o governo do estado, depois voltar para o município, depois virar senador, depois isso e aquilo. Pra ele qualquer parada é boa, desde que tenha bastante concreto.

Bem, sua plataforma agora é fazer um puxadinho nos rios Pinheiros e Tietê, dando aos motoristas mais oito faixas de rolamento. Fez as contas e diz que cabe no orçamento ao longo de três anos.

Eric Ferreira, doutor em Engenharia dos Transportes e ex-diretor do Institute for Transportation and Development Policy (ITPD), entidade internacional que estuda alternativas sustentáveis de transporte, acha isso uma aberração e um crime ambiental.

Na opinião dele, Maluf é de uma geração de engenheiros que acredita se resolver o problema do trânsito com mais estradas ou mais espaços para os carros: “Isso só gera mais congestionamentos. Criar mais infra-estrutura para os veículos só aumenta o problema”. Ferreira explica bem: a idéia de Maluf joga com o sonho da classe média de andar de carro pela cidade.

Por outro lado, Ferreira acha uma bobagem a opinião geral de que a ampliação do Metrô solucionaria os deslocamentos na cidade: “A rede metroviária hoje cobre 0,36% do território de São Paulo. Vamos imaginar que esse número seja triplicado nos próximos anos. Iríamos atender a pouco mais de 1% do território paulistano a um custo gigantesco”. Sob esse ponto de vista, mandar ver no asfalto é mais barato e mais rápido de fazer.

De uma maneira ou de outra, todo mundo sabe como funcionam as coisas aqui na capitár: as infra-estruturas ampliadas, longe de aliviar e dar conforto aos usuários, transformam a vida em um definitivo inferno. Isso porque tais melhorias acabam atraindo mais negócios, maior facilidade de deslocamento, mais gente, a compra de mais carros… Quando tais movimentações e conceitos estão implantados pra todo mundo, fica difícil de a pessoa largar o hábito.

Hoje li um ‘cadinho de uma entrevistinha de Olivier Anquier para uma publicação aqui do bairro. Ele mora em Vila Madalena e falou de seus três fusquinhas, mas diz que gosta mesmo é de andar a pé, costume que traz de sua vida européia: ir ao supermercado, ao açougue… tudo a pé. Contou que uma vez saiu de seu dentista na Paulista e veio pra casa batendo perna (é uma distância considerável e por vezes inóspita, por causa de viadutos e avenidas de trânsito pesado).

Eu já fiz isso bastante quando batia ponto. Hoje trabalho muito em casa e uso o carro umas duas, três vezes por semana, mais por falta de tempo do que por conforto. Mas quando encontro umas horinhas vagas, saio andando. Quando  tenho companhia, é ótimo. Quando não tenho, vou sozinha. Às vezes ando o dia inteiro, sob as bronquinhas de mamã (desde que éramos pequenos, seu sonho é que: 1) descansemos; 2) estouremos de tanto comer; 3) fiquemos gordinhos; 4) corados; 5) agasalhadíssimos; 6) brincando à sua volta. Às vezes ela consegue os números 2 e 3. Mas os números 1, 4 e 5 e 6, sinceramente, tá difícil).

Mas que o paulistano adooooora seu sonho crassimédia, ah, isso gosta. E Maluf sabe muito bem disso.

  • Fonte: Terra.
  • Foto: Iwi Onodera, Globo.com.

Micos da imprensa

O coordenador da Defesa Civil de São Paulo, Jair Pacca de Lima, pediu pra sair. Ele desmentiu que o motivo de sua saída tenha sido o king-kong midiático da semana passada, quando a Globonews e a Record noticiaram a queda de um avião em Moema. Pacca afirma que apenas segue o coronel Alberto Silveira, de sua equipe, que foi exonerado da Coordenação de Segurança Urbana de São Paulo ainda em abril. O coordenador executivo da Defesa Civil, tenente-coronel Adilson Alves, e o coordenador de Apoio Operacional em Busca e Salvamentos, José Carlos Evangelista, também pediram exoneração de seus cargos, pelo mesmo motivo.

A Record e a Record News, as donas Osmerdinas da imprensa tapuia, trataram de tirar o corpo fora e jogar a culpa do erro de informação na Defesa Civil. Pacca nega: “Nunca confirmei nada disso. Nem poderia dar essa informação”. E eu não duvido dele. Até porque, se fosse isso verdade, a Globonews não ficaria quieta.

Agora eu digo: quando houve esse incêndio, eu estava na net e com a tevê ligada, por causa da CPI do dossiê. Até pensei em postar algo. Mas jamais naquela hora. Em dois, cinco minutos, poderia saber algo mais do que um idiota “Mais um avião caiu em São Paulo”. Tenho um certo público por aqui, e seria cruel não esperar saber pelo menos o número do vôo, de onde vinha… Foi questão de segundos decidir que não faria post nenhum. Nem Marco Aurélio Top-Top Garcia nem teve tempo de executar o gestual que sua mãe lhe ensinou.

De qualquer maneira, não paga a pena querer chegar primeiro com a informação custe o que custar, porque isso geralmente não faz diferença nenhuma depois. O importante é dar a notícia correta, e com informações minimamente decentes. Isso para a grande imprensa. Imagina para um pobre bloguinho, que usa notícias mas não tem pretensão nenhuma de dar informações quentinhas pra ninguém. Aqui é só clipping pessoal, comentários, fofocas e maledicências. Mais que isso, não tenho tempo, estrutura nem capacidade pra fazer.

De qualquer maneira II, Jair Pacca de Lima fez um excelente trabalho. Nem falo dos acidentes da TAM ou da cratera do Metrô, no ano passado. Refiro-me ao dia-a-dia, às visitas às áreas de risco (“meu lar, meu cantinho”), atividade para a qual é preciso ter um saco de ouro.

  • Foto: Bombeiros e Defesa Civil no acidente da TAM, em julho do ano passado.

Notícias de ontem (que pra mim ainda é hoje)

Sorry. Só agora, 12:34, retomei minhas atividades (que deveriam ser de ontem). Portanto…

Coluna do Cláudio Humberto:

Indignação

O senador Romeu Tuma (PTB-SP) ficou indignado com a tentativa do psiquiatra George Sanguinetti, que se diz “legista”, de desqualificar a perícia da polícia paulista, das melhores do mundo, no caso Isabella.

Do G1:

A presidente da Associação dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (Apcesp), Maria do Rosário Mathias Serafim, decidiu hoje que ingressará na sexta-feira com um processo pedindo a interpelação judicial do médico-legista George Sanguinetti e da ex-perita Delma Gama. Sanguinetti e Delma classificaram ontem o laudo da Polícia Científica do Estado de “medíocre, dúbio e imaginativo”.

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Nessas, eu achei uma história bem interessante sobre como o casarão cinza da alameda Santos, perto do Conjunto Nacional, se entrelaça com a história da família de Maria do Rosário Serafim, uma mulher sui-generis. Isso mesmo: por ser negra e um tipo finíssimo de mulher. Me lembra Tia Tetê, que criou minha mãe e tem mais educação que a família inteira junta. Ricardo, principalmente, vai gostar de ler. Ou não. Mais sobre a família Serafim aqui (agradecendo a São Google).

Falando nisso, aqui vai o site da Associação de Peritos do Estado. Ele é bem “enxuto”, precisa ser desenvolvido, mas promete.

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E não é que o brasileiro lê? Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil apurou que Monteiro Lobato é o segundo autor mais lido no Brasil. Isso porque ele morreu em 1948; isso porque ficamos durante décadas sem uma edição sequer de um livro seu; e isso porque ele só perde para a Bíblia, um livro subsidiado, distribuído muitas vezes gratuitamente e que tem mil-e-uma funções, que podem passar loooonge de qualquer intelecção de texto.

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Cena de encadernadora: o pastor gesticulante e suadinho passa pra pegar sua bíblia ensebada, para cujo fio encomendou um ouro básico. Olha o material, que teve de levar um corte na guilhotina, porque a extremidade das folhas estava mais suja que nota de um real. Ele tem um chilique. Começa um bate-boca. O pastor ameaça com um processo. Uma autoridade no assunto que passava pelo local é chamada a dar seu parecer. A autoridade diz ao pastor que a edição que ele carrega nas mãos não valia um fio dourado, muito menos um escândalo. O pastor disse que comprou a Bíblia por 70 reais. A autoridade diz que ele foi roubado, e convence-o de que um processo sobre tal bagatela acabaria com uma espinafração do juiz de pequenas causas. O pastor bobinho baixa a bola e pede desculpas. E vai embora: ele e sua ignorância geral.

Lambança

O que a gente não faz enquanto toca um detalhezinho “tomático” do silviço, não?

Liguei a tevê e topo com o óbvio. Sanguinetti está onde?, onde? No portal das migalhas, no umbral dos excluídos, na epopéia dos menores.

Lá está o cara, na Luciana Gimenez, com o mesmo terno com que passou o dia inteiro, discorrendo sobre o estupro da menina.

Antonio Nardoni deve estar tendo gatos em casa.

Cenários da teledramaturgia nacional

Ontem eu estava no litoral e dei uma olhadinha em lojas de móveis usados, porque mamãe queria ver não sei o quê. Tinha muito móvel do tipo rústico, daqueles que as pessoas idealizaram pra orrrrnar suas casas de praia, e que agoram estavam lá, velhos, ultrapassados, lanhados pelo tempo. Olhei aquilo tudo e comentei com ela como são vãos os sonhos, os desejos das pessoas.

Daí lembrei das calças Dijon, do estrogonofe, do melão com presunto, do vinho Casal Garcia, de um perfuminho sem-vergonha chamado Charlie… Lembrei até de ícones mais jererecas, como o de uma secretária que conheci na primeira metade dos anos 1990: para ela só servia o Liebfraumilch da garrafa azul, porque o da verde não prestava (a diferença de preço entre ambos, no início do Plano Real, era de 2 reais – valvez por causa da cor da garrafa).

Como as pessoas se atiram com sofreguidão em cima dessas coisas!, que soam sempre tão pequenas quanto o desejo de qualquer um em ter coisas “melhores”, um conceito que geralmente ultrapassa a própria pessoa (meu ex sempre diz: nunca adquira algo que seja melhor que você. Por quê? Porque não combina).

Pois é. Essas coisas não valem absolutamente nada. Elas são compradas em qualquer shopping, pô! O mesmo acontece com produtos mais indiretos, como casas de espetáculos e hotéis, por exemplo. Estes ultimos, então, estão numa maré de ruína. Por esses dias já encontraram produtos vencidos no Copacabana Palace. O Hilton da avenida Ipiranga hoje abriga… magistrados, o que, convenhamos, é o ápice da decadência. O Caesar Park da Augusta, que recebeu até a Madonna (eu vi, eu vi! passei por lá obrigada, na companhia de uns amigos animadinhos), está desativado desde 2003. E agora vai a leilão o must dos anos 80 aqui em Sumpa, o Maksoud Plaza, na alameda Campinas com São Carlos do Pinhal, na Paulista.

O famoso vão central do Maksoud foi o cenário de gravação da queda de Ângela Vidal, personagem de Cláudia Raia na novela Torre de Babel, de Sílvio de Abreu. O hotel foi o uauauau da cidade durante muito tempo, e atendeu ao gléééémour de todo mundo, desde os velhos querendo impressionar as menininhas até a molecada, que abocanhava o café da manhã de lá depois de uma noite pela rua. Com seus 22 andares e mais de quatrocentros apartamentos, está sendo chacoalhado para os possíveis compradores com lance mínimo de 47,5 milhões de reais.

  • Foto (acima: Leonardo Media Services B.V, via Yahoo Travel): a coisa ainda funciona como hotel. Sem o esplendor doutrora, mas está lá. (Abaixo: Susane Z. Riehemann): vão central: coisa mais vã…

PS.: O leilão aconteceu, mas ninguém quis comprar o bichinho. Vai tudo pra penhora. Dívidas trabalhistas, tsc, tsc…

Peritagem de “ocasiã”

Ai, ai… George Sanguinetti Feeeellllloooowsss e a preclara dona Merdolinda precisam se decidir, sabe? Ele insinua que o sangue dentro do apartamento não é da menina. Já ela diz que a garota foi passada pela rede de cabeça para baixo, daí a marca de sangue no peitoril da janela.

Sanguinetti, o engenheiro de obra pronta, também defende que as marcas encontradas no pescoço da menina podem ter sido feitas durante as tentativas de socorro. Sei lá de onde ele tirou dados de que alguém tentou socorrer Isabella tão contundentemente. Sabe-se, desde o início, que o casal falou e andou para corpo estendido na grama, e as outras pessoas prudentemente esperaram pelo socorro especializado.

Mas o que me deixou pasmada mesmo foi o aplomb, o tom de voz, a verdadeira epifania da apresentação de Merdolinda. Ela não só matou a charada, pré-anunciando que a rede foi cortada para que se jogasse algum objeto de furto (tá certo: o ladrão ganharia tempo jogando uma tevê de práááásma do sexto andar), como também mencionou erros de ortografia nos laudos (iiiiisso, Merdolinda! Sentimo-nos humilhados aqui, já que os textos jurídicos de sua terra de origem são um primor do vernáculo). Aproveitou e desclassificou os laudos inteiros. Onde estavas tu, ó, Merdolinda, que não a conhecíamos? Tu, filha dileta de Osmerdina, estavas aí escondidinha, humilde, esperando que a humanidade lhe convocasse? O mundo não será o mesmo depois de tua  aparição, muié! Também chamou de pántómíma, pááántóóómíííma, a transmissão pela tevê da reconstituição do crime. Sei lá, deve ter visto a pááántóóómíííma sem piscar…

O que dá preguiça é que a defesa tem direito a recorrer a esses expedientes desesperados, o que não muda em nada o transcorrer da coisa. O promotor Cembranelli disse que (tradução minha), além de não alterar em nada a peça acusatória, a ação duvidosa desse senhor e de sua assistente de circo ferem a ética ao mostrar escrachadamente a foto do cadáver no IML e ao tentar desclassificar o trabalho dos profissionais do maior instituto de criminalística da América Latina.

Sei lá. Tem trabalho que demanda mais suor. Vão suando aí, vão…