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Modernize-se, então, a Vila Madalena

Estou aqui a fazer algo que nunca faço: ler o Guia da Vila, revistinha coloridinha, muito benfeita, mas que no fundo é aquele lance: as matérias justificam os anúncios, e não o contrário. É que faltou luz aqui em casa, encontrei um toco de vela – lembrei que preciso comprar um pacote e colocar bateria na luzinha portátil -, ia prosseguir no meu Lotte & Zweig, mas topei com a tal publicação do José Luiz Penna e retomei uma entrevista com Otávio Zarvos, dono da incorporadora Idea!Zarvos, sobre os seus planos pra Vila.

“Seus planos??” Sim, seus planos. Se todo mundo se arvora a ter planos pra isso e praquilo, por que não o rapaz? Ele diz certas coisas com as quais concordo, sim. Trechos da entrevista e comentários meus:

Em São Paulo, as pessoas têm um pensamento que é nocivo para elas mesmas. São contra os prédios e não querem que a cidade tenha mais pessoas, mas ao mesmo tempo querem estrutura boa. São duas coisas que não combinam. Com maior adensamento teremos mais serviço, padaria, hospitais, praça de esporte, escolas etc.

Não me lembro de ter mencionado aqui, mas ficou épico um texto de Raul Juste Lores em seu blog na Folha, em que ele defende certa verticalização, mencionando tb. Vila Madalena, e foi praticamente condenado à fogueira pelos comentadores.

É claro que eu gostaria que São Paulo se assemelhasse a alguma cidadezinha do sul da França, mas não é assim. NÃO É ASSIM! Então, vamos ver o que dá pra melhorar com o que temos.

O povaréu pega uma ideia que parece fofa, encasqueta na cabeça e é fantástico que não haja argumento que o demova daquilo. O exemplo aqui é a avença contra empreendimentos imobiliários – os novos, é claro, porque os antigos são de  propriedade dos detratores, eles não largam seu chão de cimento de jeito nenhum e nem seriam loucos de fazê-lo, a não ser em troca de um bom, polpudo e supervalorizado metro quadrado na faixa, determinada justamente por quem? Pela especulação imobiliária.

Frequentemente ando a pé pela Vila. Geralmente aproveito que tenho uma editora lá embaixo, dispenso a gentileza do boy e pego e entrego os trabalhos eu mesma, caminhando para além do Galinheiro, birosca que virou um  restaurante de proporções épicas lá na Inácio Pereira da Rocha. E dá pra observar, notar mudanças. Conheço a Vila há pelo menos vinte anos, e muita coisa mudou por lá. Não é um bairro tão especial, não. No início eram casinhas bem simples, que passaram pelo udigrúdi dos alunos da USP, a boemia estudantil, a criatividade, e isso tudo foi devidamente engolido pela contracultura de sempre. Hoje são ateliês muito profissionais, padarias chiques, lojas de móveis arrojados, butiques fofinho-modernas, birôs gráficos, restaurantes e bares que mudam de nome conforme a moda e inúmeros escritórios – todos ligados a criatividade, todos com seus SUVs e senhoras loirudas que não passam sem cabelo e unha em salões bem alentados. Resta alguma coisa da antiga Vila Madalena – um botequim aqui, uma lojinha legal ali e a terrível mão-dupla em suas ruas estreitas – coisa de fazer o pedestre, diante do aumento horrível do trânsito, a querer tudo, menos atravessar nas faixas, porque nunca se sabe o louco que vai converter sem olhar.

Voltemos à entrevista do Zarvos:

Sou contra [tombamentos]. É um discurso fácil de vender, mas muito nocivo para o bairro. Os novos comércios que surgiram por aqui é por causa dos novos prédios comerciais que surgiram por aqui. São pessoas que trabalham aqui durante o dia. Antes, as pessoas só moravam por aqui e as pessoas vinham para o bairro à noite para as baladas e pelos bares. Durante o dia o bairro era morto.

[…] Ele é inviável juridicamente. Os órgãos que fizeram tombamentos anos atrás, sabem dos danos que eles causaram e não fazem mais isso. Os locais tombados em São Paulo se degradaram. Na Vila seria um quarteirão. O tombamento prejudica quem mora aqui. Nas reuniões que tive com moradores mais antigos aqui da Vila, eles não sabiam o que é o tombamento e quando entenderam que os imóveis deles teriam 70% de desvalorização, ficaram revoltados.

Pousé. Tombamento é bacaninha quando não é comigo. Os danos a que se refere Zarvos são, por exemplo, a City Lapa e o Pacaembu, que estão praticamente abandonados. As coisas mudam, as necessidades mudam, e nenhum casal classe média alta é tão estoico assim pra escolher morar num local com infraestrutura antiga, que não atende a suas necessidades. Você acha 5 carros na garagem e shopping/serviços perto necessidades ridículas? Eu também. Não inventamos nem precisamos de nada disso, mas é o que temos como realidade para os moradores comuns. Ponto.

Outra coisa: quando ouvimos “especulação imobiliária” imaginamos logo que os prédios novos acabarão com as casinhas com mangueiras no quintal, aquela vidinha calma, simples e antiguinha. Não. Um prédio novo que arrase um quarteirão dará lugar a, pelo menos, uma área provavelmente mais arborizada e com estacionamento e ordem, e eliminará de vez pelo menos um correr de casas horrendo, improvisado, todo cimentado, sem lugar pra carro e sem uma – uma – árvore sequer no jardim ou no quintal. Vila Madalena, em muitos trechos, não escapa a esse padrão.

Elaboramos um plano de bairro com diversas propostas de urbanistas, arquitetos. Ele ainda não foi entregue à Subprefeitura, mas está pronto. Ficamos vários meses, por iniciativa de nossa empresa fazendo isso. Buscamos em Nova York um arquiteto, Davis Brody Bond, que tem experiência neste tipo de projeto e que ainda não foi feito aqui no Brasil. O plano envolve também a parte econômica. São várias propostas e já debatemos com vários grupos daqui do bairro, com moradores novos e antigos, lojistas, donos de restaurantes e bares, com órgãos da prefeitura, CET, vereadores… […] Inclui mudança de zoneamento do bairro. Não queremos levantar prédios mais altos ou coisa assim. Precisamos fazer adequações. Temos locais aqui muito degradados. Reformas das calçadas, ruas com sentido único e com redutores de velocidade, trocar os ônibus maiores por menores para servir melhor aos moradores. […] Criar passagens para pedestres em alguns quarteirões que são muito grandes por aqui.

Quem pagou por este estudo? Nosso escritório. Estamos dando esse plano para o bairro. Para nós é uma questão ética. Primeiro, é uma forma de retribuir. Segundo, se a gente conseguir implantar metade do que está no plano, ele que é o bairro mais bacana da cidade, vai ficar mais legal ainda. E isso vai refletir para todo mundo, morador, empresário…

O que o plano prevê contra enchentes? A proposta é implantar o Parque Linear. O Rio Verde está canalizado, desde o metrô Vila Madalena. E a Vila está impermeabilizada. Com o parque e calçadas drenantes a água segue para uma grande adutora que joga a água da chuva para o sistema pluvial da região. E sem necessidade de desapropriar nenhum imóvel. (segue)

Well, o Parque Linear a Prefeitura acaba de anunciar que vai sair. Isso se sair, porque poder público – não o prefeito; a máquina em si – é um monstrengo que não funciona a contento em Brazziland, é uma vergonha. Pra ser ter uma ideia, um vereador prometeu a travessa Tim Maia desse jeito, mas ficou assim. Nem um nem outro previram a existência de cadeirantes, muito menos ciclistas, que tem de monte aqui. O poder público miudinho, a vereança, mesmo em São Paulo, é velho, é caipira, tem raciocínio lento e retardo mental.

Eu preferiria que esse parque linear fosse feito pela incorporadora do rapaz, junto com seu planão. O cara pagou pelo estudo, não está aí pra brincadeira e desse tipo de coisa depende o nome de sua portinha. Confio mais em sua capacidade de planejamento e execução do que em qualquer vereador que emporcalha de cavaletes a Heitor Penteado em época de eleição.

Multidões em toda parte

Não sei você, mas eu fujo de multidão como o diabo da cruz. Não gosto de show, não gosto de aglomeração de qualquer tipo. Posso estar até morrendo de fome, mas se a fila está grande no restorrã

Imagina isso multiplicado por mil quando o adequado é atitude de contemplação, como ver um quadro ou uma paisagem ao vivo.

Não, não dá, não.

São Paulo está sempre assim (lembro de quando levei José pra ver Escher, muito tempo depois da inauguração, quando a instalação da entrada do CCBB já estava ensebada pela multidão persistente, ainda ali, fazendo fila para alguém fotografar).

Ontem, além dos impressionistas no CCBB (foto), Caravaggio no Masp e as cerejeiras em flor no Parque do Carmo (com o adendo da presença de José Serra).

Este último talvez seja o mais dramático, porque as árvores ficam lindas por alguns dias, muito menos tempo do que uma exposição.

Dando tratos à bola sobra a melhor ocasião pra ir aos três (se puder,  se o trabalho deixar). Daqui a dois meses, tipo uma segunda de manhã?

Bobagem. É como o efeito 25 de Março. Milhares de pessoas terão a mesmíssima ideia.

Olha o tamanho da jaca

Com base na Lei de Acesso à Informação, a Folha exigiu e a Aeronáutica forneceu informações sobre os obstáculos no cone de aproximação dos aviões no entorno do Aeroporto de Congonhas.

Pra quem não sabe, o Aeroporto de Congonhas existe desde 1936, quando Jabaquara era praticamente Mata Atlântica. Por um monumental desleixo conjunto de município, estado e Federação ao longo dos anos, a área em volta da pista foi sendo ocupada carnavalesca e corruptamente, e o resultado é esse que sabemos.

Congonhas chegou a ser o aeroporto mais movimentado do país até 2007, quando aconteceu aquele acidente horroroso com o voo 3054 da TAM. Depois da tragédia foram tomadas várias medidas, que, se não solucionaram, pelo menos amenizaram os problemas. Hoje Congonhas não recebe voos internacionais e foi ultrapassado no ranking da movimentação por quem de direito, como os aeroportos do Galeão (no Rio), Cumbica (Guarulhos) e o Aeroporto de Brasília.

Mesmo que o Brasil chegue um dia a ter uma distribuição equilibrada de movimentação em terminais aeroviários, Congonhas ainda será uma ameaça ao entorno. Quem não lembra de outro acidente, em 31 de outubro de 1996, com o Fokker 100 da TAM, cuja queda logo após a decolagem resultou em 99 mortes?

Bem, tirar essa gente toda à volta do aeroporto é impossível. Veja o link da reportagem e constate que a presidente da Associação dos Moradores de Moema mora na cobertura de um prédio que ultrapassou a especificação da Aeronáutica em 1,60 metro.

Dá pra lidar com essa esquizofrenia?

Lapa chic

Vocês viram como vai ficar a Lapa ano que vem?

Quer dizer, é o que se promete. Não que eu duvide da palavra da Prefeitura, mas é que o dinheiro aqui é sempre suado e algo pode emperrar no meio do caminho.

Do Estadão (editei):

[…] A obra, que será financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), deve começar no ano que vem.

A ideia da companhia é enterrar a linha férrea e construir na superfície parque e prédios comerciais.

Dois grandes problemas estruturais precisam ser resolvidos na Lapa. Primeiramente, porque há duas estações, uma da Linha 8-Diamante e outra da Linha 7-Rubi, separadas por 500 metros e sem nenhuma integração. Além disso, a linha férrea acabou separando o bairro em duas porções – as chamadas Lapa e Lapa de Baixo -, uma divisão existente desde os tempos do café.

“Pensamos em fazer algo que não só melhore a integração dos trens como também qualifique o bairro”, diz a arquiteta Fernanda Barbara, sócia do escritório Una Arquitetos, responsável pelo plano. “São Paulo não pode mais pensar apenas em projetos de transporte, mas sim em projetos de qualificação urbana.” […]

Pra quem não conhece, o centrão da Lapa é muito influenciado por um conceito antigo: a atração que a linha de trem exerce sobre o pior do que concebemos como popular: baixo comércio, sujeira e abandono. É de espantar que não haja grandes destaques à violência, já que a área é perfeitamente transitável – mas feia que só.

O grafismo acima é um tanto obscuro, mas dá pra perceber (há mais exemplos aqui) que esse monte de prédios à direita é o conjunto habitacional que se situa “do outro lado” da linha férrea, no que se chama “Lapa de Baixo”, uma região um tanto esquecida. Só para localização, se avançamos mais à direita, onde a imagem não alcança, encontramos uma região com muitas indústrias e com urbanização bem bacaninha, do que é exemplo a avenida Ermano Marchetti. E mais além, a marginal Tietê.

Do lado esquerdo, o centrão da Lapa propriamente dito, como o Mercado da Lapa (que não tem hortifruti, só peixes, carnes e embutidos) e sua via principal de comércio, a rua Doze de Outubro, além do pequeno Shopping da Lapa. Esses elementos não estão identificados, mas creio que o Mercado é aquela construção atrás do prédios mudernos, com aquele telhado em curvas.

No nicho da estação Lapa da CPTM, a gestão Marta fez um terminal de ônibus, organizando as milhares de linhas que seguem em direção à Zona Oeste mais distante. Melhorou bastante, mas não adiantou muito.

Se a ideia é ampliar a pracinha a ponto de virar um parque, alvíssaras! Morei bem perto daí quando voltei para São Paulo, e usufruí bastante do comércio do entorno. Minha vida, desde criança, sempre girou em torno das diversas regiões da Lapa, desde as mais bacanas até esse centrão popular.

As melhorias são bem-vindas, mas espero que não tornem a área mais um alvo neoclássico-da-vida, onde tudo fica padronizado no gosto induzido da classe média emergente.

E sem shoppings madrigalescos, por favor.

De volta, mais do mesmo

Pertenço à corrente que acha bem calhorda o tipo de pensamento comum sobre a “inviabilidade do mundo”:

Agora que nós, ricos, nos esbaldamos à beça em desperdício,
compramos tudo o que quisemos e estamos enormes de gordos,
é hora de cortar as asinhas dos mais pobres
que finalente têm algum tipo de acesso a bens e comida.

Voltei terça-feira de viagem, e tomei contato com o último “episódio” da série “Planeta Terra – Lotação esgotada”, que a repórter Sonia Bridi desfia no Fantástico há algumas semanas. O assunto do último domingo foi São Paulo – cidade insustentável?

Bem, a escolha é óbvia. Ninguém pensaria em abordar tal assunto no Rio de Janeiro, por exemplo, até porque pegaria mal para quem abrigou a Rio +20 e só mostrou aos representantes estrangeiros, às menininhas-musa e aos índios as belezas da orla urbanizada. Em outras metrópoles, como Belo Horizonte, Recife ou Fortaleza, isso simplesmente não interessa.

A matéria começa com congestionamento. Já cansei de dizer aqui que isso é uma falácia. Congestionamento tem em um monte de cidades. Só varia de acordo com o nível de interesse/atração que elas despertam. No dia em que Jabiraca do Norte for polo de empregos e riqueza, daí você me conta como estará o trânsito por lá. Isso já acontece em um monte de municípios, e pior: sem estrutura viária para tanto. O excesso de carros tem que ver com uma série de fatores econômicos, sociais, culturais, de infraestrutura. Não com a a cidade em si.

Depois lasca no coitado do Ceasa. O horror, o horror!: 10 mil toneladas de comida. Ora bolas, se são 11 milhões de habitantes, isso dá 1 quilo de comida por dia/habitante. Isso porque ela não contou com as cidades satélite que vêm todo dia trabalhar e comer aqui. Não somos tão glutões nem desperdiçamos mais que qualquer brasileiro.

O entrevistado, presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar, disse: “Os brasileiros, de modo geral, administram mal a comida. A estimativa é de que 30% da comida que entra em uma casa são perdidos”. Quer dizer, o pecado é do brasileiro, mas o estigma fica em São Paulo, tendeu? A megadimensão da cidade impressiona os espíritos mais ingênuos.

Prossegue, mencionando o “trânsito travado”. É chato e decepcionante dizer isso, mas o trânsito de São Paulo não é travado. Isso só acontece quando há acidentes. São muitos, mas são acidentes. Geralmente com caminhões. Quando não acontecem, a marginal, por exemplo, é uma delícia.

O lixo tóxico: São Paulo gera muito lixo tóxico, mas outras cidades geram muito mais. Ao contrário de São Paulo, estas últimas não têm um programa de controle de emissão de poluentes, eventualmente não recebem automóveis e caminhões de outras cidades nem programa de arborização. Como eu disse, é só uma questão de quantidade, não de DNA.

Prossegue no rosário de lugares-comuns, como má distribuição de água, a falta de planejamento urbano, a quantidade de carros, a malha “pequena” de metrô, e finalmente a suprema cretinice: São Paulo “chupa” energia de Itaipu.

E finaliza com o melhor: pai de bebê imagina uma cidade mais justa para o futuro. Isso, naturalmente, não se dará pelo empenho dele na educação da criança, mas por um passe de mágica – que só deve acontecer em… São Paulo. Jabiraca do Norte é fora de cogitação.

Talvez o melhor mesmo seja que São Paulo suma do mapa, e que o Brasil viva feliz com suas cidades médias, plenas de emprego e qualidade de vida, planejadíssimas e respeitadoras conscientes do meio ambiente.

Pouca gente, pouco carro e tal…

A desgraceira da mão de obra nacional

Há algum tempo mencionei aqui a necessidade de São Paulo de importar técnicos espanhóis para obras na cidade, porque a mão de obra nacional, ó, não chegou lá onde se precisa.

Brasil é bola da vez e SP é pole position, diz Afif a espanhóis

A coisa caminha. Estou lendo aqui no Afif Domingos, sobre um seminário a respeito da parceria ocorrido essa semana. Editei alguns trechos:

[…] a relação entre os Governos de São Paulo e de Madri deu mais um passo em direção a parcerias em projetos de infraestrutura no território paulista. Um dos primeiros contatos foi em março, quando Afif esteve na capital espanhola em missão política e particular. Com as parcerias […] São Paulo poderá acelerar projetos fundamentais – como os de mobilidade urbana, logística e saneamento. Os empresários de Madri, por sua vez, podem investir em negócios sólidos e com alto retorno financeiro. E hoje esses empreendedores espanhóis conheceram os projetos do governo paulista a serem abertos para investimentos externos via parcerias público-privadas (PPPs). A apresentação foi feita por Afif, que preside o Conselho Gestor do Programa Estadual de PPPs.

“Os empresários espanhóis tiveram afinidade total com as nossas prioridades porque são especialistas. Na sequência teremos dois níveis de contato. O primeiro será intergovernamental – acordos entre SP e Madri para criar um modelo de gestão de mobilidade urbana”. O segundo nível de contato, de acordo com Afif, será com as empresas interessadas em investir nesse modelo criado. “E aí tem muita empresa espanhola especializada que pode vir com apoio do próprio governo de Madri ou da Espanha, para investir na nossa infraestrutura em associação com empresas privadas no Brasil. Isso se chama transferência de tecnologia”.

O governador Geraldo Alckmin frisou que São Paulo é um “porto seguro” para novos negócios e lembrou que a maior parte dos 700 mil imigrantes espanhóis no Brasil estão em território paulista. “Então vocês estão em casa”, disse, dirigindo-se aos empresários.

Pole position

Afif revelou que o governo quer captar R$ 25 bilhões no setor privado em termos de parcerias público-privadas. “Estamos buscando PPP não por falta de recursos públicos, mas sim para incorporar a governança corporativa privada em nossos projetos públicos, para deixar o processo mais dinâmico”. “Temos tradição em PPP. Exemplo disso é que das 20 melhores rodovias do país, 19 estão no estado de SP, graças a concessões feitas para a iniciativa privada”.

Em sua exposição, o vice-governador dividiu o portfólio de projetos em três áreas prioritárias: mobilidade urbana, logística e saneamento. Ele citou a ampliação do metrô e implantação do trem expresso metropolitano, com trens a 160 ou 180 km/h para substituir automóvel, para aliviar o tráfego nas rodovias paulistas. “Essa rede vai atender regiões do estado que juntas representam 60% da população paulista. […]

“A Europa, especificamente a Espanha, tem expertise e liquidez dos agentes internacionais. Essa é uma crise com grande liquidez no mundo. É o momento de entrarmos nos projetos de infraestrutura com possibilidade de grande retorno financeiro para vocês. O Brasil é a bola da vez e São Paulo está na pole position”, destacou Afif.

Desafio lançado

O presidente do programa de PPPs disse que a meta é, entre 2012 e 2015, construir 32,8 km de metrô – média de 8,2 km por ano (sendo que hoje a média é de 2 km por ano). “Temos o sonho de construir 120 km de metrô até 2018. Está lançado o desafio”.

Afif também falou sobre a fábrica de medicamentos (pronta para funcionar e com projeto aberto a propostas); a construção e reforma de hospitais; o projeto de conteúdo digital para escolas públicas; a construção de presídios e de parques tecnológicos; o ferroanel, para que o transporte de carga passe a ser feito por trem e não mais por caminhão; a concessão do Porto de São Sebastião para a iniciativa privada; a construção e ampliação de hospitais.

[…]

Afif e Aurelio García de Sola (que veio representando o governo de Madri e preside a empresa Madri Netwok) assinaram protocolo de intenções na área de mobilidade urbana, entre SP e Madri.

Na política, a gente deve se ater  a nomes. Gostamos muito de fazer cálculos entre partidos, mas esse caminho só tem dado encrenca. São os NOMES – não eles em si, mas o que significam, o que fizeram, o que fazem e como fazem – que formam uma cidade, um país. Afif está nesse seleto círculo. Nosso vice-governador, um homem cuja vida é dedicada ao estado e à cidade, e não um penduricalho oriundo de arranjo político.

São Paulo foi buscar mão de obra espanhola porque, para o que se pretende fazer, não há qualificação no país. Isso, isso que você está pensando – nem na elite da mão de obra há quadros. Isso me lembra as grandes cidades brasileiras no século XIX – São Paulo e Rio, as maiores -, que até certo ponto só sabiam revirar tacho de marmelada. Chegaram os estrangeiros. Muitos eram simples roceiros (mas briosos e vencedores), mas outros vieram com experiência urbana: ourives, químicos, engenheiros, mecânicos, especialistas em qq. coisa que houvesse de mais avançado, e foi por isso que hoje podemos, por exemplo, usar um simples óculos.

Que seja assim novamente. Já dá pra adivinhar que haverá chiadeira pela crise que já chegou, sob o argumento de “desprezar nossa mão de obra” nativa, mas, sinceramente, dane-se! Ninguém vai pra frente olhando pra trás.

Dados do IBGE…

Matéria pescada do dia 26 último, no Estadão:

São Paulo é o Estado brasileiro mais bem urbanizado. A taxa de urbanismo paulista, segundo dados do Censo 2010, é de 78,1%, ante 68% na  média brasileira. Os melhores indicadores do Estado dizem respeito à iluminação pública (97,6% dos domicílios têm acesso a esse serviço), à pavimentação das ruas (94,2%) e à ausência de lixo acumulado nas vias ou  de esgoto ao ar livre (apenas 4% das residências têm esse problema).

A taxa de urbanismo foi calculada pelo Estado a partir de observações  feitas pelos recenseadores sobre dez tipos de melhoramentos urbanos localizados no entorno de 57 milhões de domicílios brasileiros e divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  (IBGE). O levantamento considerou apenas as áreas urbanas dos municípios  e não levou em conta favelas e aglomerados.

Logo atrás de São Paulo estão outros Estados das Regiões Sul e Sudeste, como Paraná (72,5%), Rio de Janeiro (71,8%) e Minas Gerais
(71,7%). São locais que receberam as últimas grandes ondas migratórias há mais de 40 anos e já tiveram tempo para consolidar a infraestrutura urbana. A outra ponta do ranking concentra novas fronteiras econômicas da Região Norte, onde a urbanização é menos recente, como Rondônia (46,2%), Pará (43,4%) e Amapá (42,1%).

Para o cálculo, foram usadas as médias municipais, ponderadas pelo número de domicílios de cada município, para que as cidades tenham um peso proporcional maior conforme a população.

Renda. A desigualdade não é apenas regional. Os dados mostram que, quanto maior a renda, mais alta a taxa de urbanização. Nada menos do que  94% dos domicílios brasileiros cujo rendimento é maior do que R$ 1 mil por mês estão em ruas pavimentadas. Mas essa proporção cai a dois terços  quando a renda dos moradores é inferior a R$ 250 (em valores de setembro de 2010). A disparidade é ainda pior quando se trata de calçadas: 87% da parcela de renda superior tem calçamento na porta de casa, enquanto a taxa no extrato de renda mais baixa cai a 45%. Além disso, os mais pobres têm seis vezes mais chances de verem o esgoto correr ao ar livre na frente de suas casas, por exemplo.

Bem, acho que ninguém aqui em sã consciência vai concluir que a falta de urbanização na pobreza é obra da maldade mundial.

Ñão há poder público que se mova por ser bonzinho. O que existe é administração pública profissional ou não. E isso quem determina é seu povo. Simples assim.

Mais síndrome do Patinho Feio

Liguei a TV agora pela manhã e vi uma Paris hollandaise cinzenta e chuvosa. Mesmo assim, certamente cheia de turistas brasileiros macaqueando em frente à Torre Eiffel, aqueles mesmos que apontam São Paulo como  cidade cinzenta, chuvosa e… poluída por excelência. (Bien, aqui já vimos que SP, justo por conta da síndrome do Patinho Feio, não é exatamente a cidade mais poluída do Brasil).

Pois bem, agora é o verde: a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente estudou o índice verde da cidade e chegou aos seguintes números (do Estadão):

A mancha urbana de São Paulo tem 2,6 metros quadrados, em média, de área verde pública de lazer – que engloba praças e parques – por pessoa. […] alguns bairros, na região central e na periferia, enfrentam paisagens ainda mais cinzentas. Mesmo com a maior área de mata da cidade, Parelheiros, por exemplo, tem 0,29 m² de praças e parques por habitante, pior resultado.

Para medir o verde da cidade, a Prefeitura usa dois índices diferentes. No primeiro, composto apenas por áreas públicas que podem ser frequentadas pela população, a capital deixa a desejar. O segundo, que inclui grandes áreas de preservação ambiental fora do perímetro urbano e nos extremos da cidade, como as Serras do Mar e da Cantareira, é de 12,5 m² de área verde por pessoa, atingindo a meta internacional de 12 m² por habitante.

Apesar de ter a segunda maior área de Mata Atlântica do País (atrás de Santa Catarina), São Paulo tem resultado geral menor do que Curitiba, por exemplo, com 64,2 m² por cidadão.

Os critérios de medição criam polêmica entre os especialistas. “O problema de São Paulo é distribuição espacial de cobertura vegetal, com índices bons em áreas rurais e em bairros como Pacaembu e Jardim Europa, e baixíssimos no centro” […]

A Mooca, na zona leste, por exemplo, é um dos locais que apresentam situação crítica. Lá, o índice de verde por habitante é de 0,35 m². Como na maioria da cidade, a falta de planejamento é responsável pelo excesso de concreto. “Na Mooca, o que predominou foi o uso industrial. Nas periferias, a ocupação foi irregular”, diz Patrícia.

Os índices de áreas de lazer são menos de 1 m² por pessoa em mais de um terço das subprefeituras da cidade. Enquanto isso, bairros de classe média de zona oeste estão bem acima de média geral.

Concorrência. A falta de verde faz com que o pouco que exista seja disputado. É o que ocorre em Pinheiros, na zona oeste, com seus bem distribuídos 5,25 m² de verde de lazer por habitante. A Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro, mais conhecida como Praça do Pôr do sol*, fica lotada nos fins de semana. “É democrático que pessoas de toda a cidade usem espaços como este nos bairros nobres”, diz a professora Sílvia Bittencourt, de 58 anos, moradora do bairro.

Com o objetivo de difundir áreas verdes, a Prefeitura tem a meta de criar cem parques. Hoje, são 81 – 43 criados desde 2005. “Estamos correndo atrás do prejuízo, não se muda uma realidade de 50 anos em quatro ou cinco anos”, diz Patrícia.

A ambientalista e integrante da Rede Nossa São Paulo, Nina Orlow, alerta que não basta a criação dos espaços. “A secretaria aumentou o número de parques e praças, mas a manutenção é desleixada”, diz Nina. No Parque Linear do Taboão, na zona leste, a reportagem do Estado encontrou até barracos.

Um dos principais problemas enfrentados pela Prefeitura na criação de novos espaços verdes é a supervalorização dos terrenos. Uma das alternativas para amenizar o problema é investir nos parques lineares, nas margens dos rios, que são áreas públicas, aponta o ambientalista Mário Mantovani, da SOS Mata Atlântica. “Além disso, não faltam áreas públicas ocupadas de maneira irregular”, diz.

Patrícia afirma que uma das apostas para tornar São Paulo mais verde é dar benefícios financeiros para particulares preservarem seus terrenos. “Já há uma lei que dá desconto no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) para quem preservar terrenos particulares. Mas muita gente não conhece “, diz.

Bem, em SP tudo precisa partir do pressuposto de que o Brasil continua vindo pra cá, o que leva a cidade a um patamar de considerações bem diferente do de outras cidades. Aqui não há lugar mais para uma pulga sequer. A cidade está imensa, supervalorizada, e a expansão sem controle continua.

E você há de concordar comigo que é um tanto cretino creditar índices ótimos de verde a um invasor da Cantareira ou da Serra do Mar. Não vale. Não vale nem pra artista eu-quero-uma-casa-no-campo, nem pro invasor comum:

Se a foto servisse pra apontar os telhados cinzas (tudo favela), seria injustiça com os favelados. As classes média e alta também são dadas a uma invasão “em busca do verrrrde”, a passos bem mais largos que os pobres, via incorporadoras poderosas. É a coisinha do “refúgio”. E onde todo mundo se refugia, já viu! Aliás, essa esquizofrenia individualista do cidadão paulistano merece algumas linhas:

Faz umas semanas houve um massacre do jornalista Raul Juste Lores, que questionava o protesto de moradores de Pinheiros e Vila Madalena “contra a verticalização” do bairro. Os comentários não são exatamente dignos de pessoas felizes respirando ar puro numa pretensa área a ser preservada (aliás, não gostaria de cruzar com elas em lugar algum).

Pelos ferozes, malcriados e nonsense argumentos dos leitores, fiquei pensando em o que exatamente os reclamantes entendem por verticalização e falta de verde. Naturalmente referem-se ao que acontece depois de eles mesmos terem se aboletado por lá, em seus prédios sujos sem garagem e em seus sobradinhos aumentados ad infinitum e feios de doer, onde o jardim deu lugar, pelo menos, a uma garagem monstrenga.

Sinceramente, Pinheiros e Vila Madalena!… Bem melhor prédios “neoclássicos” (onde vocês morariam ao menor convite), com área construída mínima, jardim, garagem e manutenção, do que aquelas gaiolinhas plenas de cimento e piso, umas grudadas às outras, cheias de grades improvisadas, num visual geral mais feio que vender a mãe.

Sou partidária de quanto mais área verde, melhor. Acho ótimo que a gestão Kassab tenha aproveitado qualquer brecha de terreno pra fazer parques. Idem o governo do estado.

Mas não acho, sinceramente, que o povo mereça, muito menos que tenha moral para reclamar do que quer que seja. Vai dar uma olhada na tumba onde a criatura mora e me diz se ela está preocupada com o verrrrrlrlrlrlrrrrrde da cidade.

De qualquer modo, ambos os governos – prefeitura e estado – vêm lutando na contramão para reverter a tal “lógica urbana” que vigorou por décadas em SP, e vem conseguindo. Resultado: São Paulo, hoje, tem muito mais parques do que muito município metido a natureza-com-arara-e-mico-leão-dourado. Os problemas existem, mas são pontuais. É melhor assim do que deitar em berço eslêndido, não é mesmo?

* A praça do Por do Sol realmente oferece paisagens lindas, mas certos frequentadores dão medo.

Calçada, esse mistério

Pra quem não sabe, deu a louca na Prefeitura e agora todo mundo tem de ajeitar suas calçadas segundo as normas da civilidade e da boa convivência. Com uma salva de palmas para proprietários conscienciosos, seguem abaixo algumas fotos que venho tirando desde o ano passado, para mostrar um tanto dos primores paulistanos e sua ampla falta de conhecimento do que seja uma alma andando a pé.

Esse aí é um bairro muito bom. Muito ajardinado, arborizado, tranquilo e tal, mas a tal dona de casa se empolgou um pouco no Ceasa: isso não é tipo de planta que se ponha no passeio público, né, minha senhora?

Ah, este é um dos costumes mais ancentrais da capital. Que bonito, não? Vovó e vovô compraram uma casinha com jardim, a muito cuuuuuusto, lá pelos idos de 1940, criando o filho com trabalho e seriedade. Apesar de todos os esforços, o cara virou um parasita: nunca saiu de casa, trouxe a tranqueira da mulher pra dentro e foi enchendo aqueles pequenos cômodos de filhos, que por sua vez cresceram e ficaram por lá mesmo. Acréscimo de patrimônio zero.  Mudar, nem pensar. Daí vem os puxadinhos, por dentro e por fora. A lavanderia virou uma residânce e o jardinzinho tão bucólico transformou-se num ferro velho. Se na sala dormem seis, não teve outro jeito senão fazer um puxadex pra calçada. É proibido, mas grassa

Mas essa é minha preferida! Não tão despudorada quanto a da foto anterior, essa aí é uma grade-bunda. Só o pedacinho pra caber o rabo do automóvel… E pode procurar aí pra ver se estou mentindo: a cor da grade é a mais feia que tiver na loja. Pra não chamar a atençã das autoridades…

Agora é que vem a jaca. Criatura, além de não ter apreço por canteirinhos por causa dos três carros na garagem, ainda faz da calçada uma rampa automobilística. Se pra mim já é difícil andar aí, imagina um cadeirante? Uma pessoinha de idade?

Esse aí então se superou: fez o puxadinho AND a rampinha, sem gastar muito cimento, porque não está fácil pra ninguém. E matinho crescendo por entre as pedras é tudo de bom, né? Já vi equipes da subprefeitura fazendo o trabalho, mas isso é obrigação do proprietário.

Para arrematar o corolário  de soluções arquitetônicas, apresento a vocês o piso de ardósia. Muito baratinho, parece um biscoito de mil folhas e configura-se na solução ideal para brasileiros de norte a sul aplicarem em suas calçadas meia-boca. E arrebentar ao primeiro automóvel.

Agora junte isso tudo, multiplique por milhões e veja o regulamento da Prefeitura, por exemplo, para rampas:

Estou rindo aqui. Neguinho não consegue atinar numa solução razoável e cidadã para a engenharia de sua própria calçada, imagine fazer isso aí?

Mais um atropelamento que interessa

Uma pessoa foi atropelada ontem em São Paulo.

Na avenida Paulista, o que torna o caso muito mais grave.

Foi um professor da USP, o que eleva a coisa a níveis inaceitáveis.

Certo que acompanharemos o caso em detalhes, até a inevitável manifestação ciclística/pedestrianista.

Ao mesmo tempo, estamos sem saber o que é feito do menino Peterson, atropelado em sua bicicleta na Avenida Zelina, em Vila Prudente, no dia 6 de março. Ele teve afundamento de crânio e foi atendido no Hospital Heliópolis em estado grave.

Só ficamos sabendo do que aconteceu a Peterson porque seu atropelamento ocorreu na esteira de outro, o da ciclista Juliana Dias, colhida por um ônibus na avenida Paulista, e que rendeu grande repercussão porque tratava-se de uma cicloativista, tratava-se de uma pessoa de classe média e tratava-se da avenida Paulista.

Peterson, atropelado na periferia, foi usado pela imprensa para engordar alarmismo e jogado fora logo em seguida.

Explico o porquê.

Juliana foi atropelada na sexta-feira, dia 2. O caso foi tomando forma durante todo o final de semana, atingindo o auge de discussões nos dias da semana seguinte. Peterson foi atropelado no dia 6, terça-feira. Vários jornais noticiaram, terminando com o “deu entrada em estado grave”.

A tragédia de Juliana foi coberta pela imprensa até seu enterro em São José dos Campos, além de manifestações dos pares na própria avenida Paulista e das inúmeras discussões acaloradas sobre o uso da bicicleta.

Peterson, ao contrário: replicando as mesmas informações, inúmeros sites noticiosos divulgaram, no próprio dia 6, que o menino “deu entrada em estado gravíssimo no hospital”.

E assim permanece até hoje. Fora as replicações de inércia internética, nada, absolutamente nada mais a respeito do destino do menino.

Donde se conclui que, para que seu atropelamento numa região mais distante da cidade ganhe a comoção rápida e prática dos jornalistas, é preciso que outra alma seja atropelada no mesmo dia na avenida Paulista.

PS.: A pessoa morreu. Ela atravessava fora da faixa. Ela caminhava ouvindo Bach. Ninguém ligou: a vítima não era do circuitinho.