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RIP Wilson Fittipaldi

E a mensagem de Emerson Fittipaldi no Facebook:

Minha Querida Família, meus queridos amigo, e queridos fãs,
Nosso patriarca o Barão Wilson tem lutado muito é um guerreiro, um vencedor! Todos nos viemos dele e da minha querida mãe Juze, outra guerreira que já lutou muito na vida e nos últimos dias. No dia 24 de outubro de 2006 nos deixou para descansar na vida eterna, encontrando Deus e Jesus e encontrando la todos os nossos parentes. Ontem falei no ouvido do meu pai que linda familia que ele formou e que todos nos estavamos torcendo e orando para que ele melhorasse e que Deus sempre amou a nossa familia e ele tambem. Foi nesse momento que ele pela primeira vez e única desde que esta internado abriu os olhos, balançou a perna, movimentou a boca, era um sinal de amor para essa família grande e querida. Eu a Rossana e a Tania ficamos muito emocionados com a mensagem de amor e agradecimento, foi lindo!! Ontem ele ja não respondeu mais, esta nas maos de Deus. Ontem pela manhã ja fizemos uma oração com ele e depois de escrever essa carta vamos voltar ao hospital. Por favor orem pelo nosso patriarca o Barão.
Ele ama muito voces meus filhos e filhas, minha mulher querida, meus netos e netas, noras e genros, meu irmão, meus sobrinhos e toda essa família linda que somos, voces terão muito orgulho do homem que ele sempe foi, um marido, um pai , um avô, um bisavô exemplar que ama muito vocês. Deus chamou meu querido pai hoje à uma da manhã. O Brasil e o automobilismo perdeu essa pessoa que tanto amou esse esporte fantástico e que graças a ele eu entrei nesse esporte que eu amo muito para o resto da minha vida, devo tudo ao meu Pai e minha Mãe por terem me levado à esse esporte! Amo muito meu pai, nosso patriarca Emerson Deus abençoe. 04/08/1920 11/03/2013

Nas madrugadas perdidas…

Ontem, perdidaça com o zoião aberto lá pelas altas horas, topei com um documentário sobre o Massacre de Munique , quando um grupo de cinco terroristas palestinos – o Setembro Negro – fez reféns onze membros da equipe israelense durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.

Bem, eu sabia da existência do episódio, mas nunca fui atrás de detalhes, sabe como é? Não li livros, não vi o filme do Spielberg, nada!

Não sei o que mais me afligiu: a extrema violência do fato em si – a primeira manifestação nhé-nhé-nhé palestina -, a espetacularização da desgraça ou o completo despreparo da polícia alemã na época.

É claro que nessas minhas impressões há certo componente infantil. Se a gente se aprumar no raciocínio, concluirá que o ano de 1972 está há milênios de distância do que vemos e apreendemos (a humanidade como um todo, digo) em termos não só de aperfeiçoamento policial, como de comportamento, normas de segurança para civis, e tal.

Mesmo assim, olhando as imagens, custa-se a crer que já fomos tão toscos. Pra falar a verdade, a única coisa moderna naquilo tudo foram as instalações da Vila Olímpica, o estádio, tudo muito bacana – esteticamente, não faria má figura hoje.

O episódio ficou para a polícia alemã como o incêndio do Joelma ficou para nossa legislação predial e para o Corpo de Bombeiros. Após o fracasso da “operação policial”, o governo alemão ficou tão micado que criou o GSG 9, uma unidade contraterrorista especializadíssima (e que todo mundo copiou).

Well, para quem tem interesse no assunto e certa má vontade com a programação televisiva, acho que vale a pena abrir uma exceção. Porque – essa é a parte legal -vai reprisar. A parte chata é que será na madrugada de amanhã, terça pra quarta, às 4:30 (GNT). Se você pula da cama cedo…

Em São Paulo, primeiro leilão “vintage”

Ontem tive um experiência que é mais ou menos frequente no trabalho. Você vai lendo, revisando, e topa com uma citação. Autor que digita citação tem grande chance de fazê-lo errado, e é maior ainda a chance de você não ter como comparar com o original. Às vezes você encontra na internet, recorrendo até a digitalizações pirata – fazer o quê? E frequentemente recorre a uns malabarismos daqueles “trechos” muquiranas de livros do Google Books. Mas é reconfortante quando você encontra o original em imagem mesmo, e faz seu trabalho direitinho.

Agora, o ápice do prazer imensurável é quando você tem a oportunidade de comparar a citação com um original seu mesmo. É aquele hábito ultrapassado: você topa com a citação, lembra que tem o livro e vai, com suas perninhas e seus braços, pegar o bichinho na estante e achar a página. Às vezes é pá-buf, porque o autor usou a mesma edição que você tem. E às vezes é um desafio, porque a edição que ele usou é nova. Daí você recorre ao princípio de “douração da pílula editorial”: uma edição nova terá sempre mais páginas que um livro velhinho. O livro velhinho queria apenas passar seu recado. A edição nova tem de ter ilustrações, uma mancha mais arejada, etc. tudo para gastar mais papel e vender aquilo muito mais caro. Quando não em relação ao preço original, perdido no passado, muito mais caro do que aquele 1 real que você gastou para ter seu exemplarzinho amarelado numa banca de refugo de sebo.

Então é isso. Foi esse aí da foto. E até recomendo, pra quem conhece e pra quem não conhece a rua do Ouvidor, no Rio.  Fofocas de modistas, história e toda uma época de esplendor cultural, de moda, de ofícios sofisticados. Um Rio cujos resquícios eu ainda peguei mas que não existe mais. Agora é só funk, tráfico e um sotaque degenerado que dói na medula.

Mas tudo isso é pra falar do primeiro leilão vintage do país, a ocorrer em São Paulo em agosto. Iniciaiva da Childhood Brasil,  em que parte da renda irá para combater o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes (veja matéria no Valor Econômico).

A matéria diz que o gosto pelo vintage está apenas começando no país. Bem, isso parece um paradoxo: um país que explora seus rebentos e se interessa por coisas vintage? Não sei se combina. Mas o país é vasto, e acho que as duas vertentes acabam se acomodando muito bem no território.

Pra mim é no popular: gente que não se interessa pelo que passou não vai dar proteção ao que virá. O negócio é que que você pode adquirir AGORA, com um eficiente processo de se desfazer do que tinha ontem. Isso tudo é mentalidade, e você só começa com o hábito doentio de guardar coisas da família depois que adquire algum conhecimento sobre a) a família; b) sobre as coisas da família.

É por isso que muitos não sabem o nome dos avós, é por isso que muitos topam se desfazer do nome dos filhos.

Well, muito antes de importarem essa palavra afrescalhada – vintage – mamãe aqui guarda as tranqueiras de família. Desde o belle-epoquíssimo binóculo de vovô até o sem-graça medidor de picotes de selos dado a mim pelo tio que já se foi.

Por isso, aqui em casa, o estilo da decoração é coloquial tardio: coloca aqui, coloca ali, nada combinando com nada, mas com o mental no conforto.

Até dentinho de José – acabamos de extrair o segundo – ficará guardado com a avó, porque a mãe é uma quase nômade e de descabela com tanta coisa na hora de suas frequentes mudanças.

Não tem problema, deixa que a gente guarda. Inxcrusível os livros que tem e os que ainda não tem.

Aziz Ab’Saber (1924-2012)

De O Estado de S. Paulo:

Em um gesto de despedida, mesmo involuntariamente, ele entregou na tarde de ontem à secretaria da SBPC sua obra consolidada, de 1946 a 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da Universidade e ao maior número de pessoas.

[…]

” [Hoje] Ele acordou, fez café da manhã para toda a família, sentou-se em uma cadeira, falou “Ai” e morreu.”

Tão igual a nós…, mas que diferença em vida…

Na Wikipedia, um resumo de sua obra.

Esperanças de Natal…

Tem um monte de livros que tenho de adquirir esse final de ano. Uns são no sebo, outros novinhos (as biografias de sempre), e outros pretendo afanar provisoriamente, como As esganadas, que o pessoal odeia porque é do Jô Soares, que “não é escritor” e blá-blá. Imagina! Suas referências são bem interessantes, então grande abraço pros “escritores”.

O da foto, sobre Guilherme Gaensly, pertence à prateleira “esganação” e TEM DE ser comprado pra completar a trilogia da Cosac Naify (os dois primeiros foram B. J. Duarte, caçador de imagens, e Aurélio Becherini).

Eu vi a edição outro dia, na própria exposição do fotógrafo na recém-inaugurada casa da Imagem (antiga Casa n. 1, ao lado do Solar da Marquesa), e me causou um comichão.

Suas fotos são bem panorâmicas, e reafirmam uma cidade que foi bem bonitinha no início do século (e que agora volta a ser, malgrado a inflação de gente porca e boquirrota circulando por aqui).

E outra coisa que quero fazer sem falta até o fim do ano é ver meu querido, amado salve-salve Eliseu Visconti, em exposição na Pinacoteca. São 250 obras: pinturas, desenhos, cerâmica e documentos produzidos entre 1890 e 1940. Fui conferir e é isso mesmo: é a primeira exposição solo de Visconti em São Paulo.

Visconti veio de Salerno para o Brasil ainda criança e estudou no Liceu de Artes Ofícios do Rio, na Academia Imperial de Belas Artes (hoje Museu de Belas Artes, Rio, onde tomei contato com suas obras) e na École Nationale et Spéciale des Beaux-Arts de Paris.

(Quem sabe agora eu consigo adquirir uma reprodução dele? Sim, porque nunca achei. O comum de ver é coisinha de Kandinski, Picasso, Van Gogh, Miró, qq. um que não seja brasileiro porque aqui ninguém se dá ao trabalho de investir nessas coisas.)

Até 26 de fevereiro, de terça a domingo, das 10 às 17h30. Ingresso: 6 reais (meia entrada para estudantes, crianças até 10 anos e pessoas acima dos 60 anos). Aos sábados, grátis.

E aí, alguém para a caravana?

Revirando os guardados

Olha só que bonitinho: o Museu Paulista da USP (Museu do Ipiranga) está montando a exposição “O Morar Paulistano”, e para isso pede a ajuda da população.

Segundo sua página no FB, “a exposição vai retratar as moradias em São Paulo do ponto de vista histórico, social e cultural ao longo do século XIX e as mudanças até os nossos dias”.

Os ovinhos de cerzir meias, como se vê, eles já conseguiram. Faltam “cestinha tcheca para costura, manuais de etiqueta (até 1960), manuais de costura e economia doméstica.”

Bem, até fico feliz que tenham conseguido os ovinhos, porque infelizmently não poderia ceder o ovo de madeira de minha avó, que acabei de herdar (e uso! Antes me virava com um ovo de plástico vindo num MacLanche Feliz da vida). Além disso, e malgrado ser exatamente igual ao segundo (esq. p/ dir.) da foto) nessa nossa indústria de massa, o ovinho de vovó foi comprado no Rio, então não estaria certo…

Manuais de etiqueta e costura não tenho, cestinha tcheca não tenho, e, pelo que lembro, o que tenho ou é do Rio, ou não pertence ao mundo doméstico. Ou então uso, o que impossibilita ceder.

Vou ver o que posso fazer aqui…

Independentemente, quero, com o tempo, doar algumas coisas, como a coleção de santinhos de uma tia-avó, um primor da indústria gráfica francesa do início do século XX. Só não decidi/sei pra qual instituição. Não há, na minha opinião, melhor lugar para essas coisas que o museu.

Mas, voltando à exposição,  vai que você…., né?

Quem tiver e se dispuser a doar os objetos pode entrar em contato, além do Facebook, pelo e-mail imprensamuseupaulista@gmail.com ou pelo tel.: 2065-8018.

Nós e o mundo conhecido

Estava pra fazer este post desde a pesquisa sobre a visita da Rainha Elizabeth ao Congo, quando mergulhei em muito material de arquivo, e – as maravilhas do pdf – você acaba batendo os olhos em outras coisas.

Refiro-me ao móveis. Sim, anúncios dominicais de mobília do Mappin e lojas do gênero.

A estética real estava lá estampada, nua e crua, ao alcance de uma amarga relembrança, bem diferente de como foi construída posteriormente em livros fofonildos, estudos acadêmicos, pesquisas e revisitações de “o que foram anos anos 60”.

Isso me levou a pensar em como funciona a seleção (natural?) das nossas memórias, no que fica registrado como fidedigno de uma época ou se esquece, funcional ou historicamente.

Acima, você vê imagens do que ficou incrustado em nossas mentes sobre os “móveis dos anos 60”. Tudo muito colorido, acrilicizado, espacializado, psicodélico.

Daí pros distraídos ou os mais jovens acharem que vovó decorou a casa assim é um pulo, não é mesmo?

Então – o Flanela sempre é pop – veja a realidade do país em 1969, num tempo em que mal se dava conta do salário, quanto mais de seguir as tendências de design do mundo:

E posso garantir, porque a memória veio MESMO: eram móveis amplamente usados, até pelas camadas menos perrengueadas da população. Primavam pelo apuro da coincidência das linhas e nós da madeira nos recortes das folhas de jacarandá. Nem mesmo se completava a primeira prestação, transformavam-se no altar da dona de casa, que lhes passava poliflor até virarem um espelho de si própria.

Geralmente, o revestimento dos estofados era de courvin, o avô plástico do corino. E em tonalidades imitando couro. Do “uísque” ao marrom-escuro, passando pelo caramelo chapado. Extremamente desconfortáveis (e feios)!

Então taí. À parte a população que tinha  dinheiro, acesso à informação e ousadia suficiente, eis o que nos era reservado, nosso ideal estético, a ilusão de bom gosto, a pindaíba de lei que nos fez chegar nos anos 60 até aqui.

Marcos Plonka (1939-2011)

É muito triste quando uma pessoa morre e a memória só vai até onde a demência jornalística alcança. Marcos Plonka não era apenas o Samuel Blaunstein da Escolinha. Também foi ator, cantor e tudo o que um artista faz para sobreviver.

Plonka era paulistano, do Tatuapé, filho de pais que vieram da Polônia antes da Segunda Guerra.  Considerava-se irmão do ator Elias Gleiser, já que ambas as famílias vieram juntas para o Brasil. Está aqui, ao alcance de qualquer um.

Nas tentativas de se firmar no mundo artístico, gravou pelo menos um LP, que está aqui, também ao alcance de qualquer um.

E aqui, na novela Antonio Maria, se casando com a personagem de Jacyra Silva (num texto obviamente ultrapassado – “a alma branca e pura”).

Isso é um pouco do que se pode achar rapidamente na internet. Fora os arquivos físicos, coisa que profissional nenhum, pelo jeito, tem mais disposição cardiovascular de procurar.

A única esperança – a abordagem de sempre do blog – é que a excelente Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado, faça logo uma edição dedicada a Marcos Plonka. Menções a ele, nos vários volumes, há aos montes.