Hoje na Folha matéria sobre convite do Prefeito Gilberto Kassab a seu sucessor Fernando Haddad para irem juntos a Paris defenderem a candidatura de São Paulo a sediar a World Expo 2020. Dilma deverá acompanhá-los.
Reinaldo Azevedo – articulista de que sempre gosto, e de longe a opinião mais lúcida que conheço – parece não ter gostado da ideia, e, a julgar pela ressaca geral que perdura por conta das eleições, tudo leva a crer que esse será o tema de reclamações do dia.
Bem, viver no mundo da realidade, e não dos nossos desejos, me parece um conselho a ser acatado de vez em quando, para o nosso bem. Não vou me transformar numa velhinha lacerdista aqui, bradando sobre o que não pode existir. Lidamos com o que temos e vamos em frente, assim é a vida pra todo mundo.
Começa que “ir a Paris” pode ser sinônimo de favelização e vexame lá pras bandas de Sérgio Cabral. Hoje, qualquer funcionária doméstica vai a Paris três vezes por ano. Além disso, você nunca viu Kassab (nem Haddad, sejamos justos) dançando em mangas de camisa, nem no L’Espadon nem no Habib’s nem em lugar nenhum.
Terceiro que vão cuidar de um tema sério, que vem sendo trabalhado para acontecer em 2020, quando teoricamente nenhum dos dois estará na Prefeitura para auferir os louros.
Sinceramente, qual é o problema?
Enche um pouco o mimimi geral sobre a tal “virada” de Kassab. “Apoiou Serra e agora se grudou no PT.” Primeiro, isso já estava previsto e devidamente avisado. Kassab só perdurou em sua posição anterior e adiou seus planos porque José Serra resolveu se candidatar à Prefeitura. Foi fidelidade. Agora ele faz o que bem entender.
Os votos que demos a ele? Ora, Kassab não ficou devendo rigorosamente nada a nós. Fez boa gestão, entregará os cofres cheios, as finanças em ordem. O que mais se quer? Uma espécie de fidelidade? A quem? Petistas (e peessedebistas) enfiaram na cabeça do povo que o demônio era melhor que ele. Tá boa, nega?
Em algum momento de sua segunda gestão tornou-se vítima de um discurso bate-pau que não foi gestado entre o povo, e sim na oposição. De um momento para o outro, absolutamente tudo o que Kassab fazia passou a ser errado. O quê, exatamente? Não sei. Nem eu sei, nem você. Foi só discurso que colou.
E, acho eu, foi exatamente isso que o levou a não inaugurar praticamente nada das obras prontas, deixando a tarefa para Haddad. Para que iria se mover pra lá e pra cá nesse calor, inaugurando um monte de coisas com aquele corpanzil, se isso não iria lhe render absolutamente nada? Fez foi bem.
Continuo achando que a gestão Haddad será horrenda. Haddad é um poste que fez um péssimo ministério, e a transição Kassab pode amenizar essa desgraça. Outra: não existe isso do político moço e animado que poderá fazer em liberdade tudo o que achar melhor para a cidade. Haddad pertence ao PT, com tudo o que isso possa significar. Também acho graça de a maioria do povo paulistano ter comprado a perfumaria de que, “agora sim, o governo federal vai injetar dinheiro na cidade”… pois se Lula passou décadas almejando o maior PIB do país? Oi?
Kassab não tem satisfação moral alguma a dar a ninguém. E we, the people, não temos nada a lhe cobrar. Nos comportamos muito mal com ele.
Temos mais é que ajoelhar e agradecer, porque Kassab poderia ser um Cabral – um homem da fuzarca que se vale do tchúqui-tchúqui federal.
Não é.