Outro dia, olhando uma cidade pelo alto na tevê, dei por falta de identidades arquitetônicas. Você olhava, olhava e não via nada bonito, ou que pelo menos se destacasse ou se reconhecesse. Enfim, nada de especial.
Um tanto burocrático e sem graça. Uma passarela é apenas uma passarela, um prédio é um prédio, uma estrada é uma estrada, uma estação é apenas uma estação.
Se a intenção é o utilitarismo puro e simples, contraditoriamente isso acaba trazendo junto uma “desintenção” afirmativíssima: o desleixo, o desinteresse pela coisa pública.
Se não há grana para pagar um arquiteto, espera-se pelo menos que se faça uma coisinha com um mínimo de gosto, de harmonia com o entorno.
Naqule caso que vi pela tevê, nem isso havia.
Falei tudo isso por causa da Estação Pinheiros (aquela da cratera), a ser inaugurada em 16 de maio por Geraldo Alckmin. Na fotinho aí em cima, a visão aérea. Não faz meu gosto, mas está caprichadinha. Identifica.
Ela fica entre as Estações Faria Lima e Butantã do Metrô. As três, junto com a Estação Paulista, formam os míseros 5,2 quilômetros da Linha Amarela.
Míseros? Numas. Sabe quantos sero manos esta única estação trará a mais, somente para essa linha? 217 mil usuários. Atualmente, 29 mil almas já circulam só naquele trecho.
Isso porque os horários – que se ampliam gradativamente – ainda são restritos. Imagina quando se abrir de vez a porteira…
Há alguns dias uma pesquisa internacional apontou ser o Metrô de São Paulo o mais lotado do mundo. E deve ser mesmo.
Nada contra a pesquisa, mas qualquer criança sabe como essas informações são usadas pela imprensa nativa. Talvez tenha faltado a informação de que a cidade é uma das mais lotadas do mundo, e a relação direta que isso tem com o resto do Brasil.
O fato é que a estrutura de linhas em São Paulo está numa curva ascendente em relação a sua lotação: ainda teremos décadas de sardinha enlatada, simplesmente porque o Metrô paulistano é um sucesso: ninguém se furta a usá-lo, nem que para isso tenha de andar uns quilômetros a pé até chegar a qualquer estação.
Por isso é que cada ponto inaugurado é um flashmob diário que só se adensa.
E é por isso que, quando a Estação Pinheiros entrar em funcionamento, todos os eflúvios fantasmagóricos do acidente vão se diluir rapidinho nas mentes: o povo quer é se deslocar. E rápido.