Como gerir uma bolada

Nada mais patético que uma pessoa sem verniz qualquer diante de dinheiro a dar com o pau.

Além de tudo o que sabemos, desde plásticas duvidosas até shows idem em cruzeiros idem, Rosemary também achou de bom tom ela mesma comandar a decoração do gabinete de Lula na base presidencial em São Paulo – um andar no prédio do Banco do Brasil, aquele lá na esquina da Paulista com a Augusta.

Ainda estou para entender o racional disso aí, esses quilômetros de sofás (cama?) pretos com almofadas temáticas azuis, que certamente combinam com o painel do tio e com o carpete (touché!).

Na foto não dá pra ver direito (até gostaria de ver mais fotos do ambiente), mas aqueles quadrinhos na parede devem ser imagens do chefinho também.

É certo que o brasileiro médio não tem muita intimidade com quadros na parede, o que me faz imaginar que Rose poderia ter contratado, sei lá,  a cunhada, para dar uma assessoria na coisa e, assim, ter ajeitado pra sempre a vida da parenta mediante módica participação.

Mas não, acho que foi ela mesmo a pendurá-los lááááá em cima, quase no teto, o que me dá certa aflição estética.

Conheci vários gabinetes na vida, uns “mais”, outros “menos”. O que ficou em minha memória foram os aposentos do Bispo Macedo na Rádio Copacabana, no centro do Rio, onde eu trabalhei.

O mesmo caso: “dinheiro sobrando, como vamos gastá-lo?” Você via que era o melhor revestimento, o melhor sofá, o melhor abajur, os melhores móveis, os melhores lustres, o melhor-melhor, numa mistura infeliz para um ser humano de qualidade inferior. Tudo feito por funcionariazinhas, sem qualquer verba participativa.

No caso presente, percebe-se que o arsenal decoratório de Rose nunca passou dos padrões de uma sede de sindicato. Isso aí é um escritório comum melhoradinho. Só.

Imagino até que Rose tenha encomendado tudo do bom e do melhor. Mas perdeu a oportunidade de transformar essa saleta num trono episcopal, e assim multiplicar sua verba intermediatória.

Bobinha…

Aloprados com sede de câmera

Há malas que vão pra Belém… O episódio da semana em que a PM pediu para o apresentador José Luís Datena conversar com sequestrador que fez refém sua própria família a troco não sei de quê em Diadema é um desses marcos que mudam certos hábitos e mentalidades.

Aposto que a esta altura o comando da corporação já proibiu esse tipo de veleidade.

Ninguém pode botar o destino desse tipo de coisa nas mãos de um mero apresentador de TV, por mais habilidoso que seja. A PM paulista é uma entidade que existe desde os tempos de Dom João. Não de “dom João Charuto”, como diz a expressão, mas de dom João VI mesmo. Legalmente, existe desde 1831, por iniciativa de Rafael Tobias de Aguiar, e é a maior do Brasil. Desde então, vem se fortalecendo e se aperfeiçoando, contando com treinamentos e um sem-número de cursos para seus integrantes.

Entre eles está o Curso de Negociação de Crises com Reféns, que segue complexas normas internacionais. Inxcrusível, o Gate – Grupo de Ações Táticas Especiais  – é tão bom nisso que é chamado para lecionar para corporações de outros estados.

O curso dura quase um mês, ou seja, não depende de carisma ou simpatia pessoal. Depende de técnica, técnica, técnica.

Vamos ver uma opinião abalizada, a do coronel da reserva da PM de São Paulo e ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho, saída hoje no UOL:

“Há uma série de procedimentos a serem seguidos numa negociação com um sequestrador”, diz Silva Filho, que também é coronel da reserva da PM. Entre eles, explica, está o corte de energia, para evitar que o criminoso assista na TV à situação do sequestro. “Isso pode deixar o sequestrador mais nervoso e piorar as condições para a negociação”. […]

Não é uma mera questão de persuadir o sujeito a se entregar. O negociador treinado, ao mesmo tempo, avalia o grau de risco para reféns e a possibilidade de invasão tática [nome técnico para invasão da polícia do local onde está o sequestrador e os reféns]”.

Ainda segundo José Vicente, “é colocar um amador numa tarefa profissional de grande risco, uma microcirurgia”. […] “Não é indicado trazer ao diálogo pessoas não preparadas para a tarefa, como familiares e personalidades”.

Não acho que seja o Datena o errado. Contraditoriamente, apesar do risco que ele mesmo apontou,  e do arrependimento após o final bem-sucedido, isso lhe rendeu altos pontos no já alentado currículo.

Errado esteve não a polícia, mas o oficial que teve a brilhante ideia. Não pode existir, nem na PM nem em qualquer outra entidade pública, essa misturinha com purpurina televisiva. É bom que marginais, a TV, a PM e o público tenham isso em mente, por mais que solape alguns minutinhos de entretenimento.