“Sugestã”

A turma do veja-bem lamentando a escolha de Tiririca como titular da Comissão de Educação e Cultura da Câmara, em Brasília.

Segundo matéria do Estadão, a escolha causou “surpresa e desconsolo entre educadores”.

É mesmo?

Se quer saber, Tiririca tem todo o direito de pleitear e ser escolhido para o que quer que seja. Primeiro que ele foi eleito pra isso. Segundo porque Brasília é a festa do caqui. Terceiro porque a educação no Brasil, com todos esses educadores e tal, é uma bela bosta.

A começar pelo alvo dos educadores. Quer dizer que, até então, estava tudo ok com deputados e senadores vindos de qualquer buraco nomeados para qualquer coisa, certo?

Educadores no fundo, no fundo estão falando e andando pra o que acontece com a educação. Eles ficaram ressentidos com a escolha de Tiririca não porque o cara seja talvez inadequado para essa Comissão, mas porque passou na frente de alguém de sua caçarola.

Então, educadores, por gentileza: queiram lascar-se.

 

Alguém viu por aí?

 

Bem, após o pé na cova básico da imprensa – “entre a vida e a morte” -, o ex-árbitro Oscar Roberto Godói saiu hoje, falando e andando, do Hospital das Clínicas depois de uma semanica internado por conta de dois tiros que levou numa tentativa de assalto.

Lá mesmo no HC, após sair da UTI, ditou à polícia esse retrato falado do camarada que o assaltou, e com quem chegou a entrar em luta corporal.

Toda vez que vejo um retrato falado, fico pensando na eficácia do método. Note bem, não estou desrespeitando o trabalho dos retratistas ou da polícia. Pelo contrário. Eles são craquíssimos na coisa. Só fico imaginando o quanto a pessoa que decreve o celerado está sendo exata, e em como a polícia acha uma cara ordinária numa cidade como SP.

Como era o nariz? Como era a boca? E os olhos?

Como é que você descreve um cerumano?

Eu, por exemplo, seria péssima nisso, e certamente carregaria uma culpa imensa na vida por provocar abordagens equivocadas, prisões injustas e constrangimentos inúteis.

Pois se há períodos em que nem da minha própria cara eu consigo lembrar? Como agora, em que, pelo que vocês podem imaginar, ando num período difícil, de ausências. Ausências não só aqui do blog, mas da minha vida mesmo. Tá fácil não, mas tem data pra acabar. Se Deus quiser.

Voltando os rostos, sou péssima fisionomista. Me pergunta o formato dos dentes dos meus porteiros, por exemplo. Não saberia dizer. De pessoas chegadas, obviamente, conheço detalhes, mas jamais saberia descrever completamente um sujeito qualquer, à noite, mesmo depois de uns sopapos.

“Ah, o olho esquerdo é mais caidinho…”

Nem morta!

 

 

 

Mailing list

Ontem rolou um concerto na Sala São Paulo em comemoração aos 90 anos do jornal Folha de S.Paulo.

Ao contrário da Rainha Elizabeth, que dispensou a presença de chefes de estado na cerimônia de casamento de seu neto William com Kate Middleton, a Folha resolveu convidar TODO mundo, qual uma mãe de noiva de cidade do interior em êxtase ecumênico.

Isso porque Lula, Tiririca e Bruna Surfistinha não puderam comparecer.

Tá. Eu até entendo aquela coisa de reunir diferentes vertentes políticas. Mas não precisava exagerar.

 

Grande coisa!

 

Kadafi reapareceu pá-buf na tevê estatal líbia, nessa imagem fechada, suspeitíssima, dentro de um carro e segurando um guarda-chuva.

Como fez questão de desmentir boatos de que teria fugido para a Venezuela, isso só pode querer dizer uma coisa: que o ministro Jobim já está devidamente paramentado com seu uniforme camuflado, na Base Aérea de Brasília, esperando o ex-líder após resgate cinematográfico em Trípoli pelas forças bolivarianas. 

 

A verdade nua e crua*

Aproveitando o incêndio, vamos fazer uma restrospectiva cognitivo-simbólica de nosso mais novo hóspede bolivariano.

Antes, é preciso dizer que a coisa mais importante numa memória, numa retrospectiva, é o respeito ao contexto. Então, não me joguem pedras, plis!

O Muamar Kadafi de minha xuventude era esse (plaft)!

Naquele tempo, ninguém tava ligando muito pras filigranas entre ditadura de direita, ditadura de esquerda, nada disso, porque esses assuntos simplesmente não existiam no ensino secundário. Ditador pra gente era Idi Amin Dadá e pronto. Além de Kadafi fazer o tipo feioso sexy – a gente (digo: a mulherada) achava o máximo seu pulso firme, sua cara má e  esburacada -, ainda tinha toda a doutrinação escolar. Sem internet, por óbvio. Nossa rede social era correr de mão em mão isso aí:

Além do mais, vamos concordar que quando jovem Kadafi era – como se dizia no meu tempo – um gatinho:

Daí o tempo passou e a gente descobriu que tinha mais o que fazer da vida. Nunca mais se ouviu falar de Kadafi, porque aprendemos a fazer arroz e feijão, cuidávamos da carreira, dos filhos, do marido, enfim. Até que veio a ternéti e a gente deparou com isso aí:

 

Que coisa, não? Os penduricalhos se multiplicaram sobremaneira, tirando aquele ar sóbrio-missionário e botando por terra todo aquele conceito idiota que tínhamos a respeito dos grandes frissons de nossos professores de sociologia.

Hoje, entre um compromisso e outro, damos rápidas olhadas nas notícias por aí e deparamos com um Kadafi de guarda-roupa desespartanizado. Eu arriscaria dizer que Kadafi encaubyzou-se.

A imprensa cordial diz que isso aí é um visu étnico.

É. De fato, às vezes pode parecer mesmo.

Mas eu acho que não é só isso, não.

Vamos combinar que, hoje, Kadafi é uma arara de brocados, tafetás e cetim. Não sei o que o fez botar tudo pra fora do armário desse jeito. Perdi essa parte da História com H maiúsculo. Como disse, estava ocupada com outras coisas.

Algum menino aí para me explicar?

* A verdade nua e crua é, no presente momã, a expressão preferida de Periquito Augusto. Tudo pra ele é a verdade nua e crua. Antes de qualquer afirmação, lá vem o “a verdade nua e crua é que…”. Então, fica aí o carinho da titia.

Faxino-não faxino?

Você ainda tem Yorkut?

O meu tá lá pela falta de animus faxinandi de sempre.

Tá bom, confesso que às vezes é o único contato com algum familiar/amigo/ex-namorado distante realmente querido mas com quem a gente não tem o que conversar.

Nem lembro por que me paginei naquela coisa. Talvez a insistência de amigos, a empolgação que todo mundo tem com uma besteirinha nova na néti + meu neofitismo de então. Mas nunca usei aquela porcaria, a não ser pra me divertir com alguma antiga desafeta (“Como está gorda! Benfeito!”).

E tá lá a página, mofada e com casulo de traça nas paredes.

Ontem, porém, foi a primeira vez que me deu uma agonia horrivelmente concreta de fechar a portinhola. Porque alguém me achou:

“Oi, amiiiiiga!”

Um ser. Uma criatura que tive de aturar. Uma preguiçosa, interesseira; e ladra, diga-se de passagem. Não roubou nada de mim. Pior: roubava no trabalho; roubava cinzeiro e porta-guardanapo furreca em bar (imagine minha expressão). Sempre de mau humor. Sempre chata. Sempre vítima.

Até que, depois de muito esforço, conseguiu casar com outro ser e finalmente se livrou do fardo do trabalho. Tratou de embarrigar e hoje está enfiada na vidinha que pediu a Deus: no interior, gorda (claro) e mexendo panela em casa sem se preocupar em pagar conta alguma (sim, aceitei sua amizádji só pra ver as fotos e confirmar o fado universal).

Nem lembrava dessa senhoura e não pensaria jamais que ela teria a audácia de entrar em contato comigo.

Sim, tá na hora de fechar aquilo. Porque, nunca se sabe, pode aparecer alguém pior.

Oi, amiiiiiiigaaaaaaa!

Viver de roça é horrível

Vídeo elucidativo produzido pela Basf, publicado no blog do Aluizio Amorim (via Coturno Noturno):

Vamos falar umas verdades, certo?

É muito bonito ver agricultores franceses saudáveis e informados se esmerando na produção para a indústria perfumista. Mas isso é lá.

Tirando raros casos de sucesso, como o Cinturão Verde em SP e em outras cidades, no Brasil o conceito de “pequeno agricultor” – aquela produção meio de subsistência – é sinônimo de miséria. MI-SÉ-RIA!

Os agricultores brasileiros são pessoas maltratadas pela atividade, pelo sol, pela falta de assistência do estado. As crianças largam a escola para trabalhar, todos ficam desdentados muito cedo, são submetidos a um esforço físico horroroso, ficam expostos ao sol, aos agrotóxicos, mal sabem escrever, são mal pagos porque produzem mal e não dominam técnicas para melhorar sua produção.

A agricultura, no Brasil, é o rebotalho do rebotalho de quem não teve melhor oportunidade na vida. Essa é a verdade.

Enfim, carpir o dia inteiro não é trabalho de gente. Gente precisa de educação, de saúde, de cuidados pessoais, de tecnologia e de uma vida boa e confortável. Isso é o que gente precisa. Não de enxada!

Mesmo que o objetivo do MST fosse, de fato, assentar gente na terra, o princípio é um dos mais egoístas e desumanos que há.

Como é que alguém, dentro de aeu ar condicionado, pode desejar a outrem uma vida dessas?

Portanto, todo o apoio aos grandes agricultores. Eles, sim, podem dar empregos decentes, com horário, com carteira assinada, assistência médica, aperfeiçoamento profissional e todos os benefícios. Isso, a terra sozinha não dá. Muito menos os partidários da funhecação alheia.

Eu apoio

Sejamos justos: a deputada Manoela D’Ávila (PD do B) ressuscitou junto à Câmara dos Deputados projeto de lei que libera biografias de gente notória (veja artigo no Estadão de hoje).

E eu acho pra lá de adequado.

Primeiro por causa da liberdade de expressão.

Segundo, o argumento clássico da notoriedade: o cara passou décadas tentando aparecer e, depois que consegue, fica de quarashquaishquais se outra pessoa resolve tomar a dianteira e relatar uma história “sem controle”, sem as censuras pessoais e sem aqueles cortes oriundos dos ti-ti-tis entre biografado e editor. Ou é esquizofrenia, ou é raiva por não ser ele a ganhar dinheiro com isso.

Terceiro, e tão importante quanto, é que o biógrafo faz o quê? Além de depoimentos que colhe (devidamente registrados), mostrando muitas vezes o OUTRO lado das versões fofoletes, ele  nada mais faz do que compilar TUDO o que foi publicado sobre o ente ao longo de anos, inclusive aquelas materinhas mais incomodativas que, na época, o cara resolveu não ligar pra não remexer mais ainda em um eventual imbróglio.

Mas tá lá, nos arquivos amarelados de revistas de fofocas, nas páginas de jornais. Registrado. O biógrafo apenas aviva memórias. Não inventa.

O fim do simba safári

Veja você que tudo muda, tudo se transforma, e isso não é necessariamente ruim.

O Cine Belas Artes, p. ex., foi pro espaço e, à exceção de uma centena de nostálgicos de ocasião, ninguém deu pelota. Por quê? Porque não interessa a ninguém. Aquilo não era um negócio levado a sério. Se o cara passa décadas vivendo de vender entradas de cinema e não consegue fazer prosperar a coisa a ponto de ter de terminar num mimimi de aluguel, é sinal de que a coisa merecia acabar mesmo. Lamento, mas é a vida.

O mesmo vem acontecendo com as casas de prostituição da Augusta. Até então, a rua Augusta se dividia em duas: a parte dos Jardins, comercial, que também não é lá essas coisas mas mantém-se “digna”, digamos; e a parte que leva ao centro, que ganhou o apelido de simba safári por conta de prosts e travestis catando a freguesia pela rua. Os muquifinhos – pequenas boates e american bares (é esse o plural?) – agora estão sendo enxotados de lá pela especulação imobiliária. Isso mesmo: prédios residenciais.

Eu acho ótimo. Pelo simples motivo de que o público mudou. Se antes a velharada de todo o Brasil acorria à Augusta pra pegar meninas de programa mais baratinhas, de uns anos para cá a garotada esquisita – gays, héteros, roqueiros, indies, pobres, ricos e famosos, segundo matéria da Folha – tomou conta do pedaço. Trechos:

[…] Os motivos da decadência dessas boates são dois: a crescente especulação imobiliária na região conhecida como Baixo Augusta -hoje há pelo menos 11 edifícios em projeto e execução na área. O metro quadrado ali sai, em média, por R$ 6.000.
O outro motivo é a mudança no perfil dos frequentadores. Hoje, a juventude tomou conta da rua. […]

[…] Os homens mais velhos, dizem os boêmios da Augusta, migraram para locais onde não correm o risco de encontrar filhos ou conhecidos. [essa é boa!]
O químico argentino Rufus Dangelus, 54, que vem a São Paulo para trabalhar, frequenta a Augusta há cinco anos, mas acha que logo não terá aonde se divertir na rua.
“Gosto de ir aonde vão os brasileiros. As casas da zona sul são para arrancar dinheiros de estrangeiro.”

[…] Garotas de programa contam que algumas colegas de trabalho que ficaram sem boate estão indo para o interior ou para casas em regiões mais afastadas, como Tucuruvi (zona norte), Campo Limpo e avenida Robert Kennedy (ambos na zona sul).
A maioria delas, no entanto, migra para as que permanecem abertas, como Coco Bongo, Las Jegas e Casarão. Elas dizem não acreditar que a prostituição vá sumir dali.
“Se fecharem todas as casas, as meninas vão ficar na rua. A “marca” já está consolidada: garota de programa “tá” na Augusta”, diz Alana, 20, que há cinco meses circula por casas remanescentes.
O publicitário carioca Jan Noronha, 25, morador novato da cidade, e o estudante de direito da USP Felipe Picchi, 24, discordam.
Para eles, só quem mora fora de São Paulo ainda acha que a rua Augusta é sinônimo de prostituição.
“O paulistano já tem consciência de que aqui é um lugar de gente alternativa”, diz Noronha. Picchi completa: “Essa ideia de vir pra Augusta pegar puta já acabou”. (íntegra p/ assinantes)

Toc-toc-toc! Que assim seja! Às vezes é bom ter a pecha de cidade demolidora.

Mamãe, olhe pra mim!

Minha mãe me conta que, quando eu era pequena (sei lá, uns 6, 7 anos), um belo dia comecei a chorar porque meu irmão já tinha ido para o hospital (quebrou a clavícula num atropelamento), minha irmã já tinha ido para o hospital (rasgou a orelha ao cair do bidê) e eu, euzinha, NUNCA, NUNCA!! tinha ido parar numa emergência.

Vivíamos uma vida tão livre, tão cheia de dedões sangrando, bicicletas pelas ruas, empinação de pipa com cerol, corridas nos paralelepípedos… Até com postes ainda não instalados, deitados no meio-fio, demos de brincar, até o dia em que a canela de uma vizinha magrela de tudo ficou presa entre dois postes e ela chorou à beça! Mas, que coisa mixa!: não precisou de hospital porque fizemos uma força danada e afastamos o poste para soltar o pé da menina.

Eu achava lindo chegar de maca numa emergência, médicos correndo, aquela preocupação da família… Você como centro das atenções, o medo da morte…

O tempo foi passando e, depois de belas injeções, gripes brabas, vômitos por comer porcaria na rua, enfim, mal-estares de qualquer jaez, essa tara hospitalar passou. Isso porque me considero normal.

Mas, sabe-se lá a criação de cada um, há quem tenha crescido sem resolver essa parte do “prestem atenção em mim”.

Você veja: a criatura quer, movida por sabe-se lá que motivos, protestar contra o preço do ônibus (ainda que, aos 20 anos, nem saiba o que é transporte público). Vai lá, faz uma manifestação. Como nada acontece, ela vandaliza todos os equipamentos públicos que encontra pela frente . Nada acontece. Não satisfeita, resolve atirar pedras e botar o dedo na cara dos PMs no afã de dar um pouco de emoção à sua vidinha.

O PM reage e, oh!, faz-se o motivo!:

O fofolildo, com o aparato caphona da mídia local, de funcionários públicos velhos e de vereadores desocupados, começa a exibir sua chaga de mentirinha como um troféu.

Será que desta vez mamãe esquece um pouco sua sessão de bronzeamento e presta atenção em mim?

*Ops! Neném tá precisando de uma hidratação no cabelinho, hein? Chama o Human Rights Watch!