Feliz 2009!

Bom o que ouvi de Jorge Forbes, outro dia na TV. Fiquei rindo sozinha com esse negócio de que os fogos não servem rigorosamente pra nada. E gostei que tenha falado da “fobia que o espaço aberto que o ano novo dá”.

Sei lá. Acho que no dia em que a gente se der conta de que dia primeiro de janeiro é apenas uma data imediatamente posterior a 31 de dezembro, talvez possamos montar nosso próprio calendário. Pra quê abrir e fechar o ano todo mundo junto, meu Deus! Que obsessão!

Desejo feliz 2009 a todos! Começe ele no primeiro minuto de amanhã ou daqui a três meses.

Beijocas de marocas!

PS.: Este ano NÃO espero a meia-noite. Este ano NÃO abro champanhe. Este ano NÃO ligo a TV pra ver Copa. Mas vou ver a São Silvestre masculina logo mais, porque adoro olhar a cidade ao vivo.

Aqui tem um bando de gordos!

Adorei! Ganhar peso é mole. Quero ver perder, coisa que Ronaldo vai conseguir na boa, quer apostar? Já os jornalistas…

Só não gostei desse negócio de “não tenho habilidade pra trocar fraldas”. Desculpa de homem preguiçoso. Ninguém tem, Ronaldo! Até o dia em que passa a ter! E limpar bumbum, dar banho, fazer dormir, levantar à noite, dar mamadeira, fazer dormir de novo, escovar os dentes quando eles vierem, passar cotonete nos ouvidos, pingar rinosoro no nariz, fazer dormir… Não mata ninguém, oras!

Eu, hein!

Osmose medicinal

O Graac (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) precisa ampliar seu Instituto de Oncologia Pediátrica. No prédio da rua Botucatu já não cabe mais ninguém. Os leitos têm mais rotatividade  que motel em final de semana.

Em 2007, no Hospital do Graac, foram detectados 213 novos casos de câncer infantil, realizadas 1.165 cirurgias, 15.543 consultas oncológicas e 11.630 sessões de quimioterapia, numa taxa – média! – de 87% de ocupação de leitos.

No orçamento do Graac, 50% vêm de doações. Atualmente, o grupo precisa de R$ 1,2 milhão por mês pra manter o hospital. Para o ano que vem, são previstos R$ 38 milhões, para também ampliar o centro cirúrgico para três salas, oferecer área para radioterapia, ampliar o atendimento a adolescentes e a reabilitação.

As taxas de cura ficam entre 60% e 70%, apesar de as crianças e adolescentes que lá chegam  – vindas de todas as partes do país – apresentarem um estágio avançado de câncer.

O que me chamou atenção na reportagem no Estadão foi o caso exemplar de Gustavo, de 10 anos, cuja mãe disse: “Ficaram um tempão dando injeção, diziam no outro hospital que era inflamação no joelho”.

Como assim, “inflamação no joelho”?

A reportagem não menciona, mas posso quase ter certeza de que essa família veio de longe para tratar do menino. O que dana não é propriamente São Paulo receber milhares de pacientes do país inteiro. O que irrita é que o Brasil – não tão profundo assim – não vai pra frente, nunca. As pessoas se vêem obrigadas a viajar, na maioria das vezes sem condições – e condições de ficar, por dias e dias! -, para se tratar aqui.

Que droga de país é esse que depende de uma só cidade pra conseguir tratamento de qualidade pelo SUS? Por que raios não há bons e grandes hospitais distribuídos por regiões? Por que os rincões não investem, pelo menos, em medicina preventiva?

  • A reportagem do Estadão não menciona qualquer forma de doação. Também não sei se essa é a saída a longo prazo, pra falar a verdade, porque a questão não é exatamente dinheiro. Taí o vice-presidente José Alencar (foto: Marcelo Min, Época) que não me deixa mentir: sua vida se dá entre Minas Gerais e Brasília), mas vive viajando pra cá pra se internar no Sírio-Libanês.

Ah, não acho certo, não…

Imagine que todas as crianças, não importa em que lugar do mundo, possam ter acesso ao conhecimento. Teriam uma chance de aprender, sonhar e realizar o que quiserem.

Tentei fazer isso com a música, mas agora você pode fazer isso de uma maneira diferente. Você pode doar um laptop a uma criança e pode mudar o mundo.

Este comercial, devidamente liberado por Yoko Ono, é da OLPC (Um Laptop para Cada Criança), do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e pretende que cada criança pobre do mundo tenha um XO, movido a energia solar. Foi lançado na quinta-feira, em tempo doado pelas emissoras nos Estados Unidos.

Eu sei lá como estaria Lennon hoje? Quem sabe não estaria longe, bem longe de Yoko? Quem sabe não renegaria a mudernidade digital? Ou, por fastio absoluto, não teria proibido a execução de “Imagine” sob qualquer circunstância? Ou ainda empunharia uma bandeira planetária pelo acesso comidal e educacional antes do acesso digital?

Herança, ou não-herança, como quiser, é uma avacalhação. Tom Jobim, por exemplo, vai acabar ficando menos conhecido por suas composições do que por “seus” lançamentos imobiliários d’além túmulo (dos mais portentosos, apoiados pela família, como aqui em SP, até os mais jererecas, que não pedem autorização alguma). E Cecília Meireles, Grande Otelo, Manuel Bandeira, Elizeth Cardoso, Monteiro Lobato, Clementina de Jesus, Guimarães Rosa, Cecília Meireles estão perdendo espaço por um motivo marromenos análogo, que envolve meios-irmãos se engalfinhando, filhos e netos acomodados em sua vidinha de usufruto e ganância, muita ganância.

É claro que dentro disso tudo há a crença firme de que o empréstimo do nome do falecido não vilipendia sua memória: uma boa-fé, ainda que regiamente recompensada; ou então que a exigência de uma soma proibitiva pra impressão de uma simples imagem em um livro está OK. É a lei, fazer o quê?

Mesmo assim, seria bom que a obra, a imagem de alguém se transportasse tomaticamente, no dia de sua morte, a alguma instituição idônea (coisa que também não existe) que pudesse mantê-la e exibi-la comme il faut. Nada de comercialzinho digitalizado. Nem que seja pra causa-mais-justa-do-momento.

  • Tradução do comercial de Lennon em matéria no Estadão. Texto sobre os imbróglios de direitos autorais/de imagem do texto de Mhário Lincoln (linkado).

Jisuis!

Depois do show de domingo, Madonna se mandou para o Bar Secreto, em Pinheiros, e trocou uns beijos com o modelets Jesus Luz, um carioca de 20 anos. Eles se conheceram durante um ensaio de fotos no Hotel Glória, no Rio.

O caso virou uma repercussão internéchional.

Tá certo que dá pra lavar muita roupa nesse tanquinho, mas o rostinho do rapaz não me engana.

Colunistas brasileiros, contaminados com o complexo de Dona Baratinha de nossas celebs provectas, afirmam que Madonna está completamente apaixonada pelo rapaz. Isso porque ela não desgruda do menino, e o chama de My Jesus.

Sei lá. Acho que o reinado de Jesus na terra não dura um mês.

Ué! Mas Madonna não se converteu ao judaísmo?

E o Shabbat, como é que ficou, minha filha?

  • Andrea del Bresciniano, Madona com menino Jesus e São João Baptista, 1524.

O Natal

Quero desejar um Feliz 2009 e um ótimo Natal a todos aqui. Pelo menos àqueles que aguardam do Natal bons sentimentos, harmonia, a alegria de reencontrar e reunir a família. Isso é muito bom, quando há condições plenas de acontecer. Se tem criança no pedaço, melhor ainda.

Mas quero também, e especialmente, deixar um abraço praqueles a quem o Natal traz uma espécie de enervação, como se fosse um inferno astral, quando todas as mágoas e raivas emergem nas horas fatídicas em que se sabe que a tão boinha solitude cotidiana (que é diferente de solidão, acho) está em perigo. Você vive sua vidinha ao longo do ano, numa boa, e tal, e chega no fim do ano já começa a se irritar com a imperiosa necessidade social de reunir forças pra encarar aquelas pessoas superbacanas, superlegais, supereducadas e supercheias de amor pra dar e à sua volta – nem que isso seja uma tremenda falácia.

Você SABE que a sua escolha de ser um tantinho mais sincero, noves-fora os prejus, foi a mais acertada, e a pissoa do outro lado também tem a plena convicção de que vale a pena passar por bacana pra família e pros amigos, embora VOCÊ saiba que toda a bacanice dela foi adquirida no espelho, resultado de um ego sem tamanho, e que essa pessoa, em termos de maldade, é muito, mas muito pior que você.

Lá vai você, descola um vestido, compra os presentes de praxe, tomando muito cuidado pra não cair num detalhe que possa ofender – por exemplo, dar um livro a quem decididamente não lê, e que pode ver no seu ato uma espécie de deboche.

E vem aquele enjôo, aquele fastio, e no final aquele conformismo de ter de viajar pra sua cidade natal (cidade natal é ótimo, fala a verdade!). E a única coisa que o move é saber que terá forças pra passar por aquilo tudo olimpicamente: “Serei educadinho, serei educadinho, serei educadinho. Nem que eu ouça a pior das insinuações a meu respeito, que veja o que de mais irritante possa acontecer, que aquele ambiente me deprima, passarei por isso tudo lindo louro e japonês!”

No meio disso tudo, pensamentos de esfregar as mãos: “e se eu pudesse, PUDESSE, passar o Natal aqui em casa, só, com minhas coisinhas? Se eu pudesse passar o Natal com meus amigos, que NÃO PODEM passar o Natal comigo porque estão passando o Natal com os seus, muitas vezes sob o mesmo imbróglio? E se ninguém soubesse que eu existo? Ah, seria tão boooom….!”

O Natal enche os pacovás de muita gente. Desde os gauche natalescos até os mais curtidores. Eu, por exemplo, sempre achei que as musiquetas de Natal brasileiras são depressivas. “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papaaaaaaaai Noooooooeeeeeeeel”, sinceramente, é caso pra suicídio. Engraçado é que não acho o mesmo das melodias tradicionalonas, dessas de corais, e tal. Até gosto. Mesmo assim, “Noite Feliz” é horrível!

Então, um grande beijo especial aos marginados. Àqueles que não se furtam a ver que tem alguma coisa errada nisso tudo. E que dariam tudo pra editar esses dias tão calorentos, tão movimentados, tão tensos, tão cheios de animação compulsória.

  • Deixo pra vocês, os esquisitos, um videozinho da Rita Lee explicando e tocando um tequinho de uma música bem à propos do que falei a partir do segundo parágrafo deste post. Escolhi esse vídeo porque outros similares foram feitos em shows, e o ao vivo sai muito abafado. Mas o diálogo é interessante: note que em certo momento o Roberto de Carvalho tenta dar uma suavizada (bem à moda das pessoas objeto da música, por sinal), Rita meio que cai nessa fofura mas depois se apruma e diz, com todas as letras, que a música foi feita pra uma criatura específica, meeeeesmo.

A pascácia

Soltura da Piveta ontem à tarde. Muito fofolete pro meu gosto. Apesar desta cara idiota diante de uma situação idiota, confirmada pelo visível constrangimento do advogado.

Primeiro porque veio de Porto Alegre pra cá sabe-se lá sob qual pretexto, e mora sozinha num apartamento, no Centro. Isso já não a encaixa no perfil de uma excruída revoltada.

Sinto-me à vontade pra falar, até porque meus amigos gaúchos, sem exceção, espinafram o quanto podem (devem ter suas razões) sua terra natal. Não tenho nada contra gaúchos. Só acho engraçado quando alguns vêm pra cá (como de outros lugares também) se achando, como se boiar na sociedade porto-alegrense fosse o mesmo que sobressair aqui. E, confirmando as teses de meus amigos, o que já vi de gaúcho pagando mico por querer se impor na sociedádji paulistanée… Nisso, tenho de concordar com meus amigos. Parece que houve uma leva de brotolândia ishperta achando que ia causar por aqui.

Mas acho que esta Piveta, ela sim, deveria voltar pra Porto Alegre. Porque sei que em POA ninguém dá mole pra vadiagem. Aí, sim, na primeira pichadela revoltadinha é que ela veria o que é bom pra tosse.

Segundo: ela reclamou das condições de higiene na prisão, mencionando que as próprias detentas são responsáveis pela limpeza. Oh, oh, oh! Quem sabe ela não superestimou São Paulo, a cidade dos serviços?

Sabe o que é, fofilda? Sumpaulo adora receber não só trabalhadores direitinhos, mas também vanguarda de tudo quanto é lugar. Mas a gente já temos uznosso poblema com o vernáculo, e damos preferência a uma juventude dourada que seja, pelo menos, alfabetizada. Mais do mesmo, incluindo aí gente com o rei na barriga a troco de uma avaliação meramente pessoal, estamos dispensando.

Nessas, estou firme e forte com a mulher-vaca, por exemplo. Nem sei se é relevante saber se ela é daqui ou não. Pode até não ser do gosto, mas a menina tem conteúdo, estuda aquilo, trabalha com aquilo, tem uma razão sólida pra fazer aquilo. E, o mais importante, se sacrifica por aquilo e não enche o saco de ninguém.

Momento-afeto: a família ficou revoltada com a prisão da “menina” – talvez devessem expressar toda sua indignação emporcalhando as paredes da penitenciária, quem sabe?

Ou, seguindo o mesmo raciocínio, eu devesse sair por aí gritando ao mundo minha revolta a cada coisa que me incomodasse. Quem sabe passar um spray e transformar Piveta numa menina-vaca?

Mais sobre a deslumbrada em A hora dos ruminantes (Reinaldo Azevedo de hoje).

  • Foto (Luisa Brito, G1): A menina bobinha, se espalhando no estofado, toda feliz porque está soltinha. Aliviou, hein? Notar a cara de “frila a gente não recusa” do adê.
  • Aviso: só aceitarei comentários (inclusive os tardios) se a pessoa se identificar como gente, escrever com um mínimo de ortografia e sintaxe, sem internetês, sem miguxês, sem ofensas e sem palavras-de-ordem destituídas de sentido.

Kassab diprô

Kassab foi diplomado prefeito reeleito ontem em cerimônia na Assembléia.

Não me espantei ao ver, na foto, os acólitos da Bispa Sonia volitando em torno do prefeito. Nem me espantaria que a Igreja Renascer em Cristo anunciasse para breve sua sede interplanetária no Othon de que falei no post anterior, ou no Palácio das Indústrias, ou quem sabe no Anhembi.

E também não tenho esperanças de ver defenestrada a vendedora de DVDs piratas perto do Metrô Vila Madalena. Como já contei aqui no blog, uma vez tentei saber por que ela tinha licença pra comercializar produtos ilegais, no meio da calçada, e obtive uma comunicação velada, porém eficientíssima, da Subprefeitura da Lapa.

Anteontem ia para o Metrô e vi uma estrutura de banca de jornais, novinha em folha, que substituirá a muito menor banca atual (que, me disseram, é irregular).

Mas…. em tempos de chulé simples da gente sofrida, é de agradecer de joelhos quando uma otoridade como Kassab, que é engenheiro e economista competente, recebe mais um diploma sem fazer alarde de sua conquista.

Sinceramente, dou graças a Deus de ele (e sua administração) não ser tapuia. Tanto é que votei nele sem piscar, porque poderia ser muito pior. Estou feliz com o que ele fez no macro da cidade até agora. Mas no micro…

Foto: Paulo Liebert, AE.

PS: (Foto: Gaston Brito, Reuters): Num tô falânu que a gente tem de organizar uma novena, uma romaria, com cem pai-nossos e 10 mil ave-marias? (bola cantada pelo correspondente latino-americano Ricardo Ferreira):

Tudo passa, até a uva…

O Hotel Othon da praça do Patriarca cantou pra subir. Depois de 54 anos prestando serviços na base da hotelaria loooosho decrépito, ele custou a perceber que não estava concorrendo com os super-hotéis da Paulista e da Berrini, e sim com a hotelaria pá-buf, que consegue hospedar um ente de maneira eficiente, prática, sequinha e muderna sem lhe arrancar as economias de uma vida inteira.

Aliás, o Othon já não era mais aquele há muito tempo. Faz décadas que nenhum turista do tipo quero-uns-dias-de-nababo, em sã consciência, se hospeda por lá.

Mas não fiquei triste, não. Pelo contrário. Aquilo me incomodava, porque era a imagem da decadência. Limpinha, decente e tal, mas decadência.

Estou é super-otimista que esse prédio aí, encravado no melhor do da cidade, perto da Prefeitura, da Câmara, cercado de sedes de bancos, metrô, ônibus, cumércio, escritórios e do centro histórico de São Paulo, vire logo um Ibis, um Formule 1 da vida, e passe a hospedar com um mínimo de razoabilidade financeira as pessoas que adoram aquela região ali.

Empresário que não acompanha as trends do mercado tem mais é que circular e dar espaço pros espertos, no melhor dos sentidos. Que venha a hotelaria econômica pro Centro! (Seu dono da rede Ibis, compra aquilo lá, vai!…)

  • Foto: Hotel Othon, esquina da Libero Badaró com Praça do Patriarca, logo ali no Viaduto do Chá. Autoria de BrunoFoca, que exibe outras fotos  de prédios da cidade, igualmente poderosas, no Skyscrapercity.

Falta de assunto

Depois de um dia inteiro ralando (coidivéio, já que ralar hojindia merece uma denúncia ao Ministério do Trabalho) vou ao Estadão (não. Não está acontecendo nada nesta cidade!), procurando um teco de tranquilidade, e deparo com este biscuit:

E é dessa necessidade de mostrar, de tentar convencer, de apresentar mesmo: “prazer, Joaquim Maria, prazer, Rodrigo”; “prazer, Daniela, prazer, Joaquim, mas pode me chamar de O Bruxo do Cosme Velho se você não se assustar com isso”, que falo.

[…]

Vamos ser sinceros, Machado de Assis não escreveu para jovens, escreveu para os donos do poder, escreveu para os formadores de opinião – como diríamos hoje -, escreveu para os poucos que faziam a política, para os que pretendiam zelar pela moral vigente, escreveu principalmente para posteridade, já que, descrente da realidade escravista em que viveu, confiava ainda num país e numa literatura a serem construídos.

[…]

O grifo é meu, aterrada por ainda usarem esta palavrinha tão anos 70, tão Marisa Raja Gabaglia, tão Elis Regina, tão Gabeira com cueca de crochê. E olha que em outro momento o texto  lança mão do neo-fatídico um marco na transposição. É a capacidade infinita de acúmulo de clichês.

Mas vamos lá: pesquei esses dois trechos do texto de Beatriz Resende, visivelmente empolgadíssima com a última adaptaçã de Dom Casmurro para a TV, que levou o óbvio, o fuxiquento, o pop nome de Capitu, aquela que dá um caldo de apelo tão intenso quanto o carimbo “atriz velha procura”.

Nos delírios desta senhôura haveria a possibilidade de Machado de Assis se apresentar como “Bruxo do Cosme Velho” a um bando de estudantes de MP3 no ouvido. Depois dessa, eu fecho a tampa do meu caixãozinho, viu?

E essa análise-desabafo (“vamos ser sinceros…”), que alça MA à zelite pélvéuça, fico aqui me perguntando se os donos do poder, hoje, leram qualquer coisa de Machado. Acho que não. Não devem fazer ideia de quem seja Bentinho ou Escobar e devem achar que “Bruxo do Cosme Velho” é um cara a quem dá pra pagar uma viagem de avião pra ir até Brasília contar o que vai acontecer com o pré-sal ou com a Dilma.

E eu que achava que só o Silvio Romero e o Tobias Barreto achavam Machado de Assis a quinta-essência dos privilégios da corte. Bobinha!…

Ainda fico com este parágrafo da análise do Diogo Mainardi na Veja (via Reinaldo Azevedo) desta semana, que comparou o televisivo  Bentinho com o Dick Vigarista, num clima meio Orlando Orfei (risos, risos, risos):

[…]

A literatura brasileira tem um escritor. Um só. O que fizemos com ele, nos últimos cinquenta anos, foi traí-lo com todos os Escobar que apareceram. Desde que Helen Caldwell, em 1960, negou o adultério de Capitu, moldando Dom Casmurro às suas teorias feministas, Machado de Assis foi raptado pela crítica esquerdista. Em particular, por John Gledson e Roberto Schwarz, que o transformaram ridiculamente num agente da luta de classes, empenhado em denunciar os abusos da classe dominante.

  • Foto: MA: me diga: pode um escritor, com uma cara dessas, com esse olhar, tendo escrito algo como “A teoria do Medalhão”, ter se preocupado em estar perto do poder ou com a questão escravagista? Me economiza, dona fulaninha!