O que não fazer para promover sua empresa

O blog Mural, da Folha, pagou um certo mico ao permitir a postagem de um pretenso casamento num trem da CTPM, como se fosse real.

Num tom meio será-teatro-não-será?, era o tal negócio: se colar, colou, contando com a distração alheia. Um teaser de graça, é isso?

Mas a mentira, na net, tem perna curta: não fossem os próprios comentadores desmontarem a farsa, a coisa era facilmente detectável.

A começar pelo style da noiva, diametralmente oposto ao perfil  paulistano do modal trem (entenda isso como quiser).

A cereja do bolo está na própria incompetência do texto (de alguém que se denomina “correspondente comunitária de Taipas”), ao dizer, como se esta fosse uma terra exótica, que há surfistas em cima das composições:

Muitas coisas bizarras acontecem diariamente nos trens da linha Rubi da CTPM (Luz – Francisco Morato), na capital paulista. Pessoas “surfam” na parte superior do trem, cristãos com suas bíblias debaixo do braço pregam sua crença, […] 

É bom deixar registrado que em São Paulo os surfistas de trem não existem há muito, muito tempo, e essa questão é muito séria para nós.

Uma pesquisinha rápida a partir da autoria do texto logo leva a uma empresa de evãs casamentísticos…

Ora, ora, creio que há maneiras mais competentes de se impor no mercado. A mais incompetente de todas é a enganação, que existe aos montes por aí.

Assim como empresas de casamentos…

Portanto, nega, é bom lembrar que, ao abrir sua telinha pra “trabalhar”, você deve esquecer das mentirinhas rotineiras e se imbuir de certa postura ética. Trouxa, nesse mundo, só a sua mãe. 

E a Folha…, bem, a Folha não pesquisou antes de liberar a postagem. (E olha que faz o blog com a International Center of Journalists!)

  • Foto (via Folha, por alguém que por coincidência é fotógrafo frila, olha só!…).

Para manter a falta de acesso à saúde…

… o governo federal, via Conselho Nacional de Saúde,  resolveu se posicionar contra o projeto paulista sobre destinação de até 25% dos leitos de hospitais gerenciados por OSs (organizações sociais) a planos de saúde, política instituída pelo governo de São Paulo no último ano, via Assembleia Legislativa em dezembro passado.

O pacote de medidas, diz o conselho, fere princípios da Constituição Federal e do Estado, além de atentar contra a Lei Orgânica da Saúde.
Além disso, favorece a prática da “dupla porta de entrada”, selecionando beneficiários dos planos de saúde privados para atendimento nos hospitais públicos geridos por organizações sociais, promovendo, assim, a institucionalização da atenção diferenciada com preferência na marcação e no agendamento de consultas, exames, internação e melhor conforto. (Folha, p/ assinantes)

Pombas, mas parece que esse povo não sabe ler! Cansou-se de avisar que o novo esquema não privilegiará ninguém!

A Secretaria Estadual de Saúde explica, pela enésima vez:

Segundo a secretaria, a decisão do conselho foi política e não “técnica” ao condenar o uso de leitos do SUS por pacientes de planos de saúde.
A secretaria diz que o conselho deixou de levar em consideração que a lei paulista tem como intuito permitir que “hospitais gerenciados por Organizações Sociais de Saúde possam ser ressarcidos pelo atendimento que prestam a clientes de planos.” A secretaria diz ainda que a excelência e a qualidade de hospitais gerenciados por OSs têm atraído mais clientes de planos de saúde, “que são atendidos gratuitamente”, destaca a nota.
Os hospitais administrados pelas OSs, afirma a secretaria, não eram ressarcidos pelos planos de saúde e passaram a receber por isso. A nota da secretaria ressalta que “o decreto de regulamentação da lei proíbe expressamente reserva de leitos ou preferência a pacientes de planos” e garante a mesma qualidade de atendimento para pacientes com planos de saúde ou sem, diz a pasta.

Tenho uma amiga que está com câncer. Ela tem plano de saúde, que, obviamente, não prevê nada além de resfriados. Esta semana ela está fazendo um exame caríssimo, pagando do seu bolso para o Sírio. Por quê? Porque o caso dela é urgente! O Instituto do Câncer tem condições de oferecer o exame, mas há uma FILA de seis meses. Porque plano de saúde particular não tem esse exame, e o SUS nacional não tem esse exame, então vem TODO MUNDO, do PAÍS INTEIRO, pra cá fazer esse exame, porque os pacientes, particulares ou não, são iguais em sua dignidade, têm o mesmo corpo, estão doentes, precisam se tratar, têm urgência e NÃO TÊM OPÇÕES!

Já que o SUS nacional é uma porcaria, a ideia da saúde estadual é pelo menos cobrar seus excelentes serviços dos planos de saúde, sem privilégios. Que mal há nisso?

Pelo jeito, a ideia do governo federal deve ser a de tudo continuar como está: todo mundo vem pra São Paulo, cumprindo a via-crúcis do SUS, que é mole maisé digrátis, atulhando nossos hospitais, e que todo mundo MORRA em longas filas de espera, transformando São Paulo num grande Pará, é isso?

Sai do nosso pé, caramba! Com o dinheiro advindo desses ressarcimentos, a gente pode fazer mil coisas, inclusive ampliar a rede para atender pacientes do Brasil inteiro – abandonados pelo governo federal – de forma um pouco mais rápida…

PS.: Tomando como exemplo – só um exemplo – o tipo de exame de minha amiga, aqui a disponibilidade no Brasil. E aqui o trabalho de gente grande para disponibilizá-lo para o SUS de SP.

PS2: Ops, não tinha visto pela manhã: a crítica de hoje é a imitação de hoje mesmo…

SP na mira dos frustrados

Do Reinaldo Azevedo hoje, a respeito da fala da ministra Maria do Rosário, que resolveu catar pelo em ovo na Polícia Militar de São Paulo:

[…] Poucas mortes no período tiveram tantos requintes de crueldade, torpeza e covardia como a de Mendes Júnior. Sua unidade foi emboscada pela turma do assassino Carlos Lamarca em 1970. O tenente se ofereceu para ficar como refém em lugar de seus homens. Apenas porque considerava que a presença do militar dificultava a andança na mata, Lamarca decretou a sua morte, esmagando seu crânio com coronhadas de fuzil. É a verdade que Maria do Rosário quer, não é? A Polícia Militar e a Rota não devem — e espero que não o façam — abrir mão de exaltar o seu herói. Não precisa mentir sobre si mesma.

Em São Paulo, Maria do Rosório não ensina nada em matéria de direitos humanos. tem é de aprender. Caladinha — se conseguir…O número de assassinatos por 100 mil habitantes do Brasil é quase do paulista. Já fiz essa conta aqui: se o país alcançasse os índices do estado, em vez de mais de 50 mil homicídios por ano, haveria menos de 19 mil. Mais de 31 mil vidas seriam poupadas todos os anos. Buscam-se explicações as mais estrambóticas para o fato — há até quem evoque o Estatuto do Desarmamento, como se ele não vigorasse no país inteiro! —, num esforço brutal de não reconhecer o óbvio: a Polícia de São Paulo — especialmente a militar, que atua no policiamento preventivo — é mais eficiente que a do resto do Brasil. Não por acaso, o estado tem 40% dos presos do país, embora só conte com 22% da população.

Política de Direitos Humanos, minha senhora, é salvar vidas, em vez de deitar falação irresponsável, movida por critérios puramente ideológicos. Depor um presidente eleito não é bonito, claro! Aliás, não é legal. Não acho que deva ser algo a ser exaltado. E praticar terrorismo contra inocentes? E esmagar crânios depois de um “julgamento”feito por um “tribunal revolucionário”? Por que alguns facínoras subiram ao panteão dos heróis e ainda nos custaram bilhões de reais?

O governo Alckmin pode botar as barbas de molho. Os petistas estão trabalhando. Já desfecharam a campanha de 2012. Na Assembléia Legislativa, o PT se mexeu há dias para tentar levar o baguncismo para a Polícia Civil. Agora vem esta senhora, com sua fala ligeira, tentar dar lições de “direitos humanos” a quem não nada tem a aprender com ela, sugerindo que o Estado os desrespeita. Vergonhoso é constatar que este é um dos países onde mais se mata no mundo, sem que se tenha uma única política federal digna do nome de combate à violência.

Isso, sim,deveria aviltar dona Maria do Rosário! (íntegra)

 

Existe um povo judeu?

Acaba de sair no BR o livro A invenção do povo judeu, do historiador israelense Shlomo Sand. Ele defende que a noção de “povo judeu” se estabeleceu com o sionismo, no século XIX. Da Folha:

[…] O autor defende que não há uma origem única entre os judeus espalhados pelo mundo. A versão de que um povo hebreu foi expulso da Palestina há 2.000 anos e que os judeus de hoje são seus descendentes é, segundo Sand, um mito criado por historiadores no século 19 e desde então difundido pelo sionismo.[…] (íntegra)

Bem, ele defende uma misturinha, sem dúvida havida ao longo dos séculos. Quem não faz parte disso, na certeza-certeza-mesmo, que atire a primeira pedra, iaiá…

Mas o problema é o “quando” dessa definição de povo judeu. Eu não estava na península Ibérica da Inquisição pra saber se isso é verdade ou não.  

Saber? Fico mais com a resposta de Marcos Guterman, em texto de ontem no Estadão. Resumindo,

[…] Pode-se dizer, sem medo de errar, que quem “inventou” o povo judeu não foram os judeus, mas seus algozes. […]

Pregando para o deserto

Continuando as discussões que firmamos no post PT e PTB contra a Polícia Civil (e sobre a especial reação dos leitores da Folha ao assunto), reflexão de Vinicius Mota hoje na Folha, que me permito reproduzir na íntegra:

A miséria da sociologia

SÃO PAULO – Foi majoritária, como apontou a ombudsman Suzana Singer, a manifestação de leitores da Folha no papel e na internet de apoio à polícia, por conta de reportagens que traziam indícios de abuso de violência de PMs paulistas.
O teor de muitas mensagens tocava no lugar-comum de que bandidos não merecem salvaguardas legais. Estariam justificadas ações como a emboscada e a morte de assaltantes de caixas eletrônicos.
Ondas de manifestações de leitores, sobretudo na internet, podem induzir ao engano. O meio facilita a mobilização de pequenas correntes de opinião, que acabam ganhando visibilidade desproporcional.
Mas há reiteradas provas de que a opinião pública, mesmo em fatia mais instruída representada pelo leitorado deste jornal, não mais engole acriticamente a cantilena dos direitos humanos. Talvez porque defensores dos direitos humanos se mantenham atados a preconceitos teóricos descolados da realidade.
O primeiro deles encara o crime como um fenômeno preponderantemente social, e não individual. Se alguém delinquiu, em especial se for pobre, é porque um feixe de determinações sociais, econômicas e culturais o levou a esse ato. Antes de tornar-se algoz, foi vítima.
A responsabilidade individual deve ser relativizada, de acordo com esse esquema ideológico. Já se o autor do crime pertence à chamada “elite branca”, como no caso de atropelamentos recentes, perdeu o direito ao atenuante “social”. Responsabilização nele.
O segundo preconceito estabelece que cadeia, polícia e Justiça criminal compõem a trinca do demônio da opressão estatal. São os operadores de um dispositivo perverso cujo objetivo é padronizar o comportamento da sociedade e reprimir revoltas latentes. Evitar a revolução social, enfim.
Se o pensamento acadêmico-ongueiro dos direitos humanos não revir seus pressupostos, vai pregar, cada vez mais, para o deserto.

A desídia transformada em capital político

O “acidente” no bondinho de Santa Teresa, RJ, no último sábado,  que matou o motorneiro e quatro passageiros e feriu 57 passageiros, era algo perfeitamente previsível.

Já no tempo (e põe tempo nisso!) em que eu era usuária contumaz daquilo, parecia que a única manutenção das composições era o reforço da pintura dos coraçõezinhos da carroceria embororocada.

Como em todas as tragédias anunciadas do Rio, essa se transforma automaticamente em capital político para o governador Sérgio Cabral.

Foi assim com a tragédia na Região Serrana. Foi assim com o Morro do Bumba, em  Niterói. Foi assim com os bombeiros. Foi assim com o helicóptero da polícia abatido pelos traficantes.

A ligação lógica entre falta de prevenção e consequência não importa. Tampouco importa se as soluções adotadas com estardalhaço se mostram eficazes com o tempo. Importam, sim, as atitudes de momento, regiamente interpretadas pela mídia em termos propositivos e heróicos: “o governador emitiu nota”, “o governador anunciou a suspensão do serviço até que sejam conhecidas as causas do acidente”, “o governador anunciou medidas imediatas”, “o governador não vai tolerar”, “o governador determinou”, “o governador proibiu”, “o governador decretou”.

O dirigente pai, o governador bonachão, compreensivo, que, mediante um fato bem mais grave, “perde a paciência” e toma atitudes mais drásticas, revelando aí toda a sua autoridade do bem, sua capacidade diante do imediato, do urgente.

Vamos combinar que a superlotação dos bondinhos sempre foi patrimônio exótico do Rio. A bagaceira das composições, idem. E, não menos importante, os furtos de passageiros também. Até a morte de um turista em junho, despencado das alturas e assaltado enquanto agonizava, já caminhava para a memoriabilia engracadinha da cidade.

Não sei o que será daquele transporte agora. Pode ser que sofra apenas uma reforma meia-boca (se o potencial de esquecimento se impuser mais uma vez); pode ser que Cabral, “com ajuda do governo Dilma”, adquira novas composições de uma empresa carioca, tudo novinho e com ar-cond. – num sacrifício necessário da tradição! -,  visando ao turismo da Copa.

E quem sabe Cabral não faz novas amizades a partir daí? Ele é tão simpático…

PS.: Se a voz do povo fosse a voz de Deus, Deus diria Framengo, não é mesmo? (lá do Reinaldo): 

Haddad começa no style PT: mentindo

Hoje na Folha o bate-boca entre Marta e Haddad, porque este último resolveu tungar para si o mérito dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), implantados na gestão Marta na cidade de São Paulo.

Quem tem memória about se lembra de que a proposta, na época, sofreu críticas  pela grana torrada, pela possibilidade de ficar subutilizada ao longo do tempo -porque a manutenção é vultosa – e, pior, era um projeto faraônico quando a urgência era acabar com as escolas de lata. Enfim… As prefeituras seguintes, de oposição, acataram republicanamente a ideia, construíram novos CEUs e os mantêm direitinho. Além de terem acabado com as escolas de lata, coisa que Marta não fez.

Voltando, Haddad, que era chefe de gabinete de finanças de Marta, toma para si o mérito da ideia, em entrevista para o perfil publicado na Ilustríssima (Folha) do último domingo, absurdo que já demonstra a que veio. O trecho está simplesmente assim:

Sayad, seu assessor Haddad e o atual líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira, então secretário de Habitação, sobrevoavam a periferia de helicóptero quando o hoje ministro teve a ideia dos CEUs (Centros de Educação Unificada), futura vitrine da gestão Marta. (íntegra)

O grupo de Marta rechaça:

“Não dá para falar que os CEUs têm um pai ou uma mãe. Ele tem muitos tios e muitas tias”, disse a ex-secretária de Educação Cida Perez, citada por esse grupo como a verdadeira responsável por tirar do papel as 21 escolas.
Ela e ex-colegas como os presidentes municipal e nacional do PT, Antonio Donato e Rui Falcão, contam a história da mesma forma.
A primeira vez que se pensou, no partido, num modelo que conjugasse esporte, cultura e lazer nas escolas da capital foi nas prévias para a prefeitura em 1996, quando Aloizio Mercadante propôs as “praças educacionais”.
A base era o conceito de “escola-parque” desenvolvido pelo educador Anísio Teixeira na década de 50 e implementado em Brasília.
Quando Marta assumiu, retomou a discussão. Em seu livro “Minha Vida de Prefeita”, ela cita a participação de várias pessoas no projeto, mas não menciona Haddad. (p/ assinantes)

Bem, esse Minha vida de prefeita não conheço, mas tenho outro: São Paulo, metrópole em trânsito. Propagandona da gestão Marta, é um livrão bonito, cheio de iconografia e com textos consistentes, metade feito de análises históricas – interessantes – da cidade, metade de jabaculê martista. Tenho pelo simples fato de que o revisei e recebi um exemplar. Senão não teria, até porque na época foi vendido a preço de ouro. 

Tá lá:

É importante deixar registrado que o projeto de arquitetura foi idealizado e desenvolvido pelo arquiteto Alexandre Delijaicov e pela equipe de dificações da Secretyaria Municipal de Obras.

No projeto geral, aproveitou-se e aprofundou-se o conceito de “praça de equipamentos”, um conceito similar ao de escola-parque, idealizado na década de 1950 pelo educardor Anísio Teixeira. (p. 246)

Registre-se que o texto foi escrito a seis mãos: Maria Aparecida Perez (então secretária de Educação e mencionada na matéria da Folha como responsável por tirar os CEUs do papel), Ana Beatriz Goulart de Faria (arquiteta, então assessora do Gabinete de Educação) e Luiz Carlos Seixas (também assessor da Secretaria de Educação de Marta).

Procurada pela Folha, Maria Aparecida Perez lembra que o então chefe de gabinete de Sayad fez parte do grupo que estudou os projetos, mas nunca ouviu falar dessa conversa de helicóptero.

Outra reclamação dos martistas é a de que Haddad tascou um spray dourado no “saneamento de finanças que fez na cidade” (pós-Maluf e Pitta).

Menos, né, meu filho! Até porque Covas também saneou o estado e nem por isso passou sua gestão inventando taxas absurdas, como fez Haddad e que valeu a Marta seu apelido principal: Martaxa.

E outra: a gestão petista saneou tanto que deixou o caixa da Prefeitura com 16 mil reais para Serra. 16 mil sambarilove, porque os economistas de Serra descobriram que, na verdade, havia um rombo de 2 bilhões de reais nos cofres municipais.

Explica essa, Haddad!

Tabus da educação

Dados divulgados há uns dias sobre a educação do país, que bem reflete o espírito daquele slogan lulesco: Brasil, um país de tolos: 44% leem mal, 46% escrevem errado e 57% têm sérias dificuldades em matemática.

Derivada dessa pesquisa, a análise da situação da alfabetização em São Paulo em matéria no Estadão de hoje, fazendo um paralelo entre educação pública e privada. Estatísticas, como se sabe, dependem de como são lidas. O texto é taxativo ao afirmar que a região Sudeste não está com essa bola toda nos índices de estupidez nacional.

Ora, mas é óbvio! Um país que nunca decide olhar seus miseráveis tem sempre um contigente de ignorantes formais muito maior que o de gente estudada.  É assim no mundo todo.

Tirando o Brasil por regiões, e levando e conta que o ir e vir aqui é livre, é claro que o restolho de tudo quanto é região do país vem para cidades grandes do Sudeste: Rio, São Paulo, Belo Horizonte e cercanias, à procura de algo turvamente entendido como melhorar de vida. E é por isso que as taxas de educação no Sudeste são péssimas. Culpa da escola? Também. Mas é culpa dos pais, primeiramente.

Falando na lata, curto e grosso mesmo, a melhor coisa que poderia acontecer a essas crianças em termos de educação seria o sequestro: mantê-las longe do domínio cultural parental. Como é que você pode assistir a uma aula, sei lá, de figuras geométricas, de ângulos, de equações simples, bater o sinal e ir pra casa, onde não só não terá apoio para estudar, como mãe e pai nem sabem o que seja um triângulo e, pior, voltará a uma rotina em que TUDO conspira para que você esqueça o que aprendeu na aula?

Crianças da rede particular aprendem melhor não porque são bonitas e ricas, ou porque os professores ganham mais. Crianças da rede particular aprendem melhor porque seus pais, em algum momento ancestral, decidiram que filhos são coisas importantes para a humanidade e merecem investimento, nem digo de dinheiro, mas de tempo e dedicação.

Isso tudo é estatística, e estatística é grossa por natureza. Isso não quer dizer que qualquer um da rede pública seja um fado de imbecilidade. Temos exemplos diários na tevê de mães e pais que criaram seus filhos com sacrifício, e que conseguiram formá-los, e tal.

O contrário também vale: filho de gente rica e estudada que vira um tranqueira na vida e sai num porsche atropelando todo mundo que vê pela frente.  

Vou contar algo pra vocês: faz umas semanas eu chorei, ao ver Periquitvs num jogralzinho de dia dos pais (éééé…, tenho de levar os avós pra ver, todo santo ano).

Eram uns parágrafos, cada um lido por um aluno de série diferente. Só fiquei sabendo na hora, e tudo o que pude dizer foi: “vai, fala com a cabeça erguida e pra fora, com voz alta” (o menino lê sozinho em casa em voz quase inaudível, e com a cabeça baixa).

E ele fez direitinho como titia orientou. Tirando ele e uma mocinha da “quinta série” (1a. série do ensio médio, é isso?), ninguém mais conseguiu ler com fluência. Ninguém. Nem o da segunda, nem o da terceira, nem o da quarta.

Chorei errado, sabe? Chorei de boba, por ver 1) o menino escolhido na 1a. série para ler em público; 2) ele lendo melhor que os mais velhos.

Deveria ter chorado por aqueles que ultrapassaram a 1a. série lendo com dificuldade. Não pelas professoras ou pelo método de ensino, que são ótimos. Mas pelo fato de essas crianças não terem estímulo algum em casa.

Bonita minha autocritítica, não? Mas é mentirosa. Quero mais é que Periquito estude bem se destaque do rebotalho, e os outros que se virem.

O que não exclui ter pena de criança perdida na vida.

Alguém aí contra? 

  • Imagem: “Encontre o x”, gracinha importada e que se tornou ícone da esperteza nacional. 

Jânio e a ditadura

De ler com atenção o artigo de hoje de José Serra no Estadão: “50 anos e um falso dilema”, por ocasião dos cinquenta anos da renúncia pataquística de Jânio Quadros. Um trecho:

O presidente logo se afastou de parte dos que o apoiaram, mas sem formar uma base política consistente, apesar de ter nomeado ministros dos principais partidos da situação e da oposição. A maior novidade foi a “política externa independente”, com um certo afastamento dos EUA, em plena guerra fria e no calor da revolução cubana, pela qual Jânio mostrava simpatia. Começou a reatar relações diplomáticas com a União Soviética. Não se menospreze o trauma que isso representava. A violenta reação de Carlos Lacerda, o maior líder da UDN, não tardou. Jânio tinha força para articular uma base majoritária no Congresso. Preferiu o autogolpe. Fracassada a manobra, abriu caminho para a instalação da ditadura em 1964.

Hoje o Brasil é um país institucionalmente muito mais maduro. É impensável as Forças Armadas entrarem no jogo político. E os governantes sabem que não mandam sozinhos. A saga janista constitui um caso para estudo do papel do indivíduo na História. As instituições e a vida dos brasileiros foram profundamente afetadas durante décadas pela decisão desequilibrada de uma só pessoa.