O Flanela se ocupa de alguns assuntos. Muitos deles se repetem, num não tão evidente processo. Todos eles em volta da defesa da cidade contra o achincalhe bairrista em geral.
Em suma, São Paulo não é mais poluída, não tem mais mais trânsito e não é mais violenta que muitas cidades brasileiras, etc. Só sofre com o excesso de atração, num país mormente atrasado desigual por culpa dos governos.
Evito falar de Brasília, porque, se assim fosse, não sairia daqui tal a cornucópia de escândalos que – vamos combinar – já são dogma e se sobrepõem diariamente. Horariamente, nos últimos tempos.
Mas hoje abro exceção e chamo atenção para um texto de Reinaldo Azevedo a respeito da imprensa, cujo achincalhe também se institucionalizou no governo do PT. Trechos:
Desde que o PT chegou ao poder, a imprensa está sob ataque. Tudo ficou muito pior depois que veio à luz o escândalo do mensalão e que acadêmicos do PT, liderados por Marilena Chaui, inventaram a falsa tese da tentativa de golpe de estado. A maior contribuição desta estudiosa de Espinoza foi abrigar o pensamento de Delúbio Soares. O partido resolveu mobilizar contra a imprensa seus esbirros na Internet e montou um verdadeiro aparelho para intervir em portais, sites, blogs, redes sociais etc. Anúncios da administração direta e de estatais financiam a intervenção, o que é um acinte à democracia. É por isso que não publico aqui aqueles que chamo, desde sempre, “petralhas”. Não são indivíduos se manifestando, mas funcionários de uma organização. Alguns são remunerados. Outros não! […]
A imprensa brasileira, a verdade é esta, está entre as menos sensacionalistas do mundo. Na verdade, ela acaba sendo tolerante em excesso com certos comportamentos que, embora privados na aparência, mesmo não estando relacionados a dinheiro público ou a princípios da administração pública, revelam, no entanto, o político de duas caras, o anfíbio, aquele que diz uma coisa e que faz outra. Há certos comportamentos individuas que são sintomas de mau-caratismo. No homem privado, problema dele e de quem com ele se relacionar; no homem público, pode ser indício de baixa qualidade da representação e de degradação da política.
“Mas me diga, Reinaldo, não pode haver um santarrão, com comportamento ilibado no terreno moral, que é, no entanto, um contumaz ladrão do dinheiro público?” Ora, gente, claro que sim! Assim como é possível existir um fauno, com uma penca de amantes, vivendo uma vida dissoluta, que não toca em um centavo do que é alheio. […]
Uma coisa é certa: a classe política brasileira seria quase dizimada se tivesse de enfrentar uma imprensa americana ou inglesa. E ouso dizer que, num primeiro momento, nem seria por causa do trabalho disso que se convencionou chamar “jornalismo investigativo”, que tenta desvendar as artimanhas dos ladrões de dinheiro público. Bastariam uma câmera fotográfica e alguns arquivos que chegam às redações e que são descartados. (íntegra)
E não é purtanismo, não. Vejam o caso, por exemplo, do filho de FHC (que depois, revelou-se não ser). Foi uma exceção de conduta da imprensa, porque partiu de um tabloide de esquerda de Vila Madalena, pago com dinheiro público. Arranhou sua imagem política? Não.
Ao contrário, por exemplo, de Sergio Cabral. Ele não é envolvido, por enquanto, em nenhum escândalo sexual, mas suas atuações (ou a falta delas) em tragédias domésticas já dão indícios de seu caráter. Isso sem falar das farras em Paris.
Não sou tão otimista como o Reinaldo, achando que se a imprensa abrisse tudo os caras cairiam. Não caem com escândalos sexuais, muito menos se passam a mão em dinheiro público.
Nós aceitamos o que eles fazem. Primeiro porque votamos e revotamos (plural genérico, veja bem) neles. Segundo que, vamos combinar, a população em geral sonha em viver assim: entre putarias e manguaça, com dinheiro à larga.
Os dois primeiros, até que conseguimos. O terceiro – o dinheiro – o farto crédito até que dá um jeito, mas ainda não chegamos no ideal – viver confortavelmente à custa da grana federal.
Seja num emprego vitalício (encostar o burro na sombra, ideal de toda classe média baixa), descolar uma Lei Rouanet com qualquer projeto cultural ou, num nível mais elaborado, abrir uma empresa depois de travar contatos no governo, e adentrar assim o deslumbrante mundo das licitações forjadas, da propina e das amizades de jatinho.
O vídeo acima não veio a público por dever de imprensa. Veio de um inimigo de Cabral, Anthony Garotinho (não por amor à verdade ou por seu presbiterianismo de subúrbio, mas na raiva, porque perdeu uma boquinha que deveria ser dele).
Não sei vocês, mas estou tão conformada com essa coisa de todo mundo babar por dinheiro público que nem me choco com o fato de essas pessoas estarem num restaurante luxuoso (em Paris ou em Mônaco, nõ se sabe. Dizem que foi no Ritz, em 2009) por nossa suada conta.
O que me resta para escândalo é a total sem cerimônia num ambiente desses: a conversa espalhafatosa, num volume de churrascaria, todos apoiando o cotovelo em tudo quanto é lugar, a “princesa” empurrando comida do dente com a língua antes do beijo espalhafatoso. Tudo isso com o olhar eventual e discreto da loura, lá no fundo, na varanda.
Eu lamento que Paris, cidade não da Torre Eiffel ou dessas baboseiras de turista, mas cidade dos ofícios finos (coisas que nunca emplacarão por aqui porque somos basicamente grosseiros), tenha de aguentar essa gente. Tempos bicudos para quem fala baixo. Os parisienses só se conformam, aguardando dias melhores. Não mudarão sua conduta.
Nós também, não mudaremos a nossa. Cabral, é certo, um dia cairá no ostracismo. Há uma fila de iguais à espera de sua oportunidade.