Falta de foco

Todo fato deve ser analisado à luz do que realmente é, e não da gritaria geral, não é mesmo? Acabo de topar com uma notícia na Folha cuja manchete é: “Prefeitura de SP paga entidades da saúde por consultas não feitas“.

Daí neguinho vai lá e pensa: “humm, como as OS são safadas, com querem roubar!!” (sim, o serviço público é um baluarte da honestidade…), naquela mania horrorosa de não ler tudo, não ler direito, não ter nem histórico pra pensar no assunto.

Daí você vai lendo com paciência e percebe que impõe-se nesse caso, mais uma vez, um problema sério: a falta de especialistas, a desvontade médica de trabalhar láááá no Marsilac, enfim, a falta de estratégia geral do poder público, que não se preparou para a avalanche de gente que subiu na vida (artificialmente ou não) e agora pode marromenos tratar suas mazelas como um ser humano comum.

Isso tem, mas lá no finzão da matéria é que vem o pior, a principal causa dessa defasagem de atendimento, o que já era um drama geral, especialmente no serviço público direto de saúde: a mania das pessoas de faltar a consultas e exames.

A marcação de consultas e exames na rede pública é um troço bem mais dramático do que no serviço privado (particular e convênio). É muita gente pra atender, os funcionários se viram num sistema que por decreto é pesado, lento, confuso e tão defasado quando um site da Receita Federal. Daí que pra agilizar a agenda do médico do dia fica impossível. Não há uma alma sequer disponível no posto de saúde ou na coordenadoria ou no hospital pra fazer a fila andar, pra telefonar e realocar pacientes, pra cobrir rapidamente aquela consulta esvaziada, ou mesmo pra confirmar consultas com um dia de antecedência.

Existe uma realidade que nunca vai mudar: existem pessoas organizadas e pessoas confusas. Mesmo pessoas confusas às vezes conseguem se programar para uma consulta dali a quatro meses, mas muita gente se embanana, por vários motivos: ou é confusa mesmo e esquece, ou finge que esquece porque o psicológico dela quer fugir de certas realidades. Tem de tudo, tem no mundo inteiro e não dá pra mudar isso.

O que dá pra mudar é a maneira de lidar com isso. A rede pública (OS incluídas) não pode mais agir como se fosse um ente superior que faz um grande favor em atender as pessoas, faltou, faltou, azar o seu. Tem de ser do interesse do Estado que a pessoa venha se tratar.

“Ah, mas é muito difícirrr, a gente trabalha muito e…”. Entendo. Então sindicatinho e associações, em vez de só se preocupar com vale isso vale aquilo, poderiam se reunir com as direções e o Estado e bolar uma fórmula de evitar tanto absenteísmo.

“Mas como? como? COMO”?

Pergunta ao Einstein, oras… Ou você acha que lá também não tem paciente que dribla consulta?