Persuasão e sensibilidade

Sou testemunha do trabalho seriíssimo e dedicado de Raquel no Jane Austen em Português.  E é justamente por isso que publico essa coiseta aqui mesmo, sem maiores avisos à “interessada” no assunto, até porque o mocó é aqui, e não lá.

Vi outro dia, em um café meia-boca metido a vender livros de ponta-de-estoque, esse romance de mil e uma utilidades de banheiro. Sabe aquele ambiente urbano-fino? Você entra, pede um café, acende um cigarro e passa hooooras lendo um livro. No caso, esse. Porque, dependendo da leitora,  pode demorar horas mesmo.

Pasmei, xentche! “Emma Darcy” pode até parecer resultado de um trabalho preguiçoso, e vai ver é mesmo. Mas não deixa de ser sensível e pra lá de persuasivo.

Sinceramente? Admiro purdimais a arte de nomear (será que tem terminologia, isso? Nomismática? Nomogênese? Brotonímia?). Não canso de achar o troço uma arte finíssima. Nomes de personagens! Nomes artísticos! Nomes de carros! Títulos de qualquer coisa! Será que existe, nos subterrâneos da atividade humana, o ofício específico de dar nomes certos a coisas certas? Ou será que essa é uma habilidade tão pulverizada quanto passar uma camisa social?

Mas bem que poderia existir a profissão, hein? Já pensou? Primeiro o autor brifa com a gente: serão tantos personagens, e dá o perfil de cada um. E o produto. E o target da coisa. Faz-se um levantamento das tendências da fonética mundial, do último encantamento das moçoilas. No caso em questão, busca-se tudo o que já foi feito por e em torno de Jane Austen e que chegou ao alcance da bacia das almas. Não precisa nem ler os livros: é só dar uma checada se o atores que os fizeram no cinema são bonitões – e lascar: Hugh Bennet, Elizabeth Firth (olha lá, Elizabeth Firth é pra lá de sonoro, hein?…), Elinora Austen, Marianne Thompson. E, por que não, Jane Willoughby?

Se o nome da autora fosse esse mesmo (e não duvidaria), passaria a acreditar na conjuntura dos astros.  Mas, como não existe nada de novo debaixo do Sol, fui dar uma fuçadinha e achei o relato deslumbrante do advento nomístico, bem como a rotininha da fofa entre o campo e a cidade, entremeada por luxuriantes e exóticas adventures pelo mundo.

27 comentários em “Persuasão e sensibilidade”

  1. Brotonímia? é um estudo de brotoejas nos nomes?
    S
    ó você para achar essas coisas! Não me canso de ler aquele tratado, o teu e de tia Cris sobre o nosso passeio na Bienal. E eu tinha razão, veja a situação da Bolsa, ai ,ai!
    Elizabeth Firth é bom de mais! Vou fazer um post lá no Jane, a gente precisa rir!

  2. Sempre entro aqui, nunca comentei, mas essa capa merece: ponto para o designer (ou sei lá eu quem…) que juntou duas fotos e coloriu os títulos no Paint. Uma montagem digna de Emma Darcy!

  3. Foi meu primeiro impulso, Ricardo. Pena que Mrs. Darcy more tão longe…

    Raquel, seu blog é um lugar pheeno®, não pode abrigar essas coisas!

    Bárbara, cê vê? Acho que vou mudar de profissão, sabe? Mas eu queria mesmo era inventar nomes…

  4. Esse tipo de literatura é chinfrim, mas tem mercado fixo. Lembro que, quando adolescente, minha irmã lia dezenas dessas coisas, tinha um monte de livros feitos em papel jornal, acho com o título principal de Bárbara ou coisa parecida. Um dia, já quase adulto, de curioso, fui, meios lascivos, mas sem entrar no balacobaco, ou seja, coisa para meninas, nós “meninos” preferimos ir direto ao assunto.

    E fez escola na TV… mexicana! Ora, o que são, afinal, os Manuel Alejandro, ou Diego Ruiz, ou Márcia Castelgandolfo que não adaptações para a TV em língua espanhola, desses “romances”?

  5. Fábio, acho que sou a única elementa na face da terra que nunca leu um livro desses aos 15. Só fui ler mais tarde, pra saber como era. E aí eu já estava na fase “assim eu também faço”.

  6. Prezada Letícia, creio que pelo fato de você não gostar deste tipo de literatura faz de você uma leitora seleta. Mas seleta para outros grupos de livros. Não querendo dizer, que toda seleção de livros tem que passar por uma lista do canône literário. Só achei estranho desprezar quem escreve ou lê esses livros. Fica parecendo que é imperativo não se deixar levar por livros como esses.
    O propósito não é ler? Para um país onde as pessoas (na sua maioria) passam necessidades, não é esquisito rir daqueles que lêem romances assim? às vezes pode ser esta a única forma de contato com livros. Eu, como professora, quero mais é que todos pudessem ler, mesmo que fosse um Sabrina da vida achado nos pertences da mãe ou vizinha. Todo tipo de leitura é valido, não acha? Como diria Ranganatha: “A cada leitor o seu livro, para cada livro o seu leitor. Gosto pela leitura é algo pessoal!

    Como Diria Drummond, a academia brasileira de letras e confecção de um cânone literário brasileiro ou internacional só faz com as pessoas subestimem as outras. Explico: se lermos todos os livros que são compeões de vendas ou os canônes ficaríamos com uma lista reduzida não acha?

    As continuações das obras de Jane, realizadas por fãns são muito comuns no mundo inteiro, até mesmo no sites oficiais sobre Jane Austen existe um espaço para as chamads Fanfics. No entanto, pelas bandas do hemisfério norte estes livros não são considerados chinfrins ou lixo. Talvez porque a leitura nestes países seja realizada a qualquer hora e lugar, sem preconceito ou medo do que as outras pessoas vão pensar quando te virem lendo os livros que lhe agradam. Porque tanto nos EUA quanto na Europa, as pessoas compram os livros mais baratos (paperback ou brochura, como chamamos no Brasil), lêem esses livros nas praças, metrôs, enfim em qualquer lugar.

    Acho pedante aqui no Brasil, as pessoas ditarem regras sobre as leituras que as outras devam ou não fazer.

    Me desculpe falar assim no seu blog, pois não nos conhecemos né? Eu às vezes leio o que você escreve no Blog da Raquel e às vezes você me responde.

  7. Letícia, se me permite, eu gostaria de adicionar ao meu comentário, a mensagem abaixo:

    O Poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu O Amor Natural, livro de poemas eróticos. E nem mesmo em seu tempo, ele teve repercussão negativa ou foi chamado de literatura de mulherzinha.

    Talvez por ter um espírito livre que não aceitou o convite de ter uma cadeira na Academia Brasileira de Letras ou porque não querer participar de um conchavo onde se decide o que é ou não cânone.

    http://www.estudioraposa.com/index.php/05/02/2008/erotica-16-a-bunda-carlos-drummond-de-andrade/

  8. Adriana, não enche, vai… Quem falou em prezada e desprezada aqui foi você. Se os cânones te atormentam, para o bem ou para o mal, sinto muito. Eu não dou bola nem pros melhores, por que daria pro seu?

  9. Poxa Letícia,

    eu somente coloquei minha opinião acima!
    Como não sei qual foi sua reação física ou expressão visual, vou entender esse: “Adriana, não enche, vai…” como uma eventual brincadeira virtual.

    Eu também não falei de meus cânones, creio que nem mesmo os tenho. O que me irrita não é determinado livro está entre os cânones, mas sim a pretensão de se achar que os livros que pertencem a esta categoria são os melhores e os outros… piores.

    Quanto ao uso do cortês prezada, eu achei que fosse polido utilizar uma maneira assim para lhe saudar, principalmente ao escrever pela primeira vez em seu blog.

    Quanto ao desprezar, eu creio que foi intenção foi rir destes livros quando a Raquel publicou :
    “Persuasão e sensibilidade”
    (Flanela Paulistana | 18/jan/2009)
    Quer rir? Leia este texto e não esqueça de ler também os links no final do artigo!

  10. Olha, seguinte: sei exatamente de onde vocês vêm e POR QUE vem.
    O pior: vocês não estão comentando o assunto do post, e sim o que lhes vai na cabecinha.

    Portanto, estou mediando os primeiros comentários. E se continuar essa cozinha aqui serei obrigada a cortar gente.

    Custa ler direito, pô?

  11. Leticia,

    O fato da autora misturar os nomes de dois personagens da Jane Austen é lamentável na minha opinião. Mas ela, ao menos, consegue publicar os livros que escreve (não li nenhum para poder exprimir uma opinião sobre eles) e tenho que concordar com o que a Adriana Zardini falou: antes esse tipo de incentivo à literatura do que nenhum. Só acho que ela poderia ter sido mais autêntica na hora de escolher seu pseudônimo :P, mas cada um com seu cada qual né?

    Quanto à discussão acima, bem acho que intransigência não leva a nada sabe. Concordo com o Fábio : esses livros existem porque vendem – e muito – e concordo também com a Adriana: porquê para os homens é sexy e para as mulheres é brega? Essa é uma discussão sem fim e que não acho que seja digna de uma briga, afinal gosto não se discute, se lamenta.

    E você não foi a única elementa na face da terra que nunca leu um livro desses na vida não. Eu nunca li umzinho sequer!!! Mas confesso que por um tempo era curiosa para saber o que tanto minhas amigas gostavam neles. Depois que cresci acabei me interessando por outro tipo de literatura. Mas que eles vendem até hoje vendem né? Fazer o quê? Sorte de quem gosta.

  12. Lets

    Veja só.

    Você faz um blog. Tem o cuidado de atualizá-lo cotidianamente com os seus ótimos posts. Faz tudo isso sozinha. Aí um dia você resolve espinafrar essa porcaria e as pessoas começam a entrar aqui para dizer que você não pode espinafrar, que tem que ser equilibrada e olhar o lado polyana da coisa. Ora, façam-me o favor! Como diz o Tambosi, vão todos se roçar nas ostras!

  13. Clara,

    E azar de quem não gosta, pelo jeito… Você viu o que aconteceu aqui, não?

    É óbvio que sei que vende muito, é óbvio que esse tipo de literatura – que continua sendo de má qualidade, nem que abordasse temas mariais (o fato de ser erótica ou não é discussão boba) é o que de mais fácil há por aí para ler sem concentração. Falar da utilidade desse tipo de literatura é vão: quem está fadado a ler outra coisa, parte para outra coisa. Quem não está, lê isso e outras coisinhas até o fim da vida. Não tenho nada que ver com isso.

    A questão é outra. Tenho o direito de ter meu tipo de humor e abordar o que bem entendo. O blog é meu e falo sobre o que quiser. Ninguém é obrigado a entender ou concordar. Quanto mais perder seu tempo lendo minhas coisas.

    Não é a primeira vez que abordo temas relativos a esse tipo de literatura, que diverte a mim e a meu círculo de amizades. Os comentários – e as discussões, as discordâncias – são muito bem-vindos, desde que sejam individuais, com um mínimo de polidez e espontâneos – como acredito ser o seu.

    Invasão deliberada oriunda de fofoquinhas em outros pontos da blogosfera, nem a pau, Juvenal. Ainda mais quando não têm nada que ver com o assunto em si – invenção de nomes danadinhos pra vender livro.

    Por isso cortei, senão isso não teria mais fim.

  14. XENTCHE! Fui lá ver a foto da tal Emma Nuseidasquanta! Desde quando a Ana Maria Brega virou escrevinhadora??

    E aquilo ali é Copacabana, muié. Ói lá no fundo o Pão de Açúcar. Tacaram um decô envidraçado no Forte de Copacabana, umas frô e apagaram o Pavão-Pavãozinho ao fundo no photoshop. Só.

  15. Paulo, falou e disse.

    Quem quiser ler esse livrinhos e se divertir no water-closet, que faça bom proveito, mas não venha aporrinhar nosso sacrossanto saco.

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