Quando leio que Paulo Coelho virou nome de rua em Santiago de Compostela, esta fotinho, que tirei há duas semanas em uma rua na Vila Mariana, torna-se mais do que uma coisa engraçadinha. Vira um verdadeiro alívio.
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Cantinhos
Em alguma esquina dos Campos Elísios.
Arte para quê?
Este é o título de um livro da Aracy Amaral (aliás muito bom, tanto quanto sua autora, que aliás foi uma das curadoras da exposição Tarsila Viajante) que tenho aqui na minha estante, e foi logo desse título que lembrei quando vi essa coitada lá na Pinacoteca.
Cheguei a pensar que a fofolete estava encardida de cigarro, mas logo dá pra perceber que os amarelados são pontuais. E bota pontuais nisso!
Nem peguei a ficha da coitada. Mas ela merecia um restaurinho, não? Um bom-bril? Um jato de areia? Não, muito invasivo. Acho que o lado verde de uma esponja com Veja Multi-uso Campestre cheirinho de limpeza já resolvia.
Mais uma paulistana bonitona
Como se sabe, Claudia Matarazzo é chefe de cerimonial do Palácio dos Bandeirantes. Até que me provem o contrário, ela é a pessoa mais habilitada para o cargo atualmente: é jornalista, manja de etiqueta desde o berço e nem por isso está numa redoma de luxo, como a alienada Gioconda, personagem de Marília Pera em Duas Caras. E o fato de ser irmã do secretário Andrea Matarazzo não diminui uma linha de seu vasto e bom currículo profissional.
Pois bem: com a proximidade do Natal, Claudia esteve às voltas com a escolha de um presépio para o Palácio e quase caiu pra trás quando lhe apresentaram orçamentos fantásticos; um deles chegou a 50 mil reais – é a 25 de Março “se achando”. Ela deu um basta e acabou optando por uma solução mais barata: pediu emprestado ao Museu de Arte Sacra o Presépio Napolitano (que havia pertencido a seu tio, Ciccillo Matarazzo).
O Presépio Napolitano, criado no século XVIII e que retrata o cotidiano de uma aldeia napolitana e vai se transformando até chegar no ambiente (físico e cultural) da manjedoura em Belém, é um dos maiores do mundo. São 1.620 peças, distribuídas por – calculo – uns 10 metros. Pude conhecê-lo recentemente, e fiquei encantada. À medida que a paisagem se distancia na profundidade, o tamanho das peças segue uma perspectiva, dando a impressão de uma paisagem real. Os tijolinhos, as casas, as pessoas, os objetos são bem maiores de perto, e os do fundo são menores, como se estivessem a vários metros de distância, quando na verdade estão no espaço de um metro e meio, dois. Não tenho informações de como se armava a paisagem celeste antes de o presépio ser doado ao Museu, mas hoje há um esquema de luzes, que vai mudando conforme a hora do dia: à “tardinha”, a paisagem se enfeita com mil estrelas.
Os detalhes são tão perfeitos, tão perfeitos que a gente até nem percebe as restaurações ocorridas desde que Ciccillo o doou à cidade, no final dos anos 1940. A partir daí, a montagem começou a ser feita na Galeria Prestes Maia. Juntou-se ao acervo do Museu de Arte Sacra em 1985. Ficou catorze anos encaixotado, em 1999 foi remontado após restauração feita por uma equipe da UFMG, e desde então sua exposição é permanente.
- Fotos: Claudia Matarazzo (TribunalDigital; não achei nenhuma foto melhor que lhe fizesse jus); Ciccillo Matarazzo (reprodução do livro O Presépio Napolitano de São Paulo, via Vejinha On-line); Presépio Napolitano (USP): parte final, da manjedoura; e detalhe da aldeia.
- Para saber mais: José Roberto Walker, O Presépio Napolitano de São Paulo (São paulo: Retrato, 2002).
- Museu de Arte Sacra de São Paulo: Avenida Tiradentes, 696, ao lado do Metrô Tiradentes. Terça a domingo, das 10 às 17h. O MAS tem uma coleção de presépios, além de peças sacras muito interessantes. No meio do caminho, pode-se espichar o olho para o recolhimento das Irmãs Concepcionistas, no Mosteiro da Luz, e de quebra andar um pouquinho pelo pequeno cemitério das religiosas – coisa mais despojada não há -, onde também está a sepultura de Frei Galvão. Elas assistem à missa na Igreja da Luz através de uma treliça, sem qualquer contato com o público, a não ser pelas “pílulas” do Frei que elas mesmas confeccionam -papéis enroladinhos com uma oração de Nossa Senhora. Passo.
Um cantinho de nada
Extensão do jardim do Centro Cultural Vergueiro. Avançando pelo fundo, em um desnível considerável, está a avenida 23 de Maio. Na frente, a rua Vergueiro. Entre os prédios encobertos pelas árvores está o complexo da Beneficência Portuguesa, para onde vai o viaduto de gradinhas azuis que corta a foto.
Bom pra andar, pra dar uma paradinha…
Violinista no mezanino
Isso aqui não é propaganda, porque o Sebo do Messias é algo tão natural em São Paulo quanto o churrasquinho grego ou dizer “páááára, mêêêêuuu!!!
Ele está dispersado em várias lojinhas e lojonas na região da Praça João Mendes, e mantém ainda as tão atraentes banquinhas de um real, atividade em extinção e que transforma, a mim e a Raquel, em duas ratazanas.
Esta foto eu tirei (com a anuência do Messias em pessoa) na loja principal. Desde há algum tempo ele tem aberto o mercado de trabalho para jovens instrumentistas. Outro dia vi um rapaz no piano. E desta vez, um violinista. Pode ser até que sejam a mesma pessoa, não sei.
O que sei é que, se por um lado a música ao vivo dá um ar majestoso à atividade de refocilar em livros velhos, por outro perturba um pouco. O repertório, que sai de Mozart e entra, com a maior naturalidade, em Reginaldo Rossi e Abba, me desvia a atenção pela variedade estupendamente democrática.
De qualquer maneira, gosto muito de freqüentar esse e todos os demais sebos da região do jeito que são. Ruim será no dia em que o Messias resolver montar uma megastore na avenida Nações Unidas e botar um repertório muderno, afinado com os anseios intelequituais médios. Uma coisa meio Ana Carolina ou Lenine. Aí danou-se!
Ária solo
– Oi… Tudo bem?…
– …
– Você está chateado comigo? Ah, desculpa, vai, não faz essa carinha… Eu me atrapalhei no serviço e me atrasei.
– …
– Pôxa, não fica com esse beiço! Você está cansado de saber que o trânsito é complicado, e hoje não tinha metrô, e peguei um ônibus que demorou à beça, e…
– …
– Tá bom! O que posso fazer para me redimir? Quer pegar um cineminha pra ver aquele filme do Van Damme que eu não queria ver? Vâmulá, eu vou com você, e juro que não durmo!
– …
– Cara, pô! Eu trabalho, sabia? Tive de virar a noite pra terminar aquele trabalho e meu dia atrasou todo!
– …
– (com as mãos na cintura) Eu pago as minhas contas, se é que você sabe o que é isso! Não tem servicinho público de moleza pra me bancar, não! E você, me conta??? O que é que você faz nessa droga de vida que leva?? Seu papel é ficar aí, imóvel, se ofendendo com qualquer coisinha! Vai pegar um torcicolo, isso sim!
– … (na praça Ramos, tudo mundo já começa a olhar).
– Cacete! Quer saber de uma coisa? Eu vou embora! Não quero mais saber de olhar pra sua cara, tá sabendo? Vou cuidar da minha vida e encontrar um idiota que PELO MENOS divida a conta, porque estou cansada da sua parvoíce. Humpf! “Profissão: cagador de regras!”. Eu sou uma trabalhadora! Tra-ba-lha-do-ra!!!!!!!! (o povo já fez uma rodinha na escadaria do teatro)
– …
(a multidão se dispersa lentamente, à procura de outro espetáculo de rua).
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Foto: Gárgula mal-humorada na fachada do Teatro Municipal de São Paulo, Praça Ramos de Azevedo.
Um cantinho de nada
O melhor das cidade são os cantinhos. São os lugares pelos quais sempre se passa correndo, que não saem nos jornais, que não viram exemplo arquitetônico de nada.
Esta é a lateral de um edifício residencial na rua Dona Veridiana, já chegando em Santa Cecília. A impressão que dá é que o portão não é aberto há muito tempo. Garagem não é, pois há esse canteiro com uma árvore, bem em frente. As plantas o invadem, o que o torna ainda mais bonito.
O mais bacana é que ele é o que é. Nunca almejou nada, nunca foi desprezado a ponto de ser removido; está lá porque deve estar e pronto. Ele é a personificação do tempo que nunca interferiu em nada, do tempo que não foi acusado de degradar ou modernizar coisa alguma. O tempo tempo.