Falta de foco

Todo fato deve ser analisado à luz do que realmente é, e não da gritaria geral, não é mesmo? Acabo de topar com uma notícia na Folha cuja manchete é: “Prefeitura de SP paga entidades da saúde por consultas não feitas“.

Daí neguinho vai lá e pensa: “humm, como as OS são safadas, com querem roubar!!” (sim, o serviço público é um baluarte da honestidade…), naquela mania horrorosa de não ler tudo, não ler direito, não ter nem histórico pra pensar no assunto.

Daí você vai lendo com paciência e percebe que impõe-se nesse caso, mais uma vez, um problema sério: a falta de especialistas, a desvontade médica de trabalhar láááá no Marsilac, enfim, a falta de estratégia geral do poder público, que não se preparou para a avalanche de gente que subiu na vida (artificialmente ou não) e agora pode marromenos tratar suas mazelas como um ser humano comum.

Isso tem, mas lá no finzão da matéria é que vem o pior, a principal causa dessa defasagem de atendimento, o que já era um drama geral, especialmente no serviço público direto de saúde: a mania das pessoas de faltar a consultas e exames.

A marcação de consultas e exames na rede pública é um troço bem mais dramático do que no serviço privado (particular e convênio). É muita gente pra atender, os funcionários se viram num sistema que por decreto é pesado, lento, confuso e tão defasado quando um site da Receita Federal. Daí que pra agilizar a agenda do médico do dia fica impossível. Não há uma alma sequer disponível no posto de saúde ou na coordenadoria ou no hospital pra fazer a fila andar, pra telefonar e realocar pacientes, pra cobrir rapidamente aquela consulta esvaziada, ou mesmo pra confirmar consultas com um dia de antecedência.

Existe uma realidade que nunca vai mudar: existem pessoas organizadas e pessoas confusas. Mesmo pessoas confusas às vezes conseguem se programar para uma consulta dali a quatro meses, mas muita gente se embanana, por vários motivos: ou é confusa mesmo e esquece, ou finge que esquece porque o psicológico dela quer fugir de certas realidades. Tem de tudo, tem no mundo inteiro e não dá pra mudar isso.

O que dá pra mudar é a maneira de lidar com isso. A rede pública (OS incluídas) não pode mais agir como se fosse um ente superior que faz um grande favor em atender as pessoas, faltou, faltou, azar o seu. Tem de ser do interesse do Estado que a pessoa venha se tratar.

“Ah, mas é muito difícirrr, a gente trabalha muito e…”. Entendo. Então sindicatinho e associações, em vez de só se preocupar com vale isso vale aquilo, poderiam se reunir com as direções e o Estado e bolar uma fórmula de evitar tanto absenteísmo.

“Mas como? como? COMO”?

Pergunta ao Einstein, oras… Ou você acha que lá também não tem paciente que dribla consulta?

Na hora do vamuvê, São Paulo

Eu meço – eu; não sei os outros -, eu meço cidades pela disponibilidade de café expresso em boa fatia da periferia. Se tem, é uma metrópole; se não tem, não é. Sinto muito, não há desculpas para privar uma alma de tomar um café expresso onde quer que esteja. Outro dia entrei cambaleando de sono na padaria, pedi um pão na chapa com café mas esqueci de especificar. Lá me veio o café comum, de copo. Tomei porque era cedo e porque não tenho chiquê. Mas não foi uma epifania, não.

Folha de hoje:

Apesar do interesse internacional pelo Rio devido à Copa e à Olimpíada, em janeiro, a sede do “New York Times” pediu a seu correspondente no Brasil uma longa reportagem sobre cultura e estilo em São Paulo.

Também no início do ano, a chefe do escritório da CNN no Brasil, Shasta Darlington, decidia qual cidade seria alvo de uma série de reportagens: São Paulo ou Rio? Ganhou São Paulo.

As reportagens saíram nas últimas duas semanas, no jornal e na TV. O viés foi francamente positivo. “A nova nova São Paulo”, deu o “NYT”. Na CNN, “São Paulo: capital cultural do Brasil”.

[…]

“O centro é a parte de São Paulo que mais me fascina”, diz o correspondente Simon Romero, do “NYT”, que morou na Bela Vista, região central, nos anos 90 e hoje dirige o escritório do jornal no Rio.

Já quando a CNN precisou decidir onde estabelecer seu estúdio no país, há dois anos, optou por São Paulo, com vista para a Marginal Pinheiros.

“Decidimos que era mais sério criar o escritório na capital financeira”, diz Darlington. “Adoro o Rio, mas queremos tratar o país com uma cobertura mais séria.”

Outra face da cobertura internacional sobre São Paulo é a imagem de sua opulência financeira, destacada regularmente, por exemplo, no “Wall Street Journal”.

O jornal econômico chegou a eleger no ano passado um “símbolo oficial do boom de investimento” no Brasil: a torre Malzoni, na avenida Faria Lima, onde se instalaram o banco de investimento BTG Pactual e o Google.

Outros símbolos poderiam ser os restaurantes de cozinha premiada e os helicópteros em revoada às sextas, lembrados pelos correspondentes do “Financial Times” e da “Economist”.

MUNDO LIVRE

Com tais imagens sendo transmitidas ao mundo, São Paulo tem como conquistar a grande feira mundial Expo 2020? E o que a campanha lançada por Gilberto Kassab (PSD) no final de seu mandato e abraçada agora pelo prefeito Fernando Haddad (PT) poderia destacar?

Para o publicitário Nizan Guanaes, a cidade “tem algo que não é tangível, que é a energia de São Paulo, uma energia do novo mundo, livre, de uma cidade plural”. Grande rival na disputa, “Dubai não tem isso”. Também não tem sua “criatividade”.

Outro ponto para Guanaes é a necessidade de São Paulo contornar a burocracia, espelhando-se na experiência do Rio para a Copa.”Se São Paulo vai querer ser competitiva, não pode ficar num mar de regras”, diz ele.

O arquiteto e urbanista Jorge Wilheim vai pela mesma linha. A cidade “é considerada uma metrópole criativa, dinâmica”, e “é preciso saber mostrá-la sublinhando as suas peculiaridades”.

Pragmaticamente, defende destacar as “boas condições de turismo receptivo” e, entre as lições cariocas da campanha pelos Jogos, a presença do presidente Lula na busca de votos para a cidade.

Problemas não faltam, admitem o publicitário e o urbanista, citando infraestrutura como exemplo.

Já a chefe do escritório da CNN, moradora de Pinheiros, aponta um desafio principal, se São Paulo quer atrair eventos: “Sem melhorar o transporte, não é uma cidade boa nem para morar”. (aqui)

Bem, a moça da CNN não experimentou morar em Madureira. Fora isso, eu acho que até o IDH da ONU é mais especificador do que as comparações brutas do IBGE que temos entre cidades brasileiras. Talvez as editorias dos jornais estrangeiros tenham percebido isso e, indiretamente, ajudem na candidatura de São Paulo à Expo 2020. Assim espero.

Chovendo no molhado

De Sonia Racy, hoje no Estadão, com um título irônico:

Inspiração

A Prefeitura fez as contas. Duas mil pessoas que vivem nos albergues da cidade… trabalham.

Com base neste dado, Haddad lançou, ontem, o programa de formação profissional para população de rua.

Ora, ora, nem sei se outro prefeito não recorreria à mesma patifaria, mas é como se Haddad em pessoa chegasse até mim e dissesse: “Nossa! Ficamos sabendo que você é revisora, por isso estamos lhe oferecendo um curso de revisão inteiramente grátis.”

Nesse e em outros casos, o sistemão político-administrativo passa longe de fazer a leitura certa, mas adere alegremente à que convém.

Se 2 mil pessoas trabalham e vivem em albergues, é porque NÃO TÊM COMO MORAR em lugar algum. Seja pelo alto preço dos aluguéis ou pela impossibilidade existencial brasileira de adquirir um cantinho.

Das quatro, uma:

1) Ou o Brasil se emenda e para de mandar mendigo pras cidades grandes (sim, boa parte da mendicância vem de cidades pequenas, onde ninguém dá esmola e a prefeitura não incentiva sua estada).

2) Ou a Prefeitura bola umas quitinetes onde a pessoa possa morar de graça, ou pagando um aluguel simbólico.

3) Ou a Prefeitura dá essas quitinetes, cuidando que não sejam objeto de especulação, e sim de moradia de fato.

4) Ou deixa tudo como está, incentivando o estudo para termos doutores coalhando as calçadas da metrópole.

Depois das eleições, surprises!

Se der curiosidade, dá uma olhadinha nessa matéria da Folha:

Trânsito piora e SP se iguala ao Rio no trajeto casa-trabalho
Moradores das metrópoles brasileiras enfrentam trajetos de casa para o trabalho entre os mais demorados do mundo –e, na maior parte dos casos, em tendência de piora. Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) constata que a Grande São Paulo passou a ter o trajeto mais demorado do país, ultrapassando a região metropolitana do Rio de Janeiro. (segue)

Que coisa, não? Passei anos da minha vendo noticiários sobre as – horrorosas – características únicas do trânsito em SP e sem entender muito bem. Afinal de contas, morei no Rio por muitos anos e gastei foi traseiro em horas intermináveis dentro de ônibus. Sem ar-cond e com direito a campeonatos de curva, dessas de atritar a carroceria no asfalto e sair faísca. Onde morava, no Méier, não há Metrô, não há vias rápidas como em São Paulo. Enfim, não há nada, porque, you know,  para o poder público carioca só existe a Zona Sul. Pra você do Méier ir ao centro da cidade de buzunga, gasta-se mais ou menos 50 minutos ou mais, dependendo da hora do dia. Pra você ir do Méier à rodoviária, então, é um suplício. Não há metrô e o ônibus é um cata-mendigo, vai balançando e você chega moída. Isso porque o Méier é uma espécie de Tatuapé em termos de distância do Centro. Imagina um ente que mora na Baixada Fluminense, em Duque de Caxias… Daí é claro que quem pode vai de carro.

A sorte do Rio é que muito pouca gente pode. A população de periferia é infinitamente mais pobre que a de SP. Ninguém tem dinheiro pra carro, então vai é de trem mesmo. Sim, aqueles mesmo que você vê normalmente apinhados de gente na TV. E busão. Se a população do Rio tivesse o mesmo poder aquisitivo, ou o animus financiandi de SP, o Rio entraria em colapso – o que não ira querer dizer muita coisa para o governo e a prefeitura locais, como se pode depreender, por exemplo, da triste área de saúde fluminense.

O gráfico faz parte da matéria, e surpreende ainda mais. Quer dizer que durante todo esse tempo rolou um estigma muito bem trabalhado de que o carioca vivia flanando, que a vida lá era boa, e que o inferno estressante era aqui?

Entendo. Não é à toa que o Cristo está de costas para a Zona Norte.

De qualquer modo, é curioso que só agora comecem a sair esses comparativos. Tenho cá pra mim que, agora, com essa questão dos royalties e uma possível nova configuração política, ficaremos sabendo de muitas outras (e novas!) escabrosidades cariocas/fluminenses.

O beija-mão papal

Passei por 1, 2, 3, 4… 5. Este é o quinto papa que vejo assumir, e pela primeira vez – acho que com um monte de gente foi assim – me interessei um pouquinho pelo tema, talvez porque ele tenha mudado de contexto.

Tem sido destacado por aí que ele parece ser um cara simples, numa automática – mas não comentada – conclusão de que os anteriores não o eram.

Até acredito que João Paulo II e Bento XVI fossem mais simples do que o ritual exige, mas, se assim era, eles não reclamaram.

Tudo isso porque hoje acordei e deparei com um beija-mão papal interminável, e pensei: Coitado, no final do dia estará exaurido. Era algo que poderia ser cortado, porque não traz benefício nenhum para a Igreja nem pra ninguém.

Quem são essas pessoas? Qualquer um. Tanto em beija-mãos como em audiências, são apenas humanos fazendo o que mais bem sabem fazer: bajular, tentar uma aproximação, pedir um favor, ou simplesmemente vê-lo de perto.

Para além dos jornalistas, detentores de cargos, freiras encantadas e viajantes, o tipo que mais me causa espécie é o “crente papista”, aquele que ancestralmente cindiu sua crença mas que nunca deixou de pagar pau pra Santa Sé. Confesso que isso me causa certo desprezo, porque você tem de assumir suas escolhas, não? No crentismo tradicional, pelo menos em teoria, há um Deus único, e seu intercessor é só Jesus Cristo. Portanto, não entendo a fixação em relação ao sentido de “pertencimento” através de um só canal – o papista.

Não que não se deva respeitar a IC, à la bispo Macedo, não é isso. Não precisa odiar, mas também não precisa ficar animadinho. Existe por parte de alguns muitos “excluídos” certo sentimento de fundo, aquela coisa de “querer voltar ao ninho”, um misto de saudade e de celebritismo, como vimos recentemente. Um apego à tradição? Um apego ao ritual? Então isso não é religiosidade, é qualquer outra coisa.

(Sim, estou pensando nos gays tb.). Repito: cada um faz e arca com suas escolhas, e nem por isso precisa se sentir um pária. Se a escolha X o exclui de certas “regalias”, paciência.

Não estou no time que acha que a Igreja – qualquer uma – deva refazer sua doutrina para atender a demandas sociais e a freis abilolados. Igreja não é Estado, embora ambos se confundam de vez em quando.

Foto: Michael Sohn/Associated Press (Folha).

RIP Wilson Fittipaldi

E a mensagem de Emerson Fittipaldi no Facebook:

Minha Querida Família, meus queridos amigo, e queridos fãs,
Nosso patriarca o Barão Wilson tem lutado muito é um guerreiro, um vencedor! Todos nos viemos dele e da minha querida mãe Juze, outra guerreira que já lutou muito na vida e nos últimos dias. No dia 24 de outubro de 2006 nos deixou para descansar na vida eterna, encontrando Deus e Jesus e encontrando la todos os nossos parentes. Ontem falei no ouvido do meu pai que linda familia que ele formou e que todos nos estavamos torcendo e orando para que ele melhorasse e que Deus sempre amou a nossa familia e ele tambem. Foi nesse momento que ele pela primeira vez e única desde que esta internado abriu os olhos, balançou a perna, movimentou a boca, era um sinal de amor para essa família grande e querida. Eu a Rossana e a Tania ficamos muito emocionados com a mensagem de amor e agradecimento, foi lindo!! Ontem ele ja não respondeu mais, esta nas maos de Deus. Ontem pela manhã ja fizemos uma oração com ele e depois de escrever essa carta vamos voltar ao hospital. Por favor orem pelo nosso patriarca o Barão.
Ele ama muito voces meus filhos e filhas, minha mulher querida, meus netos e netas, noras e genros, meu irmão, meus sobrinhos e toda essa família linda que somos, voces terão muito orgulho do homem que ele sempe foi, um marido, um pai , um avô, um bisavô exemplar que ama muito vocês. Deus chamou meu querido pai hoje à uma da manhã. O Brasil e o automobilismo perdeu essa pessoa que tanto amou esse esporte fantástico e que graças a ele eu entrei nesse esporte que eu amo muito para o resto da minha vida, devo tudo ao meu Pai e minha Mãe por terem me levado à esse esporte! Amo muito meu pai, nosso patriarca Emerson Deus abençoe. 04/08/1920 11/03/2013

Uma visão evangélica do mundo

Entrevista interessante com Clodovis (nem sei como se pronuncia esse nome) Boff, irmão de Leonardo Boff, sobre a Teologia da Libertação e de como a rejeita hoje. Um trechinho e o link:

Nos dois documentos que publicou, Ratzinger defendeu o projeto essencial da Teologia da Libertação: compromisso com os pobres como consequência da fé. Ao mesmo tempo, critica a influência marxista. Aliás, é uma das coisas que eu também critico.

No documento de 1986, ele aponta a primazia da libertação espiritual, perene, sobre a libertação social, que é histórica. As correntes hegemônicas da Teologia da Libertação preferiram não entender essa distinção. Isso fez com que, muitas vezes, a teologia degenerasse em ideologia. […]

A igreja não é como a sociedade civil, onde as pessoas podem falar o que bem entendem. Nós estamos vinculados a uma fé. Se alguém professa algo diferente dessa fé, está se autoexcluindo da igreja. […]

Bento 16 garantiu a fidelidade ao concílio. Ao mesmo tempo, combateu tentativas de secularizar a igreja, porque uma igreja secularizada é irrelevante para a história e para os homens. Torna-se mais um partido, uma ONG. […] (íntegra)

Vale a pena dar uma lida. Não entendo de catolicismo, mas aprendi alguma coisa sobre Evangelho. Como o “a César o que é de César”, que não se resume a moedinhas. E que o Evangelho é algo bem acima de condições financeiras. Salvação é para os ricos também, e essa é uma das portas aparentemente “ilógicas” para entender a coisa.

Imprensa/opinião: uma pasta cada vez mais pastosa

Ô, últimas semanas! Morre um, morre outro, renuncia um terceiro, e vamos assim.

Mas entre Caracas e o Vaticano, ficamos em São Paulo. Na última quarta-feira ia caminhar cedo, rolando vielas abaixo até o Alto de Pinheiros, mas mudei o trajeto rapidex. Não queria nem sentir o cheiro da paçoca que se formou à volta do prédio onde o rapaz se confinou para cheirar até bater as botas e “comoveu todo mundo com sua história de vida sofrida”.

Veja bem – não estou censurando “fãs” – aqueles fãzinhos de verdade, que curtiram a música do rapaz esse tempo todo, e tal. Eles têm direito à sebosidade pseudopoética, ao momento de emoção exacerbada e cafona, assim como – confessemos – eu e você tivemos em overdoses d’antanho.

O que não dá pra compreender – na minha opi – é a imprensa e as “opiniões abalizadas” entrarem nessa. Jornal pra mim é para informar, não para dar palhinha pra choro. Até vá lá fazer matéria cor-de-rosa, mas comprar versão de que o rapaz passava por momentos difíceis e por isso aconteceu X, não cola.

Também não cola o discursão desculpístico de que pessoas mergulham nas drogas porque têm problemas. Não existe essa de “minha mãe morreu, logo vou cheirar minha primeira carreira de cocaína”. É chato dizer isso, mas as pessoas começam qualquer vício por pura diversão. Daí em diante, dependendo do tipo de onda, pautam sua vida por isso, até que um dia pode rolar uma overdose. Se isso aconteceu com o rapaz da esquina ou com alguém do outro lado do mundo, faz parte. Mas, só porque o rapaz ia pra cima de um palco e cantava mimos heroicos, os fãs neófitos de vida começarem a dar chilique, aí a pasta engrossa. Uma celeb chamada Tico Santa Cruz soltou um texto-vômito cheio de lugares-comuns sobre a perda de seu ídolo:

[…] Segundo, é que gostaria de saber que moral que tem uma sociedade tabagista, alcoólatra, que consome remédios ( DROGAS ) de todos os tipos – para dormir, para emagrecer, anabolizantes, estimulantes vendidos em farmácias e mais um monte de porcarias legalizadas – para falar do que o cara fez ou deixou fazer. Isso não é problema de ninguém! […]

E no fim, um imperativo: “Reflitam!” Sinto muito, mas não vou lhe obedecer. Não vou perder meu tempo pensando em pessoas que morrem de overdose. “Ah, mas era o Chorão”. Hueda-se, né, meu amigo! Quando Elvis Presley morreu por excesso de qq. coisa, também foi um problema dele e nem por isso apareceu gente vociferando.  Tanta desculpa num texto escrito com o fígado como o citado cheira a defesa. Como diz em outro ponto, “é problema dele”, LOGO ninguém tem de se meter a defender, não é, Tico Santa Cruz?

Pessoas que cheiram cocaína são dadas a achar que estão sendo perseguidas e, ao contrário de maconheiros, por exemplo, dão de quebrar tudo a sua volta. Problema do cara? Claro, desde que tenha dinheiro pra pagar os estragos. Nem sei se isso aconteceu, porque a sociedade tende a desenvolver compaixão por gente que aparece.

O mundo é vário, e há quem classifique as pessoas como poetas. Já eu acho que quando alguém cheira cocaína e começa a zucrinar a vida da família, dos amigos e de qualquer um que lhe passe pela frente, é apenas um viciado em cocaína. Sinto muito. Aliás, não sinto nada.

Imagem: “Sallllldozo” Jimi Hendrix, de um tempo em que se morria e pronto.

Oi…

É, povo. Me deu um tilt, um troço. Ficaria fino, elegante e moralmente bacana se eu dissesse que estava cheia de serviço, ou que compromissos urgentes me afastaram daqui. Não foi. Foi um grande “BASTA”, ainda que temporário (embora, no presente momento, esteja cheia de serviço e, não se engane: estou escrevendo aqui porque deu vontade e, no fundo, para adiar o começo de outro livro).

Não sei o que me deu. Talvez cansaço acumulado, ou os resultados das eleições paulistanas, que – pra não ser blasé ou dar uma de fortinha – doeram pra caramba.

De qualquer forma, ficou muito feio simplesmente interromper as postagens, sem dar satisfaçã. Mas tenho intimidade suficiente com vocês para imaginar que me perdoam. Peço tambem que compreendam daqui pra frente que eu poste menos. Este é o correto, e não um post ao dia, como vinha me propondo a fazer desde o início do blog.

Durante esse tempo, colecionei certa preguiça, suficiente para desencorajar  o elenco das coisicas que vejo em Haddad nesses dois meses à frente da Prefeitura.

As primeironas são o desmantelameto de promessas. Ora, ora, promessas dão errado em qualquer administração de boa vontade, mas aqui é diferente: ele prometeu mundos e fundos que chegavam às raias da cretinice e da mentira – até a loucura de passagem grátis pra todo mundo -, e logo nos primeiros dias de janeiro disse que não dava. Acho benfeito pra quem acreditou, porque pessoa que não liga Tico e Teco na hora de votar merece mais é se lascar.

A segunda coisa é seu bunda-molismo. Vieram as chuvas – uma baita chuva! – e as enchentes, e o sujeito não deu nem as caras. Aceito até cara de pau de político, mas tibieza e covardia, never! E piorou quando ele se justificou: “não adiantaria minha presença nos locais afetados, faço ais aqui no gabinete de crise”. Ora, meu filho, não se trata disso, trata-se de uma obrigação tão universal que não é muito necessário explicar aqui. A presença da autoridade, o conforto do Estado, independentemente de culpas ou não, de tudo – talvez coisas que você não entenda.

A inspeção veicular, essa é a cara do PT. Haddad prometeu acabar com a taxa e, mesmo diante dos alertas da oposição e as redes – de que o custo acabaria sobrando para todos os cidadãos – o cabra foi eleito. Uma vez acomodado no gabinete, viu que a coisa não era tão simples. De lá pra cá, jogou tanta abobrinha pra plateia que, adivinha o futuro? A inspeção permanecerá a mesma. Talvez ele consiga trocar a Controlar por alguma empresa amiguinha (dessas sediadas na Estrada do Barro Seco, s/n.) e daí a taxa aumenta para as despesas de isso e aquilo, reajuste de inflação, um escândalo de corrupção negado, aquela história toda, repetida à exaustão no governo federal.

Não, o tal Arco do Futuro nao sairá. Não, Haddad não cobrirá o déficit habitacional. Não, o tal de Hora Certa na Saúde não encurtará filas (até porque “hora certa” já existe faz tempo). Não, os corredores de ônibus não resolverão o problema do trânsito. E não para todo o resto mirabolante e propositalmente fantasioso, estilo tão caro ao PT.

A cidade é muito complexa pra projetos arrasa-quarteirão e para a “felicidade geral e gratuita” da cidade. Não é assim que se faz. Qualquer paulistano com mais de dois neurônios sabe que as coisas certas são feitas aos pouquinhos. Enquanto isso, eu aqui em orações para que ele não consiga desmantelar as instituições fortes da cidade, aquelas que funcionam por si mesmas, através das gestões.

(Se bem que conseguiram com a Petrobras. Oremos)

Como gerir uma bolada

Nada mais patético que uma pessoa sem verniz qualquer diante de dinheiro a dar com o pau.

Além de tudo o que sabemos, desde plásticas duvidosas até shows idem em cruzeiros idem, Rosemary também achou de bom tom ela mesma comandar a decoração do gabinete de Lula na base presidencial em São Paulo – um andar no prédio do Banco do Brasil, aquele lá na esquina da Paulista com a Augusta.

Ainda estou para entender o racional disso aí, esses quilômetros de sofás (cama?) pretos com almofadas temáticas azuis, que certamente combinam com o painel do tio e com o carpete (touché!).

Na foto não dá pra ver direito (até gostaria de ver mais fotos do ambiente), mas aqueles quadrinhos na parede devem ser imagens do chefinho também.

É certo que o brasileiro médio não tem muita intimidade com quadros na parede, o que me faz imaginar que Rose poderia ter contratado, sei lá,  a cunhada, para dar uma assessoria na coisa e, assim, ter ajeitado pra sempre a vida da parenta mediante módica participação.

Mas não, acho que foi ela mesmo a pendurá-los lááááá em cima, quase no teto, o que me dá certa aflição estética.

Conheci vários gabinetes na vida, uns “mais”, outros “menos”. O que ficou em minha memória foram os aposentos do Bispo Macedo na Rádio Copacabana, no centro do Rio, onde eu trabalhei.

O mesmo caso: “dinheiro sobrando, como vamos gastá-lo?” Você via que era o melhor revestimento, o melhor sofá, o melhor abajur, os melhores móveis, os melhores lustres, o melhor-melhor, numa mistura infeliz para um ser humano de qualidade inferior. Tudo feito por funcionariazinhas, sem qualquer verba participativa.

No caso presente, percebe-se que o arsenal decoratório de Rose nunca passou dos padrões de uma sede de sindicato. Isso aí é um escritório comum melhoradinho. Só.

Imagino até que Rose tenha encomendado tudo do bom e do melhor. Mas perdeu a oportunidade de transformar essa saleta num trono episcopal, e assim multiplicar sua verba intermediatória.

Bobinha…